por Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Quando um cidadão encontra o Partido dos Trabalhadores, encontra um tesouro. Vale a pena vender tudo para comprar o campo onde o tesouro está enterrado. O PT não é o melhor dos partidos políticos. É o único partido verdadeiro. Os outros são simulacros de partido.A alegria de ter encontrado a verdade, faz com que o cidadão, para filiar-se ao PT, renuncie a tudo. Uma vez filiado, ele não terá mais direito de escolher seus candidatos. Seu dever será "votar nos candidatos indicados" pelo Partido. (Estatuto do Partido dos Trabalhadores, aprovado em 11/03/2001, art. 14, inciso VI). Se for candidato a um mandato parlamentar, deverá reconhecer expressamente que o mandato não é seu, mas que "pertence ao partido" (art. 69, inciso I). A obediência ao Partido é sagrada. Está acima de tudo: de suas opiniões pessoais, de suas convicções, das reivindicações dos eleitores. Só em casos extremamente excepcionais, o parlamentar poderá ser dispensado de cumprir as ordens do alto, para seguir sua consciência ou o clamor dos que nele votaram (art. 67 § 2º).Com alegria o filiado pagará anualmente uma contribuição proporcional ao seu rendimento (art. 170). Se ocupar um cargo executivo ou legislativo, a contribuição não será anual, mas mensal, obedecendo a uma tabela progressiva (art. 171 e 173). Mas a alegria de ser filho do verdadeiro Partido faz com que todas essas imposições pareçam leves. Dentro do Partido, zela-se não só pela unidade ("que todos sejam um"), mas pela uniformidade. Frações, públicas ou internas ao Partido são expressamente proibidas (art. 233 §4º). No entanto, os filiados podem organizar-se em "tendências" (art. 233). Estas, porém, estão submissas às decisões partidárias e ao encaminhamento prático do Partido (art. 238). Nenhum filiado poderia, por exemplo, organizar uma tendência para combater o "casamento" de homossexuais ou a legalização do aborto, que são bandeiras do Partido. As tendências não podem ter sedes próprias (art. 235 "caput"), não podem reunir-se com não-filiados (art. 235 §3º) e não podem difundir suas posições fora do Partido (art. 236 §1º). Mesmo que uma tendência deseje publicar documentos seus contendo posições oficiais do Partido, está proibida de fazê-lo (art. 236 §2º). O petista submete-se a todo este mecanismo de controle, ciente de que o Partido sabe o que faz. Se sou vereador e o Partido me proíbe de propor um projeto de lei pró-vida, não tenho motivo para reclamar. O Partido deve ter suas razões. Se sou senador e cabe a mim a tarefa de emitir um relatório sobre um projeto de aborto, eu, por fidelidade ao PT, não posso manifestar-me contra a proposta. Devo agradecer ao Partido por ele, benignamente, permitir que eu passe o encargo de relator a um colega abortista. Se sou deputado federal e o Partido manda que eu me ausente de uma sessão deliberativa, onde meu voto, contrário ao aborto, atrapalhará a aprovação de um projeto, a resignação será minha melhor atitude.Tudo isso e muito mais vale a pena. Pois todos os outros partidos são comprometidos com as oligarquias, com o neoliberalismo, com a classe dos opressores, e não dão importância aos pobres, aos excluídos, aos marginalizados, aos explorados, aos sem voz e sem vez. Pertencer ao PT é uma glória tão grande que justifica qualquer custo. Se sou petista, pouco me importa que Lula e Fidel Castro tenham fundado em 1990 o Foro de São Paulo para fortalecer a ditadura cubana. Não me interessa que, em dezembro de 2001, Lula tenha elogiado o regime comunista de Cuba durante sua viagem a Havana, nem que lá estivessem presentes chefes narco-guerrilheiros colombianos. Se sou petista, não quero saber por que entre os oitos projetos de lei abortistas em tramitação no Congresso Nacional, seis são de autoria do PT. Não me interessa explicar por que nenhum parlamentar petista, desde a mais humilde Câmara Municipal até o Senado Federal, tenha ousado propor um projeto de lei antiabortista. Aliás, o bom petista jamais chegaria até esta linha do artigo. Muito antes já teria parado a leitura por considerá-la perigosa à fé que ele tem no Partido. Fora dessa fé não pode haver salvação. Agora, uma pergunta final, com vistas as eleições de 27 de outubro: pode um cristão votar no PT? Pode. Mas antes ele precisa trocar sua Certidão de Batismo pela Certidão de Petismo. Duas religiões antagônicas não podem coexistir num mesmo fiel.
Quem somos
- PANACEIA POLÍTICA
- Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brazil
- Olá! Somos um grupo de amigos preocupados com os rumos tomados pela nossa insólita Nação que, após anos de alienação intelectual e política que tolheu de muitos a visão do perigo, caminha a passos largos rumo a um socialismo rastaquera, nos moldes da ilha caribenha de Fidel, ou ainda pior. Deus nos ajude e ilumine nesta singela tentativa de, através deste espaço, divulgar a verdade e alertar os que estão a dormir sem sequer sonhar com o perigo que os rodeia. Sejam bem vindos! Amigos da Verdade
segunda-feira, 24 de agosto de 2009
sábado, 1 de agosto de 2009
A Guerrilha do Araguaia, por um participante de bem.
Já que a imprensa colocou o assunto em pauta, é interessante ler (e divulgar) o depoimento abaixo de quem participou das operações. Nele, constata-se como eram "bonzinhos" os "escoteiros" que o PCdoB levou para "acampar" no Araguaia e que hoje recebem polpudas indenizações do Governo...
25/06 - O incrível depoimento do Lício feito na Câmara, em 2005
(Lício é coronel reformado)
O SR. LÍCIO AUGUSTO - Sr. Presidente, Srs. Congressistas, demais autoridades presentes, minhas senhoras, meus senhores, não é preciso dizer da minha emoção por ter encontrado aqui velhos companheiros de luta, que ainda a estão levando à frente.
Como participante dos acontecimentos que passo a relatar, fiz um resumo dos itens mais perguntados; apenas como itens porque a dissertação será a rememoração dos fatos. Para isso, tirei os óculos, a fim de que aqueles que vou citar me olhem bem no fundo dos olhos e tenham suficiente coragem de afirmar, se for preciso, que tudo o que foi dito aqui é a pura verdade. Se bem que não há necessidade, porque eles mesmos já confirmaram em outras ocasiões.
O primeiro item selecionado se refere à razão da minha escolha para a missão de descobrir o local da guerrilha, que hoje se diz Guerrilha do Araguaia.
Em 1969, após a morte do terrorista Mariguella, em São Paulo, em seus documentos foram feitas várias citações sobre o local da grande área: grande área de treinamento de guerrilha.
Eu estava chegando a Brasília em 1968, já pela segunda vez. No meu passado, em 1954, fiz o curso de pára-quedista e, em seguida, o curso de Forças Especiais da Divisão de Pára-Quedistas, e especializei-me na modalidade guerra na selva. Posteriormente, o curso de operações especiais foi desenvolvido com outras modalidades e, em seguida, foi criado o Centro de Instrução de Guerra na Selva, CIGS.
Detentor do curso de Forças Especiais e considerado, à época, o elemento com credenciais para desenvolver as operações de selva, percorri milhares de vezes a rodovia Belém-Brasília, de Brasília a Belém, estrada pioneira de barro. Eu e minha equipe, de 3 ou 4 homens, chegamos à conclusão, por indícios, de que a Guerrilha do Araguaia estava naquela área, entre o Bico do Papagaio, Xambioá, Marabá, Tocantinópolis e Porto Franco.
O fato, porém, que nos permitiu chegar à área foi a prisão, em Fortaleza, do guerrilheiro Pedro Albuquerque. Naturalmente, ele está olhando para mim, e eu estou olhando para a câmera, para que olhe no fundo dos meus olhos e confirme que o que eu estou dizendo é verdade. Pedro Albuquerque foi preso quando tentava tirar documentos em Fortaleza. Recolhido ao xadrez, ele tentou suicídio cortando os pulsos. A sentinela, por acaso, passou, viu, deu o alarme e ele foi levado para um hospital da guarnição.
Recuperado o documento de que ele falou, o documento resultante das declarações de Pedro Albuquerque foi enviado diretamente de Fortaleza para Brasília e chegou às mãos do General Bandeira, que imediatamente mandou buscar o preso. Enquanto eu preparava a equipe, o preso chegou, foi incluído na minha equipe, e partimos, junto com Pedro, para o local onde ele dizia que era o inicial: Xambioá.
Chegamos ao Rio Araguaia, pegamos uma canoa grande, com motor de popa, fomos até ao local de Pará da Lama. Pedro deve lembrar muito dele: era uma picada ao longo da floresta no sentido do Xingu. Andamos o dia inteiro. Chegamos ao anoitecer na casa do último morador, com o Pedro sendo levado por nós, livre. Não estava algemado, amarrado ou coisa assim. Ele foi acompanhando nossa equipe. Há várias testemunhas desse episódio aqui presentes, as quais não vou citar, que fizeram parte da minha equipe.
Chegamos à casa de Antônio Pereira, pernoitamos no campo, nos telheiros e, no dia seguinte, às 4h, prosseguimos em direção ao local onde Pedro Albuquerque indicou. Ao chegarmos lá, avistamos três homens, isto é, três elementos, sendo uma mulher, descansando para almoço, presumo.
Aproximamo-nos do local só para conversar com eles, para saber o que eles estavam fazendo lá. Eram três e, no nosso grupo, havia seis; então, não tinha problema. Eles fugiram. Chegamos ao local. Fiquei inteiramente abismado com o estoque de comida, de material cirúrgico; havia até oficina de rádio; 60 mochilas de lona, costuradas no local em máquina industrial grande, que tive o prazer de jogar no meio do açude. Tocamos fogo em tudo e voltei sem fazer prisioneiro.
Ora, em qualquer situação, teríamos atirado naqueles homens. Estávamos a 80 metros, um tiro de fuzil os atingiria facilmente. Eles estavam sentados. Mas nosso objetivo não era matar, não era trucidar. Nosso objetivo era saber o que eles estavam fazendo lá. De acordo com Pedro Albuquerque, eram guerrilheiros. Estavam na área indicada por Pedro Albuquerque, que viu toda a operação.
Como disse, destruímos todos os seus aparelhos; metralhamos uma grande quantidade de frutas - melancia, jerimum e muitas outras coisas. Ficamos inteiramente impressionados com a quantidade de comida que havia lá, várias sacas de arroz; havia até oficina de rádio com equipamentos sofisticados. Era uma oficina rústica, não era como bancada de laboratório da cidade, mas funcionava. O gerador, lá atrás, também funcionava.
Voltamos. Deixamos o pessoal fugir, claro. E o Pedro Albuquerque retornou com dois companheiros nossos e foi recolhido ao xadrez de Xambioá.
Continuamos nossa missão. Como os três elementos fugitivos avisaram para o resto do grupo do Destacamento C, mais ao sul, em frente a São Geraldo do Araguaia, que estávamos indo para lá, ao chegar lá nós os vimos fugindo com muita carga, até violão levavam. Eles estavam se retirando do Destacamento C, do Antônio da Dina e do Pedro Albuquerque.
Pedro Albuquerque nos levou até o Destacamento C, onde havia estado. Ele fugiu porque os bandidos exigiram que ele fizesse um aborto em sua mulher, que estava grávida. Eles não se conformaram com a ordem, principalmente porque outra guerrilheira grávida tinha sido mandada para São Paulo para ter o filho nas mordomias daquela cidade. Ela era casada com o filho do chefe militar da guerrilha, Maurício Grabois.
Pedro, você está me escutando? Você deve-se lembrar de que declarou isso: que você fugiu porque obrigaram sua mulher a fazer um aborto.
Nós estávamos perseguindo esse grupo e estávamos avançando. Embora chovesse bastante, estávamos nos aproximando. Eles resolveram soltar a carga que estavam levando, e o guia, morador da área, me disse: "Agora, nós não vamos pegar eles porque estão fugindo para a gameleira".
E demos uma meia parada, nessa destruição do equipamento deles, quando pressentimos a vinda de alguém na trilha. Nós estávamos andando no meio da mata e esse elemento vinha pela trilha. Nós nos agachamos e, nisso, veio aquele elemento forte, com chapéu de couro, mochila nas costas e facão na cintura. Então, quando ele chegou no meio do nosso grupo, eu dei a ordem: Prendam esse cara!
Não sei, não posso me lembrar, se foi o Cid ou se foi o Cabo Marra que pegou o Genoino. Esse elemento era o Geraldo, posteriormente identificado como Genoino - que naturalmente está me olhando agora. E eu tirei os óculos justamente para ele me reconhecer, porque da minha cara ninguém esquece, principalmente com aquela cara que eu estava na mata, depois de vários dias passando fome e sede, sujo, cheio de barba. Mas é a mesma cara. É o mesmo olhar da hora em que eu encarei ele e disse:
"Seu mentiroso! Confesse! Você não tem mais alternativa".
Por que eu descobri que o Genoino era guerrilheiro? Ele se dizia Geraldo e se dizia morador da área. Claro: elemento na área, suspeito, eu mandei deter. Mesmo algemado e com tudo nas costas, uma mochila pesada e grande, ele fugiu. O Cabo Marra deu três tiros de advertência, e ele parou. Mas não parou por causa da advertência, parou porque se emaranhou no cipoal, e o pessoal foi pegá-lo.
Eu perguntei:
Por que você está fugindo? Nós apenas estamos querendo conversar com você. Para você não fugir, vamos ter de algemá-lo.
"Eu sou morador" - disse ele.
Eu deixei o pessoal especializado em inquirição conversando com o Genoino, até então Geraldo.
O pessoal - inclusive está presente um desses companheiros, o Cid - conversou bastante tempo com o Genoino, quando o Cid veio a mim e disse: "Comandante, não tem nada, não".
Está bom - respondi. Como eu já estava há muito tempo no mato, já tinha resolvido, intimamente, levar o Genoino preso para Xambioá, mas não disse que essa era minha determinação. Peguei a mochila dele.
Havia um elemento na minha equipe que era especialista em falar com o pessoal da área - já falecido -, um elemento excepcionalmente bom. Rendo minhas homenagens a João Pedro do Rêgo. (Palmas.) O João Pedro, apelidado por nós de Jota Peter ou Javali Solitário, onde estiver estará escutando. João Pedro era um homem que falava com o matuto, com o pessoal da área, porque eu, na minha linguagem urbana, não era entendido nem entendia o que eles falavam. O Javali veio a mim e disse:
"Ele não tem nada. É morador da área". E disse-me o que tinha lhe dito.
Eu, como homem de selva, peguei a mochila do Geraldo e comecei a abri-la. Tirei pulôver, rede e um bocado de bagulho da mochila do Geraldo, quando encontrei um tubo de remédio no fundo da mochila. Ao pegar aquele tubo e olhar para o Genoino, vi que ele estava lívido, pálido. Eu ainda lhe disse:
Companheiro, fique tranqüilo porque nós não vamos fazer nada com você, você é morador da área. E abri o tubo. Lá encontrei material típico de sobrevivência - linha de pesca fina, anzóis. Era material típico de sobrevivência. Como eu havia feito um curso e só sabia teoricamente sobre o assunto, interessei-me por aquele exemplo prático, em um local de difícil acesso na selva amazônica. À medida que eu ia puxando aquelas linhas, o Genoíno - aliás, o Geraldo - ia ficando mais desesperado. E quando eu tirei o tubo, olhei para ele, e ele estava branco como papel. E lá no fundo eu vi um papel pautado, de caderneta, dessas que todo dono de bodega na área anotava as suas vendas. Cortei uma talisca do meu lado, puxei o papel e lá estava a mensagem do Comandante do Grupamento B da Gameleira, o Osvaldão, para o Comandante do Grupamento C, Antônio da Dina. Estava lá a mensagem que o Genoino transportava para o Antônio da Dina. Era uma mensagem tão curta que ele, como bom escoteiro que era, poderia ter decorado, porque até hoje, mais de 30 anos passados, eu me lembro do que dizia essa mensagem, mas eu quero que ele mesmo diga o que constava nessa mensagem. Era uma dúzia de palavras em linguajar militar, de próprio punho do Osvaldão, que era o Comandante do Grupamento B da Gameleira, o grupamento mais perigoso da guerrilha, como constatamos no desenrolar das lutas. Foi o grupo que matou o primeiro militar na área. Antes de qualquer pessoa morrer, o grupo do Osvaldão matou o Cabo Rosa, Odílio Cruz Rosa. Depois de esse Odílio Cruz Rosa ser morto, eles mataram mais 2 sargentos e fizeram muito mal aos militares que nada sabiam até então. Só quem sabia era o pessoal de informações. E eu era da área de informações, embora eu operasse à paisana.
Então, o Genoino foi mandado para Xambioá preso. A essa altura ele já deixou de ser detido para ser preso, e disse tudo sobre a área. Quando eu olhei para ele e disse:
Você não tem mais alternativa porque aqui está a mensagem.
Ele disse: "Eu falo".
Eu disse:
É bom você falar. Genoino, olhe no meu olho, você está me vendo. Eu prendi você na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não lhe demos uma facãozada, não lhe demos uma bolacha - coisa de que me arrependo hoje. (Palmas.)
Um elemento da minha equipe, fumador inveterado, abriu um pacote de cigarro, aproveitou aquele papel branco do verso, pegou um toco de lápis não sei de onde, e o João Pedro começou a anotar o que o Genoino falava fluentemente - nervoso como estava, começou a falar.
Eu me levantei do chão, fui até um córrego próximo beber um pouco d'água. Voltei, o papel estava cheio, com toda a composição da Guerrilha - nomes, locais, Grupo C, ao sul; Grupo B, da Gameleira, perto de Santa Isabel; e Grupo A, perto de Marabá. Eram esses os 3 grupos efetivos, em que se presumiam 30 homens por grupamento, além de um grupo militar comandado por Maurício Grabois.
Peguei aquele papel e ainda comentei com ele:
Pô, meu amigo, tu és um cara importante desse negócio aí, hein?
E mandei o Geraldo para Xambioá. Ele foi recolhido ao xadrez, posteriormente enviado a Brasília; em seguida, 3 ou 4 dias depois, não me lembro, veio o veredicto da identificação: o guerrilheiro Geraldo era o José Genoino Neto, presente em frente ao vídeo, olhando para os meus olhos - eu sempre tive olhos arregalados; não foi só lá na mata, não. Os meus olhos sempre foram arregalados, principalmente em combate.
Triste notícia veio depois. O grupo do Genoino prendeu um filho do Antônio Pereira, aquele senhor humilde, que morava nos confins da picada de Pará da Lama, a 100 quilômetros de São Geraldo. O filho dele era um garoto de 17 anos, que eu não queria levar como guia, porque ao olhar para ele me lembrei do meu filho que tinha a mesma idade. Então, eu disse ao João: Não quero levar o seu filho. Eu sabia das implicações, ou já desconfiava.
O pobre coitado do rapaz nos seguiu durante uma manhã, das 5h até o meio-dia, quando encontramos os três nos aguardando para almoçar. Pois bem. Depois que nos retiramos, os companheiros do José Genoino pegaram o rapaz e o esquartejaram.
Genoino, aquele rapaz foi esquartejado! Toda a Xambioá sabe disso, todos os moradores de Xambioá sabem da vida do pobre coitado do Antônio Pereira, pai do João Pereira, e vocês nunca tiveram a coragem de pedir pelo menos uma desculpa por terem esquartejado o rapaz! Cortaram primeiro uma orelha, na frente da família, no pátio da casa do Antônio Pereira; cortaram a segunda orelha; o rapaz urrava de dor; a mãe desmaiou. Eles continuaram, cortaram os dedos, as mãos, e no final deram a facada que matou João Pereira.
Esse relatório está no Centro de Instrução Especializada - CIE, porque foi escrito por mim, e eles não abrem para os historiadores com medo de que o relato apareça.
Pois bem. Eles fizeram isso porque o rapaz nos acompanhou durante 6 horas, para servir de exemplo aos outros moradores, de forma que não tivessem contato com o pessoal do Exército, das Forças Armadas.
Foi o crime mais hediondo de que eu soube. Nem na Guerra da Coréia e na do Vietnã fizeram isso. Algo parecido só encontrei quando trucidaram o Tenente Alberto Mendes Júnior. O Tenente se apresentou voluntariamente para substituir dois companheiros que estavam feridos. A turma do Lamarca pegou o rapaz, trucidou-o, castrou-o e o obrigou a engolir os órgãos genitais. O crime contra o João Pereira foi muito mais grave, muito mais horrendo. E eles sabem disso.Peçam desculpas ao Antônio Pereira, se ele estiver vivo! Tenham a coragem de reconhecer que toda a Xambioá sabe disso!
Genoino preso e identificado, a Guerrilha prossegue. Depois de matar o João Pereira, eles mataram o Cabo Odílio Cruz Rosa; depois do Rosa, eles mataram dois sargentos; depois dos dois sargentos, eles atiraram no Tenente Álvaro, que deve contar a história. Como estou contando a história aqui, Álvaro, conte a sua história.
Na minha versão, o Álvaro deu voz de prisão ao bandido, eles atiram. Outro que estava atrás atirou nas costas do Álvaro, arrancando-lhe a omoplata. Depois desse ferido, houve vários feridos, e finalmente eu fui ferido e tive que sair da área.
Porém, antes, as tropas do Exército saíram da área, vendo que aquele era um movimento mais grave, mais planejado - planejado em Cuba, com as mentes que todos estamos vendo. Sabemos como funciona a mente de um comunista. Um comunista tranqüilo, sem arma na mão, tudo bem. Aquilo é o que ele pensa, e a nossa democracia permite isso. Mas aquele que pega em arma tem de ser trucidado.
Um homem que entra numa mata para combater em nome de um regime de Fidel Castro, esse cara tem que ser morto! (Palmas.)
A Operação Sucuri fez um levantamento de informações: de que se tratava, qual o valor do inimigo, onde ele estava, enfim, todos os itens necessários para que fosse elaborada uma ordem de operações para o combate da Guerrilha. Isso durou 5 ou 6 meses. Já existe literatura muito boa a respeito.
Elementos militares descaracterizados, à paisana, foram postos dentro da mata, desarmados, com identidade falsa, ao lado dos bandidos. Qualquer um de nós, em sã consciência, reconhece que esses homens são uns heróis. Se me derem uma arma eu vou lá caçá-los de novo hoje. Mas, naquela época, se me tirassem as armas e me botassem na mata, não sei não. No ímpeto da juventude, talvez eu fosse, como eles foram. Eram capitães, tenentes e sargentos.
Terminada a Operação Sucuri, já sabíamos de que se tratava, confirmadas todas ou quase todas as informações que o Genoino tinha dado. Três grupos, comando militar e a chefia em São Paulo, sob o comando de João Amazonas - que fugiu da área ao primeiro tiro. Grande valentia! Herói, João Amazonas! João Amazonas fugiu da área ao primeiro tiro, junto com Elza Monnerat. Deixou lá garotos, estudantes e os fanáticos comunistas, tipo Maurício Grabois, que influenciou seu filho, André Grabois, o personagem central do evento que vou relatar agora.
O combate contra o grupo militar da Guerrilha foi comandado por André Grabois. E a esposa dele, a Criméia, que talvez esteja me olhando, diz que houve uma emboscada. Não houve emboscada. Como o Exército saiu da área para fazer operação de informações, a Operação Sucuri, eles cantaram vitória: "Seu Exército é de fritar bolinho". Muito bem, fritamos bolinho.
Já estava na área e recebi a seguinte ordem: "Vá à região de São Domingos a pé, porque de viatura não se chega lá. Eles destruíram uma ponte na Transamazônica."
Eu peguei a minha equipe e fui para São Domingos. Atravessei o rio. A ponte estava destruída, mas atravessei a vau. Cheguei a São Domingos, o quartel estava incendiado. Ao alvorecer daquele dia - se não me engano, 10 de outubro de 1973 -, eles destruíram e incendiaram o quartel. Deixaram todos os militares nus, inclusive o tenente comandante do destacamento, e pegaram todo o armamento, toda a munição, todo o fardamento. Entraram na mata e deixaram um recado: "Não ousem nos seguir, porque o pau vai quebrar".
Infelizmente, Criméia, seu marido morreu por isso.
Pude ver as suas pegadas bem nítidas, porque eles estavam carregados com cunhetes de munição, fuzis da PM, revólveres, e foi fácil seguir o grupo.
No terceiro dia, para resumir, houve um encontro. Eles estavam tão certos de que o Exército não iria lá que estavam caçando porcos. Às 6 da manhã, eu escutei o primeiro tiro e o grito dos porcos. Às 15 horas houve o combate. Vejam bem o espaço de tempo: de 6 da manhã às 15 horas.
Eu estava a menos de 10 metros do primeiro homem, que era o comandante do grupo, André Grabois, filho de Maurício Grabois. Ele estava sentado, com o gorro da PM que tomou do tenente na cabeça, e vi que tinha a arma na mão. Olhei para os meus companheiros, que vinham rastejando, e perguntei: Será que vamos encontrar um bando de PMs aí? Olhei, eles entraram em posição, e eu me levantei. Quase encostei o cano da minha arma em André Grabois: Solte a arma. Ele deu aquele pulo, e a arma já estava na minha direção. Não deu outra. Os meus companheiros, que chegavam, acertariam o André, caso eu tivesse errado, o que era muito difícil, pois estava a um metro e meio, dois metros dele.
Foi destruído o grupo militar da Guerrilha. Todos eram formados na China, em Pequim, em Cuba. Não me lembro do nome de todos, mas citarei alguns: André Grabois; o pai, Maurício Grabois, que mandou o filho fazer curso em Cuba; o Calatroni, o Nunes. O João Araguaia se entrincheirou atrás de um tronco de árvore e não se mexeu, depois do tiroteio, saiu correndo, sem arma. Ninguém atirou no João Araguaia porque ele estava sem arma. O Nunes estava gravemente ferido, mal falava e, quando o fazia, o sangue corria pela boca, mas ele conseguiu dizer a importância do grupo e citou os nomes - não sei se nome ou codinome - de todos eles: o Zequinha, ele disse: esse é o André Grabois. Estava morto.
Esse foi o primeiro combate de valor contra os guerrilheiros, mas foram desmoralizados. Eles diziam para os soldados não entrarem na mata porque os oficiais não entravam. Ora, o próprio acampamento dos militares ficava no meio da selva.
Em seguida, ocorreu o incidente do dia 23 de outubro, 10 dias depois.
Continuando na perseguição ao bando, encontramos pegadas nítidas no chão de um grupo numeroso. Esse grupo do Zé Carlos era do Grupamento A. Fomos encontrar as batidas, depois, soubemos que era do Grupamento B, do Osvaldão. Então, eu já estava a menos de 100 metros do grupo. O guia já estava saindo para a retaguarda. O guia era morador. Ele não tinha nada com a guerra. Ele estava lá auxiliando o Exército a pegar os "paulistas", que era como eles chamavam os guerrilheiros. Quando o guia começou a retrair, vi que a coisa estava feia, e continuei. Nisso, um dos guerrilheiros retorna, volta inesperadamente, e deu de cara comigo. Eu agachado e ele olhando para mim. Foi quando dei ordem de prisão para ele: Mãos na cabeça. Ele levantou uma mão, e foi quando vi que era uma mulher. Ela levantou uma mão fazendo sinal de... para eu ficar olhando para a mão enquanto ela desamarrava o coldre. Dei 3 ordens de prisão, mas ela não obedeceu. Quando eu vi que ela estava desamarrando o coldre ainda dei 3 ordens para ela - Não faça isso - gritando, pois sempre falei alto, meu tom de voz é esse. Quando ela sacou a arma vi que não tinha jeito e atirei. Acertei a perna dela e ela caiu, caiu feio. Ela não caiu, desmoronou. Ela deu um salto como se tivesse recebido uma patada de elefante. Ela caiu uns 3 metros depois, tal o impacto. Eu corri, ela não estava mais com a arma, estava nos estertores da dor, chorando e gritando. Eu disse: Fica calma que vamos te salvar. Olhei a arma, a selva muito cheia de folhas, não achei a arma. Meu erro: não deixei um sentinela com ela. Éramos poucos, eles eram vinte, eu precisava de gente.
Continuamos a perseguição do grupo, e eles atravessaram o córrego. Resolvi voltar, já estava escurecendo. Quando me agachei ela me atirou à queima roupa. Ela me deu um tiro na mão e acertou na face, que atravessou o véu palatino e se encaixou atrás da coluna, e eu caí. O outro tiro que ela deu acertou o braço do Capitão Curió, Subcomandante da minha equipe. O restante da minha equipe revidou, claro, encerrada a carreira de bandido da Sônia, nome da guerrilheira. Fui carregado em uma rede e transportado na mata.
Altas horas da noite, os soldados que estavam me carregando passaram os seus fuzis para o outro do lado. E o que ia levando 2 fuzis, um fuzil batendo no outro, fazia muito barulho na mata. E era um barulho que se propagava muito a longa distância. Eles armaram uma emboscada, teria sido o fim. Mas, aquele companheiro, com o qual eu brigava tanto pedindo que deixasse de fumar, nos salvou. Ele, que assumiu o comando da equipe, pediu para parar para dar uma pitada. Isso, a uns 50 metros da emboscada. Paramos e ficou aquele silêncio. Eu fui estendido no chão, dentro da rede, sangrava muito, quase desacordado.
Eles, então, achando que havíamos pressentido a emboscada, aqueles valentes guerrilheiros, fugiram. Claro que eles teriam matado todos nós. Não tenham dúvida. Nós estávamos completamente sem atenção. A minha equipe estava levando o seu comandante quase morto para o primeiro local onde a ambulância poderia alcançar. Na localidade de São José, eles pediram uma ambulância para levar um ferido. De São José, a ambulância me levou para Bacaba, de lá para Marabá e de Marabá para Belém, onde passei uns dias para me restabelecer e ter condições de viajar. Depois fui levado para Brasília onde fui operado. A operação se revestia de cuidados especiais, porque, do contrário, eu ficaria paraplégico para o resto de minha vida. Graças a Deus, as seqüelas foram muito menores e hoje eu estou falando aos senhores aqui, com muita honra.
É muito difícil falarmos em conclusões de uma luta de 4 anos. Citarei apenas 2 itens das conclusões. Permitam-me que os leia. Por isso, coloquei os óculos. Não há mais necessidade de os bandidos me olharem no fundo dos olhos. Estou à disposição deles, a qualquer momento. Quem quiser confirmar comigo o que disse, o meu endereço está na Internet. Terei muita satisfação em olhar no fundo dos olhos deles e repetir tudo o que acabei de dizer aos senhores: nada temos a esconder.
Primeira conclusão: tenho imenso orgulho de ter participado dessa luta, por ter agido positivamente para evitar que os guerrilheiros do PCdoB implantassem no País um regime comunista igual ao de Cuba, com paredão e tudo - e esse risco não acabou.
Segunda conclusão: além de prestar homenagem às bravas esposas dos militares, tanto daquela época quanto da atual, estendo aos membros da minha valorosa equipe a honra de que estou sendo alvo presentemente. Muito obrigado (Palmas.)
25/06 - O incrível depoimento do Lício feito na Câmara, em 2005
(Lício é coronel reformado)
O SR. LÍCIO AUGUSTO - Sr. Presidente, Srs. Congressistas, demais autoridades presentes, minhas senhoras, meus senhores, não é preciso dizer da minha emoção por ter encontrado aqui velhos companheiros de luta, que ainda a estão levando à frente.
Como participante dos acontecimentos que passo a relatar, fiz um resumo dos itens mais perguntados; apenas como itens porque a dissertação será a rememoração dos fatos. Para isso, tirei os óculos, a fim de que aqueles que vou citar me olhem bem no fundo dos olhos e tenham suficiente coragem de afirmar, se for preciso, que tudo o que foi dito aqui é a pura verdade. Se bem que não há necessidade, porque eles mesmos já confirmaram em outras ocasiões.
O primeiro item selecionado se refere à razão da minha escolha para a missão de descobrir o local da guerrilha, que hoje se diz Guerrilha do Araguaia.
Em 1969, após a morte do terrorista Mariguella, em São Paulo, em seus documentos foram feitas várias citações sobre o local da grande área: grande área de treinamento de guerrilha.
Eu estava chegando a Brasília em 1968, já pela segunda vez. No meu passado, em 1954, fiz o curso de pára-quedista e, em seguida, o curso de Forças Especiais da Divisão de Pára-Quedistas, e especializei-me na modalidade guerra na selva. Posteriormente, o curso de operações especiais foi desenvolvido com outras modalidades e, em seguida, foi criado o Centro de Instrução de Guerra na Selva, CIGS.
Detentor do curso de Forças Especiais e considerado, à época, o elemento com credenciais para desenvolver as operações de selva, percorri milhares de vezes a rodovia Belém-Brasília, de Brasília a Belém, estrada pioneira de barro. Eu e minha equipe, de 3 ou 4 homens, chegamos à conclusão, por indícios, de que a Guerrilha do Araguaia estava naquela área, entre o Bico do Papagaio, Xambioá, Marabá, Tocantinópolis e Porto Franco.
O fato, porém, que nos permitiu chegar à área foi a prisão, em Fortaleza, do guerrilheiro Pedro Albuquerque. Naturalmente, ele está olhando para mim, e eu estou olhando para a câmera, para que olhe no fundo dos meus olhos e confirme que o que eu estou dizendo é verdade. Pedro Albuquerque foi preso quando tentava tirar documentos em Fortaleza. Recolhido ao xadrez, ele tentou suicídio cortando os pulsos. A sentinela, por acaso, passou, viu, deu o alarme e ele foi levado para um hospital da guarnição.
Recuperado o documento de que ele falou, o documento resultante das declarações de Pedro Albuquerque foi enviado diretamente de Fortaleza para Brasília e chegou às mãos do General Bandeira, que imediatamente mandou buscar o preso. Enquanto eu preparava a equipe, o preso chegou, foi incluído na minha equipe, e partimos, junto com Pedro, para o local onde ele dizia que era o inicial: Xambioá.
Chegamos ao Rio Araguaia, pegamos uma canoa grande, com motor de popa, fomos até ao local de Pará da Lama. Pedro deve lembrar muito dele: era uma picada ao longo da floresta no sentido do Xingu. Andamos o dia inteiro. Chegamos ao anoitecer na casa do último morador, com o Pedro sendo levado por nós, livre. Não estava algemado, amarrado ou coisa assim. Ele foi acompanhando nossa equipe. Há várias testemunhas desse episódio aqui presentes, as quais não vou citar, que fizeram parte da minha equipe.
Chegamos à casa de Antônio Pereira, pernoitamos no campo, nos telheiros e, no dia seguinte, às 4h, prosseguimos em direção ao local onde Pedro Albuquerque indicou. Ao chegarmos lá, avistamos três homens, isto é, três elementos, sendo uma mulher, descansando para almoço, presumo.
Aproximamo-nos do local só para conversar com eles, para saber o que eles estavam fazendo lá. Eram três e, no nosso grupo, havia seis; então, não tinha problema. Eles fugiram. Chegamos ao local. Fiquei inteiramente abismado com o estoque de comida, de material cirúrgico; havia até oficina de rádio; 60 mochilas de lona, costuradas no local em máquina industrial grande, que tive o prazer de jogar no meio do açude. Tocamos fogo em tudo e voltei sem fazer prisioneiro.
Ora, em qualquer situação, teríamos atirado naqueles homens. Estávamos a 80 metros, um tiro de fuzil os atingiria facilmente. Eles estavam sentados. Mas nosso objetivo não era matar, não era trucidar. Nosso objetivo era saber o que eles estavam fazendo lá. De acordo com Pedro Albuquerque, eram guerrilheiros. Estavam na área indicada por Pedro Albuquerque, que viu toda a operação.
Como disse, destruímos todos os seus aparelhos; metralhamos uma grande quantidade de frutas - melancia, jerimum e muitas outras coisas. Ficamos inteiramente impressionados com a quantidade de comida que havia lá, várias sacas de arroz; havia até oficina de rádio com equipamentos sofisticados. Era uma oficina rústica, não era como bancada de laboratório da cidade, mas funcionava. O gerador, lá atrás, também funcionava.
Voltamos. Deixamos o pessoal fugir, claro. E o Pedro Albuquerque retornou com dois companheiros nossos e foi recolhido ao xadrez de Xambioá.
Continuamos nossa missão. Como os três elementos fugitivos avisaram para o resto do grupo do Destacamento C, mais ao sul, em frente a São Geraldo do Araguaia, que estávamos indo para lá, ao chegar lá nós os vimos fugindo com muita carga, até violão levavam. Eles estavam se retirando do Destacamento C, do Antônio da Dina e do Pedro Albuquerque.
Pedro Albuquerque nos levou até o Destacamento C, onde havia estado. Ele fugiu porque os bandidos exigiram que ele fizesse um aborto em sua mulher, que estava grávida. Eles não se conformaram com a ordem, principalmente porque outra guerrilheira grávida tinha sido mandada para São Paulo para ter o filho nas mordomias daquela cidade. Ela era casada com o filho do chefe militar da guerrilha, Maurício Grabois.
Pedro, você está me escutando? Você deve-se lembrar de que declarou isso: que você fugiu porque obrigaram sua mulher a fazer um aborto.
Nós estávamos perseguindo esse grupo e estávamos avançando. Embora chovesse bastante, estávamos nos aproximando. Eles resolveram soltar a carga que estavam levando, e o guia, morador da área, me disse: "Agora, nós não vamos pegar eles porque estão fugindo para a gameleira".
E demos uma meia parada, nessa destruição do equipamento deles, quando pressentimos a vinda de alguém na trilha. Nós estávamos andando no meio da mata e esse elemento vinha pela trilha. Nós nos agachamos e, nisso, veio aquele elemento forte, com chapéu de couro, mochila nas costas e facão na cintura. Então, quando ele chegou no meio do nosso grupo, eu dei a ordem: Prendam esse cara!
Não sei, não posso me lembrar, se foi o Cid ou se foi o Cabo Marra que pegou o Genoino. Esse elemento era o Geraldo, posteriormente identificado como Genoino - que naturalmente está me olhando agora. E eu tirei os óculos justamente para ele me reconhecer, porque da minha cara ninguém esquece, principalmente com aquela cara que eu estava na mata, depois de vários dias passando fome e sede, sujo, cheio de barba. Mas é a mesma cara. É o mesmo olhar da hora em que eu encarei ele e disse:
"Seu mentiroso! Confesse! Você não tem mais alternativa".
Por que eu descobri que o Genoino era guerrilheiro? Ele se dizia Geraldo e se dizia morador da área. Claro: elemento na área, suspeito, eu mandei deter. Mesmo algemado e com tudo nas costas, uma mochila pesada e grande, ele fugiu. O Cabo Marra deu três tiros de advertência, e ele parou. Mas não parou por causa da advertência, parou porque se emaranhou no cipoal, e o pessoal foi pegá-lo.
Eu perguntei:
Por que você está fugindo? Nós apenas estamos querendo conversar com você. Para você não fugir, vamos ter de algemá-lo.
"Eu sou morador" - disse ele.
Eu deixei o pessoal especializado em inquirição conversando com o Genoino, até então Geraldo.
O pessoal - inclusive está presente um desses companheiros, o Cid - conversou bastante tempo com o Genoino, quando o Cid veio a mim e disse: "Comandante, não tem nada, não".
Está bom - respondi. Como eu já estava há muito tempo no mato, já tinha resolvido, intimamente, levar o Genoino preso para Xambioá, mas não disse que essa era minha determinação. Peguei a mochila dele.
Havia um elemento na minha equipe que era especialista em falar com o pessoal da área - já falecido -, um elemento excepcionalmente bom. Rendo minhas homenagens a João Pedro do Rêgo. (Palmas.) O João Pedro, apelidado por nós de Jota Peter ou Javali Solitário, onde estiver estará escutando. João Pedro era um homem que falava com o matuto, com o pessoal da área, porque eu, na minha linguagem urbana, não era entendido nem entendia o que eles falavam. O Javali veio a mim e disse:
"Ele não tem nada. É morador da área". E disse-me o que tinha lhe dito.
Eu, como homem de selva, peguei a mochila do Geraldo e comecei a abri-la. Tirei pulôver, rede e um bocado de bagulho da mochila do Geraldo, quando encontrei um tubo de remédio no fundo da mochila. Ao pegar aquele tubo e olhar para o Genoino, vi que ele estava lívido, pálido. Eu ainda lhe disse:
Companheiro, fique tranqüilo porque nós não vamos fazer nada com você, você é morador da área. E abri o tubo. Lá encontrei material típico de sobrevivência - linha de pesca fina, anzóis. Era material típico de sobrevivência. Como eu havia feito um curso e só sabia teoricamente sobre o assunto, interessei-me por aquele exemplo prático, em um local de difícil acesso na selva amazônica. À medida que eu ia puxando aquelas linhas, o Genoíno - aliás, o Geraldo - ia ficando mais desesperado. E quando eu tirei o tubo, olhei para ele, e ele estava branco como papel. E lá no fundo eu vi um papel pautado, de caderneta, dessas que todo dono de bodega na área anotava as suas vendas. Cortei uma talisca do meu lado, puxei o papel e lá estava a mensagem do Comandante do Grupamento B da Gameleira, o Osvaldão, para o Comandante do Grupamento C, Antônio da Dina. Estava lá a mensagem que o Genoino transportava para o Antônio da Dina. Era uma mensagem tão curta que ele, como bom escoteiro que era, poderia ter decorado, porque até hoje, mais de 30 anos passados, eu me lembro do que dizia essa mensagem, mas eu quero que ele mesmo diga o que constava nessa mensagem. Era uma dúzia de palavras em linguajar militar, de próprio punho do Osvaldão, que era o Comandante do Grupamento B da Gameleira, o grupamento mais perigoso da guerrilha, como constatamos no desenrolar das lutas. Foi o grupo que matou o primeiro militar na área. Antes de qualquer pessoa morrer, o grupo do Osvaldão matou o Cabo Rosa, Odílio Cruz Rosa. Depois de esse Odílio Cruz Rosa ser morto, eles mataram mais 2 sargentos e fizeram muito mal aos militares que nada sabiam até então. Só quem sabia era o pessoal de informações. E eu era da área de informações, embora eu operasse à paisana.
Então, o Genoino foi mandado para Xambioá preso. A essa altura ele já deixou de ser detido para ser preso, e disse tudo sobre a área. Quando eu olhei para ele e disse:
Você não tem mais alternativa porque aqui está a mensagem.
Ele disse: "Eu falo".
Eu disse:
É bom você falar. Genoino, olhe no meu olho, você está me vendo. Eu prendi você na mata e não toquei num fio de cabelo seu. Não lhe demos uma facãozada, não lhe demos uma bolacha - coisa de que me arrependo hoje. (Palmas.)
Um elemento da minha equipe, fumador inveterado, abriu um pacote de cigarro, aproveitou aquele papel branco do verso, pegou um toco de lápis não sei de onde, e o João Pedro começou a anotar o que o Genoino falava fluentemente - nervoso como estava, começou a falar.
Eu me levantei do chão, fui até um córrego próximo beber um pouco d'água. Voltei, o papel estava cheio, com toda a composição da Guerrilha - nomes, locais, Grupo C, ao sul; Grupo B, da Gameleira, perto de Santa Isabel; e Grupo A, perto de Marabá. Eram esses os 3 grupos efetivos, em que se presumiam 30 homens por grupamento, além de um grupo militar comandado por Maurício Grabois.
Peguei aquele papel e ainda comentei com ele:
Pô, meu amigo, tu és um cara importante desse negócio aí, hein?
E mandei o Geraldo para Xambioá. Ele foi recolhido ao xadrez, posteriormente enviado a Brasília; em seguida, 3 ou 4 dias depois, não me lembro, veio o veredicto da identificação: o guerrilheiro Geraldo era o José Genoino Neto, presente em frente ao vídeo, olhando para os meus olhos - eu sempre tive olhos arregalados; não foi só lá na mata, não. Os meus olhos sempre foram arregalados, principalmente em combate.
Triste notícia veio depois. O grupo do Genoino prendeu um filho do Antônio Pereira, aquele senhor humilde, que morava nos confins da picada de Pará da Lama, a 100 quilômetros de São Geraldo. O filho dele era um garoto de 17 anos, que eu não queria levar como guia, porque ao olhar para ele me lembrei do meu filho que tinha a mesma idade. Então, eu disse ao João: Não quero levar o seu filho. Eu sabia das implicações, ou já desconfiava.
O pobre coitado do rapaz nos seguiu durante uma manhã, das 5h até o meio-dia, quando encontramos os três nos aguardando para almoçar. Pois bem. Depois que nos retiramos, os companheiros do José Genoino pegaram o rapaz e o esquartejaram.
Genoino, aquele rapaz foi esquartejado! Toda a Xambioá sabe disso, todos os moradores de Xambioá sabem da vida do pobre coitado do Antônio Pereira, pai do João Pereira, e vocês nunca tiveram a coragem de pedir pelo menos uma desculpa por terem esquartejado o rapaz! Cortaram primeiro uma orelha, na frente da família, no pátio da casa do Antônio Pereira; cortaram a segunda orelha; o rapaz urrava de dor; a mãe desmaiou. Eles continuaram, cortaram os dedos, as mãos, e no final deram a facada que matou João Pereira.
Esse relatório está no Centro de Instrução Especializada - CIE, porque foi escrito por mim, e eles não abrem para os historiadores com medo de que o relato apareça.
Pois bem. Eles fizeram isso porque o rapaz nos acompanhou durante 6 horas, para servir de exemplo aos outros moradores, de forma que não tivessem contato com o pessoal do Exército, das Forças Armadas.
Foi o crime mais hediondo de que eu soube. Nem na Guerra da Coréia e na do Vietnã fizeram isso. Algo parecido só encontrei quando trucidaram o Tenente Alberto Mendes Júnior. O Tenente se apresentou voluntariamente para substituir dois companheiros que estavam feridos. A turma do Lamarca pegou o rapaz, trucidou-o, castrou-o e o obrigou a engolir os órgãos genitais. O crime contra o João Pereira foi muito mais grave, muito mais horrendo. E eles sabem disso.Peçam desculpas ao Antônio Pereira, se ele estiver vivo! Tenham a coragem de reconhecer que toda a Xambioá sabe disso!
Genoino preso e identificado, a Guerrilha prossegue. Depois de matar o João Pereira, eles mataram o Cabo Odílio Cruz Rosa; depois do Rosa, eles mataram dois sargentos; depois dos dois sargentos, eles atiraram no Tenente Álvaro, que deve contar a história. Como estou contando a história aqui, Álvaro, conte a sua história.
Na minha versão, o Álvaro deu voz de prisão ao bandido, eles atiram. Outro que estava atrás atirou nas costas do Álvaro, arrancando-lhe a omoplata. Depois desse ferido, houve vários feridos, e finalmente eu fui ferido e tive que sair da área.
Porém, antes, as tropas do Exército saíram da área, vendo que aquele era um movimento mais grave, mais planejado - planejado em Cuba, com as mentes que todos estamos vendo. Sabemos como funciona a mente de um comunista. Um comunista tranqüilo, sem arma na mão, tudo bem. Aquilo é o que ele pensa, e a nossa democracia permite isso. Mas aquele que pega em arma tem de ser trucidado.
Um homem que entra numa mata para combater em nome de um regime de Fidel Castro, esse cara tem que ser morto! (Palmas.)
A Operação Sucuri fez um levantamento de informações: de que se tratava, qual o valor do inimigo, onde ele estava, enfim, todos os itens necessários para que fosse elaborada uma ordem de operações para o combate da Guerrilha. Isso durou 5 ou 6 meses. Já existe literatura muito boa a respeito.
Elementos militares descaracterizados, à paisana, foram postos dentro da mata, desarmados, com identidade falsa, ao lado dos bandidos. Qualquer um de nós, em sã consciência, reconhece que esses homens são uns heróis. Se me derem uma arma eu vou lá caçá-los de novo hoje. Mas, naquela época, se me tirassem as armas e me botassem na mata, não sei não. No ímpeto da juventude, talvez eu fosse, como eles foram. Eram capitães, tenentes e sargentos.
Terminada a Operação Sucuri, já sabíamos de que se tratava, confirmadas todas ou quase todas as informações que o Genoino tinha dado. Três grupos, comando militar e a chefia em São Paulo, sob o comando de João Amazonas - que fugiu da área ao primeiro tiro. Grande valentia! Herói, João Amazonas! João Amazonas fugiu da área ao primeiro tiro, junto com Elza Monnerat. Deixou lá garotos, estudantes e os fanáticos comunistas, tipo Maurício Grabois, que influenciou seu filho, André Grabois, o personagem central do evento que vou relatar agora.
O combate contra o grupo militar da Guerrilha foi comandado por André Grabois. E a esposa dele, a Criméia, que talvez esteja me olhando, diz que houve uma emboscada. Não houve emboscada. Como o Exército saiu da área para fazer operação de informações, a Operação Sucuri, eles cantaram vitória: "Seu Exército é de fritar bolinho". Muito bem, fritamos bolinho.
Já estava na área e recebi a seguinte ordem: "Vá à região de São Domingos a pé, porque de viatura não se chega lá. Eles destruíram uma ponte na Transamazônica."
Eu peguei a minha equipe e fui para São Domingos. Atravessei o rio. A ponte estava destruída, mas atravessei a vau. Cheguei a São Domingos, o quartel estava incendiado. Ao alvorecer daquele dia - se não me engano, 10 de outubro de 1973 -, eles destruíram e incendiaram o quartel. Deixaram todos os militares nus, inclusive o tenente comandante do destacamento, e pegaram todo o armamento, toda a munição, todo o fardamento. Entraram na mata e deixaram um recado: "Não ousem nos seguir, porque o pau vai quebrar".
Infelizmente, Criméia, seu marido morreu por isso.
Pude ver as suas pegadas bem nítidas, porque eles estavam carregados com cunhetes de munição, fuzis da PM, revólveres, e foi fácil seguir o grupo.
No terceiro dia, para resumir, houve um encontro. Eles estavam tão certos de que o Exército não iria lá que estavam caçando porcos. Às 6 da manhã, eu escutei o primeiro tiro e o grito dos porcos. Às 15 horas houve o combate. Vejam bem o espaço de tempo: de 6 da manhã às 15 horas.
Eu estava a menos de 10 metros do primeiro homem, que era o comandante do grupo, André Grabois, filho de Maurício Grabois. Ele estava sentado, com o gorro da PM que tomou do tenente na cabeça, e vi que tinha a arma na mão. Olhei para os meus companheiros, que vinham rastejando, e perguntei: Será que vamos encontrar um bando de PMs aí? Olhei, eles entraram em posição, e eu me levantei. Quase encostei o cano da minha arma em André Grabois: Solte a arma. Ele deu aquele pulo, e a arma já estava na minha direção. Não deu outra. Os meus companheiros, que chegavam, acertariam o André, caso eu tivesse errado, o que era muito difícil, pois estava a um metro e meio, dois metros dele.
Foi destruído o grupo militar da Guerrilha. Todos eram formados na China, em Pequim, em Cuba. Não me lembro do nome de todos, mas citarei alguns: André Grabois; o pai, Maurício Grabois, que mandou o filho fazer curso em Cuba; o Calatroni, o Nunes. O João Araguaia se entrincheirou atrás de um tronco de árvore e não se mexeu, depois do tiroteio, saiu correndo, sem arma. Ninguém atirou no João Araguaia porque ele estava sem arma. O Nunes estava gravemente ferido, mal falava e, quando o fazia, o sangue corria pela boca, mas ele conseguiu dizer a importância do grupo e citou os nomes - não sei se nome ou codinome - de todos eles: o Zequinha, ele disse: esse é o André Grabois. Estava morto.
Esse foi o primeiro combate de valor contra os guerrilheiros, mas foram desmoralizados. Eles diziam para os soldados não entrarem na mata porque os oficiais não entravam. Ora, o próprio acampamento dos militares ficava no meio da selva.
Em seguida, ocorreu o incidente do dia 23 de outubro, 10 dias depois.
Continuando na perseguição ao bando, encontramos pegadas nítidas no chão de um grupo numeroso. Esse grupo do Zé Carlos era do Grupamento A. Fomos encontrar as batidas, depois, soubemos que era do Grupamento B, do Osvaldão. Então, eu já estava a menos de 100 metros do grupo. O guia já estava saindo para a retaguarda. O guia era morador. Ele não tinha nada com a guerra. Ele estava lá auxiliando o Exército a pegar os "paulistas", que era como eles chamavam os guerrilheiros. Quando o guia começou a retrair, vi que a coisa estava feia, e continuei. Nisso, um dos guerrilheiros retorna, volta inesperadamente, e deu de cara comigo. Eu agachado e ele olhando para mim. Foi quando dei ordem de prisão para ele: Mãos na cabeça. Ele levantou uma mão, e foi quando vi que era uma mulher. Ela levantou uma mão fazendo sinal de... para eu ficar olhando para a mão enquanto ela desamarrava o coldre. Dei 3 ordens de prisão, mas ela não obedeceu. Quando eu vi que ela estava desamarrando o coldre ainda dei 3 ordens para ela - Não faça isso - gritando, pois sempre falei alto, meu tom de voz é esse. Quando ela sacou a arma vi que não tinha jeito e atirei. Acertei a perna dela e ela caiu, caiu feio. Ela não caiu, desmoronou. Ela deu um salto como se tivesse recebido uma patada de elefante. Ela caiu uns 3 metros depois, tal o impacto. Eu corri, ela não estava mais com a arma, estava nos estertores da dor, chorando e gritando. Eu disse: Fica calma que vamos te salvar. Olhei a arma, a selva muito cheia de folhas, não achei a arma. Meu erro: não deixei um sentinela com ela. Éramos poucos, eles eram vinte, eu precisava de gente.
Continuamos a perseguição do grupo, e eles atravessaram o córrego. Resolvi voltar, já estava escurecendo. Quando me agachei ela me atirou à queima roupa. Ela me deu um tiro na mão e acertou na face, que atravessou o véu palatino e se encaixou atrás da coluna, e eu caí. O outro tiro que ela deu acertou o braço do Capitão Curió, Subcomandante da minha equipe. O restante da minha equipe revidou, claro, encerrada a carreira de bandido da Sônia, nome da guerrilheira. Fui carregado em uma rede e transportado na mata.
Altas horas da noite, os soldados que estavam me carregando passaram os seus fuzis para o outro do lado. E o que ia levando 2 fuzis, um fuzil batendo no outro, fazia muito barulho na mata. E era um barulho que se propagava muito a longa distância. Eles armaram uma emboscada, teria sido o fim. Mas, aquele companheiro, com o qual eu brigava tanto pedindo que deixasse de fumar, nos salvou. Ele, que assumiu o comando da equipe, pediu para parar para dar uma pitada. Isso, a uns 50 metros da emboscada. Paramos e ficou aquele silêncio. Eu fui estendido no chão, dentro da rede, sangrava muito, quase desacordado.
Eles, então, achando que havíamos pressentido a emboscada, aqueles valentes guerrilheiros, fugiram. Claro que eles teriam matado todos nós. Não tenham dúvida. Nós estávamos completamente sem atenção. A minha equipe estava levando o seu comandante quase morto para o primeiro local onde a ambulância poderia alcançar. Na localidade de São José, eles pediram uma ambulância para levar um ferido. De São José, a ambulância me levou para Bacaba, de lá para Marabá e de Marabá para Belém, onde passei uns dias para me restabelecer e ter condições de viajar. Depois fui levado para Brasília onde fui operado. A operação se revestia de cuidados especiais, porque, do contrário, eu ficaria paraplégico para o resto de minha vida. Graças a Deus, as seqüelas foram muito menores e hoje eu estou falando aos senhores aqui, com muita honra.
É muito difícil falarmos em conclusões de uma luta de 4 anos. Citarei apenas 2 itens das conclusões. Permitam-me que os leia. Por isso, coloquei os óculos. Não há mais necessidade de os bandidos me olharem no fundo dos olhos. Estou à disposição deles, a qualquer momento. Quem quiser confirmar comigo o que disse, o meu endereço está na Internet. Terei muita satisfação em olhar no fundo dos olhos deles e repetir tudo o que acabei de dizer aos senhores: nada temos a esconder.
Primeira conclusão: tenho imenso orgulho de ter participado dessa luta, por ter agido positivamente para evitar que os guerrilheiros do PCdoB implantassem no País um regime comunista igual ao de Cuba, com paredão e tudo - e esse risco não acabou.
Segunda conclusão: além de prestar homenagem às bravas esposas dos militares, tanto daquela época quanto da atual, estendo aos membros da minha valorosa equipe a honra de que estou sendo alvo presentemente. Muito obrigado (Palmas.)
sábado, 6 de junho de 2009
Duas ou três coisas que é bom saber sobre Cuba
Este texto anônimo, de origem venezuelana, está circulando pela internet. - O. de C.
Você sabia que em Cuba o talão de racionamento está calculado para 1.800 calorias por pessoa e que muitos produtos mencionados no talão só existem em fantasia, enquanto outros aparecem e desaparecem conforme as colheitas?
Você sabia que quatro anos atrás o talão de racionamento era de 1.600 calorias, que houve uma epidemia de doenças mentais e de crianças nascidas defeituosas, que Fidel lançou a culpa disso sobre uma suposta guerra biológica empreendida pela CIA, que a Organização Mundial da Saúde descobriu que era um problema de avitaminose causada pelo racionamento de vitaminas e proteínas, que a OMS então enviou pastilhas multivitamínicas para socorrer a população cubana e obrigou o governo a subir a ração para 1.800 calorias?
Você sabia que em Cuba não se consegue obter, porque não constam do talão de racionamento, nem papel higiênico, nem sabonete, nem toalhas sanitárias, nem leite para adultos, entre outras coisas?
Você sabia que em Cuba está proibido o acesso dos cidadãos à internet, que dá cadeia ler coisas proibidas pelo regime, ouvir rádios e ver estações de TV estrangeiras, que é delito opinar contra o regime, que os Comitês de Defesa da Revolução, que funcionam em cada quarteirão, mantêm um registro das atividades de todos os moradores e que quem conste como suspeito de não apoiar o regime está encrencado?
Você sabia que em Cuba os encanamentos estão obsoletos e estragados e mais de 50 por cento das casas não recebem água diretamente? Que a água, onde chega, é somente por algumas horas, e que, onde não chega, os caminhões-pipa só vêm uma vez por semana?
Você sabia que em Cuba a eletricidade só funciona algumas horas por dia, que os apagões são diários, estragando os poucos equipamentos elétricos que restam na ilha?
Você sabia que Fidel justifica sua revolução por seus supostos êxitos na saúde e na educação, mas que em matéria de saúde Cuba está no quinto lugar na escala latino americana segundo as estatísticas mais recentes da OMS (abaixo, por exemplo, do Chile, da Argentina e do Uruguai)? Você sabia que em educação Cuba está abaixo do Chile, da Argentina, do Uruguai e da Costa Rica, segundo a Unesco?
Você sabia que no convênio Cuba-EUA, firmado por causa da multiplicação de balseiros fugitivos, os EUA recebem anualmente 22 mil cubanos, só em imigração legal, enquanto na lista da Seção de Interessados, em Havana, constam mais de 700 mil aspirantes a ir embora para Miami, embora todos os fichados como emigrantes virtuais sofram as piores represálias, sejam condenados a trabalhos forçados e seus filhos sejam obrigados a freqüentar escolas especiais de “reeducação revolucionária”? Você sabia que, apesar de todos os riscos, quem tenha acesso a uma embarcação e a uma bússola se lança ao “mar da felicidade”, fugindo daquele inferno?
Você sabia que Fidel usa como desculpa de seu tremendo fracasso o suposto bloqueio do imperialismo internacional, ao mesmo tempo que seu chanceler Perez Roque se gaba de que Cuba tem relações comerciais com 115 países e de que recebe créditos preferenciais do Banco da União Européia?
Você sabia que o que realmente se passa é que Cuba não tem nada para vender, nem com que pagar o que compra, que suas indústrias são muito atrasadas em tecnologia, improdutivas e sem competivividade, com uma burocracia excessiva e um enorme desemprego, dirigidas por líderes políticos e personagens fiéis à revolução e não por uma gerência profissional?
Você sabia que as jineteras, prostitutas cubanas, são o mais moderno exemplo da mais nova moral revolucionária?
Por último:
Você sabia que Cuba é o último reduto de um sistema que foi expulso a pontapés pelos povos da Europa Oriental, que os habitantes desses países consideram que aquilo foi um pesadelo que não querem recordar, e que os Partidos Comunistas, envergonhados e desprezados, mudaram de nome para enganar com nova máscara?
Você sabia que em Cuba o talão de racionamento está calculado para 1.800 calorias por pessoa e que muitos produtos mencionados no talão só existem em fantasia, enquanto outros aparecem e desaparecem conforme as colheitas?
Você sabia que quatro anos atrás o talão de racionamento era de 1.600 calorias, que houve uma epidemia de doenças mentais e de crianças nascidas defeituosas, que Fidel lançou a culpa disso sobre uma suposta guerra biológica empreendida pela CIA, que a Organização Mundial da Saúde descobriu que era um problema de avitaminose causada pelo racionamento de vitaminas e proteínas, que a OMS então enviou pastilhas multivitamínicas para socorrer a população cubana e obrigou o governo a subir a ração para 1.800 calorias?
Você sabia que em Cuba não se consegue obter, porque não constam do talão de racionamento, nem papel higiênico, nem sabonete, nem toalhas sanitárias, nem leite para adultos, entre outras coisas?
Você sabia que em Cuba está proibido o acesso dos cidadãos à internet, que dá cadeia ler coisas proibidas pelo regime, ouvir rádios e ver estações de TV estrangeiras, que é delito opinar contra o regime, que os Comitês de Defesa da Revolução, que funcionam em cada quarteirão, mantêm um registro das atividades de todos os moradores e que quem conste como suspeito de não apoiar o regime está encrencado?
Você sabia que em Cuba os encanamentos estão obsoletos e estragados e mais de 50 por cento das casas não recebem água diretamente? Que a água, onde chega, é somente por algumas horas, e que, onde não chega, os caminhões-pipa só vêm uma vez por semana?
Você sabia que em Cuba a eletricidade só funciona algumas horas por dia, que os apagões são diários, estragando os poucos equipamentos elétricos que restam na ilha?
Você sabia que Fidel justifica sua revolução por seus supostos êxitos na saúde e na educação, mas que em matéria de saúde Cuba está no quinto lugar na escala latino americana segundo as estatísticas mais recentes da OMS (abaixo, por exemplo, do Chile, da Argentina e do Uruguai)? Você sabia que em educação Cuba está abaixo do Chile, da Argentina, do Uruguai e da Costa Rica, segundo a Unesco?
Você sabia que no convênio Cuba-EUA, firmado por causa da multiplicação de balseiros fugitivos, os EUA recebem anualmente 22 mil cubanos, só em imigração legal, enquanto na lista da Seção de Interessados, em Havana, constam mais de 700 mil aspirantes a ir embora para Miami, embora todos os fichados como emigrantes virtuais sofram as piores represálias, sejam condenados a trabalhos forçados e seus filhos sejam obrigados a freqüentar escolas especiais de “reeducação revolucionária”? Você sabia que, apesar de todos os riscos, quem tenha acesso a uma embarcação e a uma bússola se lança ao “mar da felicidade”, fugindo daquele inferno?
Você sabia que Fidel usa como desculpa de seu tremendo fracasso o suposto bloqueio do imperialismo internacional, ao mesmo tempo que seu chanceler Perez Roque se gaba de que Cuba tem relações comerciais com 115 países e de que recebe créditos preferenciais do Banco da União Européia?
Você sabia que o que realmente se passa é que Cuba não tem nada para vender, nem com que pagar o que compra, que suas indústrias são muito atrasadas em tecnologia, improdutivas e sem competivividade, com uma burocracia excessiva e um enorme desemprego, dirigidas por líderes políticos e personagens fiéis à revolução e não por uma gerência profissional?
Você sabia que as jineteras, prostitutas cubanas, são o mais moderno exemplo da mais nova moral revolucionária?
Por último:
Você sabia que Cuba é o último reduto de um sistema que foi expulso a pontapés pelos povos da Europa Oriental, que os habitantes desses países consideram que aquilo foi um pesadelo que não querem recordar, e que os Partidos Comunistas, envergonhados e desprezados, mudaram de nome para enganar com nova máscara?
Golpe de estado no mundo
Olavo de Carvalho
Nota do M.E.: mudando o que tem de ser mudado, esse texto publicado em maio de 2003 por Olavo de Carvalho continua atualizadíssimo. Solicitamos redobrada atenção dos leitores para o preciso diagnóstico sobre a completa ignorância do povo brasileiro sobre a entrega da soberania do país para organismos internacionais, como a Unasul, e as informações sobre os planos da ONU para implantar um Governo Mundial.
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Golpe de estado no mundo
Que existe um neoglobalismo em ação, um novo Império cuja expansão coloca em risco as soberanias nacionais, ninguém no Brasil duvida. Todos os nossos líderes políticos, intelectuais e militares se dizem conscientes e alertas quanto a esse ponto. Mas, quando perguntamos de onde vem o perigo, as respostas provam que estamos conversando com sonâmbulos e teleguiados, prontos a deixar-se usar como instrumentos pelo próprio inimigo que alegam combater.
Não sabem, por exemplo, o que o Império está fazendo, com discreta e espantosa facilidade, contra um país bem mais forte que o Brasil: a Grã-Bretanha.A Grã-Bretanha como nação independente está para acabar nos próximos dias, quando Tony Blair oficializar sua anuência à nova Constituição da União Européia, que cria os Estados Unidos da Europa e transfere para a sede do Império em Bruxelas o poder de decisão do governo de Londres sobre orçamento, comércio, transportes, defesa nacional, relações internacionais, imigração, justiça e direitos humanos, reduzindo o Parlamento à condição de assembléia local subordinada.
Há quem diga que Blair deveria submeter o assunto a um referendo, mas ele não quer. Alega que a questão é complicada demais para ser julgada pelo povo. É assim que se fazem hoje os golpes de Estado: por meio de passes de mágica incompreensíveis à multidão. Uma pesquisa do jornal “The Sun” mostrou que, de fato, 84 por cento dos eleitores britânicos ignoravam a iminente transferência de soberania.
Mas, deste lado do oceano, a ignorância é maior ainda. Aqui, até as elites desconhecem tudo do novo quadro internacional. Imaginam que o neoglobalismo é uma extensão do bom e velho “imperialismo ianque” e, infladas de antiamericanismo, se preparam para combater os marines na selva amazônica.
O governo global que se forma ante os nossos olhos não é americano: é uma aliança das velhas potências européias com a revolução islâmica e o movimento esquerdista mundial. Suas centrais de comando são os organismos internacionais, e a única força de resistência que se opõe à mais ambiciosa fórmula imperialista que já se viu no mundo é o nacionalismo americano.
Os planos do governo mundial estão expostos desde 1995 no documento “Our Global Neighborhood,” publicado por uma “Comissão de Governança Global”, que prega abertamente “a subordinação da soberania nacional ao transnacionalismo democrático”. Esses planos incluem: 1. Imposto mundial. 2. Exército mundial sob o comando do secretário-geral da ONU. 3. Legislações uniformes sobre direitos humanos, imigração, armas, drogas etc. (sendo previsível a proibição dos cigarros e a liberação da maconha). 4. Tribunal Penal Internacional, com jurisdição sobre os governos de todos os países. 5. Assembléia mundial, eleita por voto direto, passando por cima de todos os Estados Nacionais. 6. Código penal cultural, punindo as culturas nacionais que não se enquadrem na uniformidade planetária “politicamente correta”. [Nota do M.E.: (7) Um novo órgão parlamentar de representantes da "sociedade civil", organizações não governamentais (ONGs). (8) Ampliação da autoridade do Secretário-Geral. (9) Desarmamento dos civis em todo o mundo.]
É o Estado policial global, a total liquidação das soberanias nacionais. E não são meros “planos”: com os Estados Unidos da Europa, tudo isso entra em vigor imediatamente no Velho Continente, da noite para o dia, sem consulta popular, sem debates, sem oposição, anunciando para prazo brevíssimo a extensão das mesmas medidas para o globo terrestre inteiro pelo mesmo método rápido da transição hipnótica.
A Inglaterra, que parecia resistir, cedeu. Hoje está claro que o apoio de Blair aos EUA no Iraque se destinou somente a amortecer o choque da traição que viria em seguida. Só num país o assunto é discutido abertamente, e a opinião pública se volta em massa contra os planos da Governança Global: os EUA.
A guerra entre os EUA e o governo mundial já começou. Se a soberania americana cair, cairão todas. E o Brasil, burro como ele só, acredita defender a sua armando-se de prevenções contra os EUA e abrindo-se gostosamente aos detonadores explícitos de toda soberania.
Uma das causas desse trágico engano é a incultura pura e simples. Mas a desinformação ativa também pesa nisso. Uma de suas inumeráveis fontes é o sr. Lyndon La Rouche, que se faz de herói antiglobalista vendendo receitas de antiamericanismo no Terceiro Mundo e é muito lido no Brasil. Num panfleto recente, ele chegou ao cúmulo de associar a política externa de Bush aos planos de governo mundial traçados por Herbert George Wells num livro de 1928, “The Open Conspiracy”.
Isso é a exata inversão da realidade. As idéias de Wells germinaram na Fabian Society de Londres, entidade socialista sob orientação da chancelaria soviética, e são a origem direta dos planos de “Governança Global” da ONU, contra os quais, precisamente, se volta a política externa de George W. Bush.
Lendas e mentiras sobre a Amazônia também ajudam a enganar todo mundo, criando a ilusão de que precisamos defendê-la contra as ambições americanas. Quem quer que investigue um pouco a presença estrangeira na Amazônia verificará que ela se constitui maciçamente de ONGs européias. Há algumas americanas, sim, mas são as mesmas que subsidiam as campanhas “pacifistas” anti-Bush, o esquerdismo internacional e, em última análise, o terrorismo.
Ignorantes e semiloucos, vemos a realidade às avessas, pedimos socorro ao bandido e colocamos nossos sentimentos nacionalistas a serviço do neo-imperialismo global, que vai nos subjugar e humilhar até um ponto que nem todos os imperialistas americanos, somados, chegaram jamais a ambicionar em sonhos.
O projeto “New American Century”, de William Kristol, mal esboçado e instantaneamente bombardeado na mídia brasileira como prova dos objetivos expansionistas do governo Bush, é apenas uma proposta, tardia e parcial, de reação possível a um esquema imperialista já implantado na Europa e em pleno processo de extensão ao resto do planeta. A guerra pelo domínio do mundo já começou. E o Brasil já entrou do lado errado.
Fonte: http://www.endireitar.org/site/artigos/60-nova-ordem-mundial/355-golpe-de-estado-no-mundo
Nota do M.E.: mudando o que tem de ser mudado, esse texto publicado em maio de 2003 por Olavo de Carvalho continua atualizadíssimo. Solicitamos redobrada atenção dos leitores para o preciso diagnóstico sobre a completa ignorância do povo brasileiro sobre a entrega da soberania do país para organismos internacionais, como a Unasul, e as informações sobre os planos da ONU para implantar um Governo Mundial.
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Golpe de estado no mundo
Que existe um neoglobalismo em ação, um novo Império cuja expansão coloca em risco as soberanias nacionais, ninguém no Brasil duvida. Todos os nossos líderes políticos, intelectuais e militares se dizem conscientes e alertas quanto a esse ponto. Mas, quando perguntamos de onde vem o perigo, as respostas provam que estamos conversando com sonâmbulos e teleguiados, prontos a deixar-se usar como instrumentos pelo próprio inimigo que alegam combater.
Não sabem, por exemplo, o que o Império está fazendo, com discreta e espantosa facilidade, contra um país bem mais forte que o Brasil: a Grã-Bretanha.A Grã-Bretanha como nação independente está para acabar nos próximos dias, quando Tony Blair oficializar sua anuência à nova Constituição da União Européia, que cria os Estados Unidos da Europa e transfere para a sede do Império em Bruxelas o poder de decisão do governo de Londres sobre orçamento, comércio, transportes, defesa nacional, relações internacionais, imigração, justiça e direitos humanos, reduzindo o Parlamento à condição de assembléia local subordinada.
Há quem diga que Blair deveria submeter o assunto a um referendo, mas ele não quer. Alega que a questão é complicada demais para ser julgada pelo povo. É assim que se fazem hoje os golpes de Estado: por meio de passes de mágica incompreensíveis à multidão. Uma pesquisa do jornal “The Sun” mostrou que, de fato, 84 por cento dos eleitores britânicos ignoravam a iminente transferência de soberania.
Mas, deste lado do oceano, a ignorância é maior ainda. Aqui, até as elites desconhecem tudo do novo quadro internacional. Imaginam que o neoglobalismo é uma extensão do bom e velho “imperialismo ianque” e, infladas de antiamericanismo, se preparam para combater os marines na selva amazônica.
O governo global que se forma ante os nossos olhos não é americano: é uma aliança das velhas potências européias com a revolução islâmica e o movimento esquerdista mundial. Suas centrais de comando são os organismos internacionais, e a única força de resistência que se opõe à mais ambiciosa fórmula imperialista que já se viu no mundo é o nacionalismo americano.
Os planos do governo mundial estão expostos desde 1995 no documento “Our Global Neighborhood,” publicado por uma “Comissão de Governança Global”, que prega abertamente “a subordinação da soberania nacional ao transnacionalismo democrático”. Esses planos incluem: 1. Imposto mundial. 2. Exército mundial sob o comando do secretário-geral da ONU. 3. Legislações uniformes sobre direitos humanos, imigração, armas, drogas etc. (sendo previsível a proibição dos cigarros e a liberação da maconha). 4. Tribunal Penal Internacional, com jurisdição sobre os governos de todos os países. 5. Assembléia mundial, eleita por voto direto, passando por cima de todos os Estados Nacionais. 6. Código penal cultural, punindo as culturas nacionais que não se enquadrem na uniformidade planetária “politicamente correta”. [Nota do M.E.: (7) Um novo órgão parlamentar de representantes da "sociedade civil", organizações não governamentais (ONGs). (8) Ampliação da autoridade do Secretário-Geral. (9) Desarmamento dos civis em todo o mundo.]
É o Estado policial global, a total liquidação das soberanias nacionais. E não são meros “planos”: com os Estados Unidos da Europa, tudo isso entra em vigor imediatamente no Velho Continente, da noite para o dia, sem consulta popular, sem debates, sem oposição, anunciando para prazo brevíssimo a extensão das mesmas medidas para o globo terrestre inteiro pelo mesmo método rápido da transição hipnótica.
A Inglaterra, que parecia resistir, cedeu. Hoje está claro que o apoio de Blair aos EUA no Iraque se destinou somente a amortecer o choque da traição que viria em seguida. Só num país o assunto é discutido abertamente, e a opinião pública se volta em massa contra os planos da Governança Global: os EUA.
A guerra entre os EUA e o governo mundial já começou. Se a soberania americana cair, cairão todas. E o Brasil, burro como ele só, acredita defender a sua armando-se de prevenções contra os EUA e abrindo-se gostosamente aos detonadores explícitos de toda soberania.
Uma das causas desse trágico engano é a incultura pura e simples. Mas a desinformação ativa também pesa nisso. Uma de suas inumeráveis fontes é o sr. Lyndon La Rouche, que se faz de herói antiglobalista vendendo receitas de antiamericanismo no Terceiro Mundo e é muito lido no Brasil. Num panfleto recente, ele chegou ao cúmulo de associar a política externa de Bush aos planos de governo mundial traçados por Herbert George Wells num livro de 1928, “The Open Conspiracy”.
Isso é a exata inversão da realidade. As idéias de Wells germinaram na Fabian Society de Londres, entidade socialista sob orientação da chancelaria soviética, e são a origem direta dos planos de “Governança Global” da ONU, contra os quais, precisamente, se volta a política externa de George W. Bush.
Lendas e mentiras sobre a Amazônia também ajudam a enganar todo mundo, criando a ilusão de que precisamos defendê-la contra as ambições americanas. Quem quer que investigue um pouco a presença estrangeira na Amazônia verificará que ela se constitui maciçamente de ONGs européias. Há algumas americanas, sim, mas são as mesmas que subsidiam as campanhas “pacifistas” anti-Bush, o esquerdismo internacional e, em última análise, o terrorismo.
Ignorantes e semiloucos, vemos a realidade às avessas, pedimos socorro ao bandido e colocamos nossos sentimentos nacionalistas a serviço do neo-imperialismo global, que vai nos subjugar e humilhar até um ponto que nem todos os imperialistas americanos, somados, chegaram jamais a ambicionar em sonhos.
O projeto “New American Century”, de William Kristol, mal esboçado e instantaneamente bombardeado na mídia brasileira como prova dos objetivos expansionistas do governo Bush, é apenas uma proposta, tardia e parcial, de reação possível a um esquema imperialista já implantado na Europa e em pleno processo de extensão ao resto do planeta. A guerra pelo domínio do mundo já começou. E o Brasil já entrou do lado errado.
Fonte: http://www.endireitar.org/site/artigos/60-nova-ordem-mundial/355-golpe-de-estado-no-mundo
OBAMA FAZ MAIS UM DISCURSO HISTÓRICO PRÉ-HISTÓRIA. E SOBRARAM SIMPLIFICAÇÃO E BOBAGEM
Reinaldo Azevedo
É, meus caros, eis um daqueles textos longos, longuíssimos, do tipo, dizem, que não se deve escrever em blogs. Ok. Eles ficam com os blogs deles, com textos curtinhos. Eu fico com o meu. Cada um no seu quadrado. Vamos lá.
Barack Obama é mesmo um fenômeno. Ninguém faz “discursos históricos” como ele. É você se distrair um pouco, e tome “discurso histórico”. E é também fascinante porque a fala se torna “histórica” ante de a história acontecer. Não foi diferente com o, bem…, “histórico” discurso feito no Cairo, Egito, em que propôs um “novo começo” nas relações entre os EUA e mundo islâmico. Mais um pouco, e suas falas e realizações já nascerão como ruínas… (leia INTEGRA DO DISCURSO na seção “Documentos” do blog).
Depois do ovacionado “assalaamu alaykum”, o presidente americano lembrou que o momento é de tensão entre os EUA e o mundo islâmico, observando:
“As relações entre o Ocidente e o Islã incluem séculos de co-existência e cooperação, mas também de conflitos e guerras religiosas. Mais recentemente, a tensão foi alimentada pelo colonialismo, que negou direitos e oportunidades a muitos muçulmanos, e pela Guerra Fria, que tratou os países de maioria muçulmana como meros figurantes. Ademais, as mudanças trazidas pela modernidade e pela globalização levaram muitos muçulmanos a ver o Ocidente como hostil às tradições do Islã.”
Olhem, só o trecho acima poderia render um tratado. É claro, sei disto, que parece haver algo de ridículo em criticar o discurso de ninguém menos do que o presidente dos Estados Unidos, não é? Isso só fazia sentido quando o homem era Jorjibúxi, o bestalhão, o sanguinário, o invasor. Com Obama, a única coisa legítima a fazer é classificar a fala de “histórica”. Pouco me importa quem tenha escrito ou lido o discurso. O fato é que algumas coisas acima precisam ser esmiuçadas. Com efeito, aconteceu aquela tal cooperação de que ele fala. Terminou mais ou menos com as… Cruzadas!!! Adiante.
Obama tangeu uma corda que é a mãe de todos os equívocos mesmo do islamismo moderado: os países islâmicos são vistos sempre como vítimas e entes meramente reativos. No caso das “guerras religiosas”, não fica claro se ele considera os islâmicos agredidos ou agressores — mas posso imaginar… Será que ele se lembra que os discípulos de Maomé chegaram, em nome de sua particular noção de paz, até a Península Ibérica? Será que alguém arrumaria para ele uma versão em inglês do romance Eurico, O Presbítero, de Alexandre Herculano? Vejam lá: no colonialismo do século 19 — um tempo que ele classifica de “recente” —, os islâmicos são vítimas. Na Guerra Fria, foram ignorados. Agora, é a globalização que os leva, coitadinhos!, a ver o Ocidente como inimigo. Pergunta besta: por que os países islâmicos veriam essa “modernidade” como inimiga? Bem, o judaísmo se reformou; o cristianismo vive em permanente reforma; o hinduísmo, à sua maneira, mudou. Onde estão os reformadores do Islâ? A única forma de dialogar com aquele mundo é o Ocidente declarar a sua culpa?
A questão é meramente intelectual? Não é. Esse tipo de conversa não tem futuro. Obama encerrou a sua fala citando palavras de tolerância do Corâo, do Talmud e da Bíblia. Bacana. As três religiões, de fato, trazem senhas para a paz e para a guerra. Mas é preciso ver se todas elas podem conviver, por exemplo, com alguns direitos que, no chamado mundo ocidental, consideramos inegociáveis. O Islã pode?
Depois daquele trecho que destaco, Obama condenou o extremismo islâmico e os atentados de 11 de Setembro, mas pronunciou uma só vez a palavra “terrorismo” (na verdade, “terroristas”), como se ela ofendesse os ouvidos da audiência. O que não deixa de ser um sinal de rendição. Ou bem aquelas pessoas que ouviam também repudiam o “mau Islã” — e, pois, não há óbice em dizer a palavra — ou bem não repudiam tanto assim, e aquela conversa é absolutamente inútil. Mais adiante, mandou ver nas glórias do Islã — não sem antes lembrar do pai islâmico e de sua infância na Indonésia:
“Como estudante de história, reconheço a dívida que a civilização tem com o Islâ. Foi o Islã, em lugares como a Universidade Al-Azhar, que levou a luz do conhecimento ao longo de muitos séculos, pavimentando o caminho do Renascimento e do Iluminismo na Europa. Foi a inovação nas comunidades islâmicas que desenvolveu a álgebra, a bússola e outras ferramentas de navegação; nosso domínio da escrita e a imprensa; a compreensão de como se desenvolvem as doenças e como podem ser combatidas. A cultura islâmica nos deu arcos majestosos e torres elevadas; poesia atemporal e música inesquecível; caligrafia elegante e lugares para pacífica contemplação. E, ao longo da história, o Islã demonstrou, por meio de palavras e atos, as possibilidades da tolerância religiosa e da igualdade racial”.
Muito bem! Obama, ou quem quer que tenha feito o discurso, estudou direitinho a Enciclopédia Britânica. Qual é o problema de um discurso como esse? Ele assimila como verdadeira a crítica falaciosa que se faz ao Ocidente — “é contra o Islã” — e jura de pés juntos que não é. Para tanto, presta o seu tributo: vejam lá, a religião foi vital, lembra Obama, para o… Renascimento!!! Logo ali, como se sabe. O ponto definitivamente não é esse. Afirmar que o Islã é isso ou aquilo seria como afirmar as virtudes do Cristianismo, o que, diga-se, nenhum líder árabe — ou, mais amplamente, islâmico — faria em terras ocidentais (sem contar o fato de que o cristianismo é ILEGAL em boa parte os países que seguem o Corão…). Ora, é óbvio que ninguém está em guerra com o Islã. O que parece, às vezes, é que o Islã é que está em guerra consigo mesmo, contra aquelas “modernidades” da globalização. E o Ocidente não pode responder por isso, não.
“Tolerância religiosa e igualdade racial”? Pois é… De que Islã Obama está falando? Os nazistas — e não estou fazendo comparação entre nazis e islâmicos; apelo ao extremo para evidenciar o erro — se diziam cristãos. E era inútil demonstrar que sua prática não correspondia ao, vá lá, livro-texto. O Islã da bússola é o de Osama Bin Laden ou, se quiserem, o de qualquer outro país islâmico, Egito incluído? Tenham paciência, né? Por que os países árabes se negam, por exemplo, a conceder cidadania aos palestinos, ainda que eles a queiram, tratando-os como refugiados e praticamente confinando-os nos campos? Ora, o Islã da álgebra e da filosofia não está em questão. Infelizmente, ele não serve de referência hoje a nenhum dos países islâmicos. Não será o Ocidente — ou um líder ocidental — a ensinar àqueles países qual é a vertente virtuosa de sua religião.
Esse é um discurso histórico, claro, como todos os de Obama, mas já nasce como ruína. Não tem futuro.
Questões contemporâneas
E daria, sinceramente, para esmiuçar suas incongruências e erros trecho a trecho. Mas levaria mais de uma noite. Por isso, opero aqui uma mudança na trajetória para tratar, no fim das contas, do que interessa: a questão israelo-palestina. Afinal, a grande mudança em relação a seu antecessor, o Jorjibúxi, estaria justamente aí. Antes e chegar a essa questão, Obama justificou a guerra no Afeganistão, afirmando que seu país não teve escolha, e relativizou os motivos da guerra no Iraque — nesse caso, sim, disse, uma escolha. Mas lembrou que os iraquianos estão melhores sem a tirania de Saddam Hussein. Então truco.
Agora a questão central. Obama estava lá para pôr um peso em cada prato da balança. Vamos ver:
“Os fortes laços da América com Israel são bastante conhecidos. Esse elo é inquebrável. Está baseado em laços culturais e históricos e no reconhecimento de que a aspiração por uma pátria judia está fundada numa história trágica, que não pode ser negada.
O povo judeu foi perseguido em todo o mundo por séculos, e o anti-semitismo na Europa culminou num Holocausto inédito. Amanhã, vou visitar Buchenwald, um dos campos onde judeus eram escravizados, torturados, fuzilados e mortos com gás pelo Terceiro Reich. Seis milhões de judeus foram mortos, mais do que toda a população judia de Israel hoje. Negar aqueles fatos não faz sentido, é ignorante e odioso. Ameaçar Israel com a destruição ou repetir estereótipos vis sobre os judeus é profundamente errado e serve apenas para evocar nos israelenses a mais dolorosa das memórias, criando obstáculos à paz que merece a população dessa região”.
Como se vê, Obama exalta os judeus que sofreram. No passado.
E era a hora de pôr peso no outro prato. E ele lembrou também o sofrimento do povo palestino, espalhado nos campos de Gaza, Cisjordânia e terras vizinhas. Criticou os que atacam Israel, mas também censurou a expansão das colônias na Cisjordânia. E, bem, aí fez o que me parece realmente do arco da velha: abriu uma espécie de diálogo, retórico ao menos, com o… Hamas! Hamas que os próprios EUA consideram terroristas. Isso, de fato, é inédito. A questão é saber se é bom. Leiam.
“Agora é a hora de os palestinos se concentrarem no que podem construir. A Autoridade Palestina precisa desenvolver sua capacidade de governar, com instituições que sirvam às necessidades do povo. O Hamas de fato tem apoio entre alguns palestinos, mas ele também tem responsabilidades. Para desempenhar o papel que lhe cabe nas aspirações palestinas e para unificar o povo, o Hamas precisa pôr fim à violência, reconhecer acordos anteriores e reconhecer o direito que Israel tem de existir.”
E agora o pito em Israel:
“Ao mesmo tempo, os israelenses precisam reconhecer que, assim como não se pode negar seu direito de existir, não se pode negá-lo também aos plaestinos. Os Estados Unidos não aceitam como legítima a continuidade dos assentamentos [na Cisjordânia]. Eles violam acordos anteriores e minam os esforços para alcançar a paz. É tempo de parar com esses assentamentos”.
Aí a vaca foi para o brejo
No afã de igualar os desiguais, quem sai perdendo é a razão. Não, este escriba não considera a continuidade dos assentamentos uma boa política. De jeito nenhum! Mas é uma estupidez suprema — além de contraproducente e inútil — sugerir que a eles estão para os israelenses como a violência está para o Hamas. Quem criou tal correspondência foi Barack Obama, não fui eu. Se ele estivesse certo, bastaria que, amanhã, o governo Israelense determinasse a suspensão dos ditos-cujos, e o Hamas, em contrapartida, pararia de jogar foguetes em Israel. Mas isso não aconteceria. Ainda que os assentamentos sejam condenáveis e só extremem o que já é ruim, eles não são o correspondente oposto dos atos terroristas dos palestinos.
Mas, para Obama, cada coisa é um peso em cada lado da balança. Assim, a despeito desse seu discurso grandiloqüente, estupidamente chamado de histórico, dá para antecipar: nada vai acontecer. E nada vai acontecer enquanto as facções palestinas não renunciarem à violência. É patético que o presidente americano peça ao Hamas que reconheça Israel. Nas considerações iniciais de seu estatuto (ÍNTEGRA DO ESTATUTO na seção “Documentos”) lê-se:
“Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele.”
É só isso? O Hamas aceita a presença de judeus por ali? De novo, apelo a sua carta:
“Assim, com todo o nosso apreço pela Organização para a Libertação da Palestina, e o que ela posa vir a se tornar, e sem desprezar o seu papel no conflito árabe-israelense, não podemos eliminar a identidade islâmica da Palestina, que é parte da nossa fé, e quem negligencia essa fé está perdido. “Quem rejeita a religião de Abrahão é alguém que ficou um tolo”. (Alcorão 2-130).
O Hamas seria só um movimento nacionalista, localista, descolado do terrorismo islâmico? O Hamas responde com seu estatuto:
“Exigimos que os países árabes em torno de Israel abram as suas fronteiras aos árabes e muçulmanos combatentes da Jihad, a fim de cumprirem sua parte, juntando suas forças às forças dos seus irmãos – a Fraternidade Muçulmana na Palestina. Dos demais países árabes e muçulmanos, exigimos que, no mínimo, facilitem a passagem através de seus territórios dos combatentes da Jihad.”
Há ao menos chance de esse discurso de Obama sensibilizar as lideranças políticas de Israel? Não! Zero! Nenhuma! E eu diria que não se trata apenas dos radicais da direita e outras figuras satanizadas mundo afora. Qualquer israelense sabe que igualar o terrorismo e a pregação da destruição de Israel à expansão de assentamentos é contribuir com aqueles que querem… o fim de Israel. Se Obama não quer, tem de mudar o discurso.
Ademais, essa fala que põe um peso em cada balança fornece aos radicais a certeza de que, enfim, estão ganhando a guerra de propaganda.
Há uma questão lógica inegável: o que levou Obama fazer esse discurso não foi a disposição dos árabes para negociar, mas o terrorismo. Não por acaso, se vocês fizerem uma pesquisa nos jornais mundo afora, os radicais criticaram a fala do presidente dos EUA. Ora, são espertos: no dia em que não estiverem mais no lugar das vítimas, acusando o Ocidente, terão perdido poder. É preciso atacar os Baracks Obamas da vida para que possam ser mimados por eles.
Sim, foi um discurso, a seu modo, histórico.
É, meus caros, eis um daqueles textos longos, longuíssimos, do tipo, dizem, que não se deve escrever em blogs. Ok. Eles ficam com os blogs deles, com textos curtinhos. Eu fico com o meu. Cada um no seu quadrado. Vamos lá.
Barack Obama é mesmo um fenômeno. Ninguém faz “discursos históricos” como ele. É você se distrair um pouco, e tome “discurso histórico”. E é também fascinante porque a fala se torna “histórica” ante de a história acontecer. Não foi diferente com o, bem…, “histórico” discurso feito no Cairo, Egito, em que propôs um “novo começo” nas relações entre os EUA e mundo islâmico. Mais um pouco, e suas falas e realizações já nascerão como ruínas… (leia INTEGRA DO DISCURSO na seção “Documentos” do blog).
Depois do ovacionado “assalaamu alaykum”, o presidente americano lembrou que o momento é de tensão entre os EUA e o mundo islâmico, observando:
“As relações entre o Ocidente e o Islã incluem séculos de co-existência e cooperação, mas também de conflitos e guerras religiosas. Mais recentemente, a tensão foi alimentada pelo colonialismo, que negou direitos e oportunidades a muitos muçulmanos, e pela Guerra Fria, que tratou os países de maioria muçulmana como meros figurantes. Ademais, as mudanças trazidas pela modernidade e pela globalização levaram muitos muçulmanos a ver o Ocidente como hostil às tradições do Islã.”
Olhem, só o trecho acima poderia render um tratado. É claro, sei disto, que parece haver algo de ridículo em criticar o discurso de ninguém menos do que o presidente dos Estados Unidos, não é? Isso só fazia sentido quando o homem era Jorjibúxi, o bestalhão, o sanguinário, o invasor. Com Obama, a única coisa legítima a fazer é classificar a fala de “histórica”. Pouco me importa quem tenha escrito ou lido o discurso. O fato é que algumas coisas acima precisam ser esmiuçadas. Com efeito, aconteceu aquela tal cooperação de que ele fala. Terminou mais ou menos com as… Cruzadas!!! Adiante.
Obama tangeu uma corda que é a mãe de todos os equívocos mesmo do islamismo moderado: os países islâmicos são vistos sempre como vítimas e entes meramente reativos. No caso das “guerras religiosas”, não fica claro se ele considera os islâmicos agredidos ou agressores — mas posso imaginar… Será que ele se lembra que os discípulos de Maomé chegaram, em nome de sua particular noção de paz, até a Península Ibérica? Será que alguém arrumaria para ele uma versão em inglês do romance Eurico, O Presbítero, de Alexandre Herculano? Vejam lá: no colonialismo do século 19 — um tempo que ele classifica de “recente” —, os islâmicos são vítimas. Na Guerra Fria, foram ignorados. Agora, é a globalização que os leva, coitadinhos!, a ver o Ocidente como inimigo. Pergunta besta: por que os países islâmicos veriam essa “modernidade” como inimiga? Bem, o judaísmo se reformou; o cristianismo vive em permanente reforma; o hinduísmo, à sua maneira, mudou. Onde estão os reformadores do Islâ? A única forma de dialogar com aquele mundo é o Ocidente declarar a sua culpa?
A questão é meramente intelectual? Não é. Esse tipo de conversa não tem futuro. Obama encerrou a sua fala citando palavras de tolerância do Corâo, do Talmud e da Bíblia. Bacana. As três religiões, de fato, trazem senhas para a paz e para a guerra. Mas é preciso ver se todas elas podem conviver, por exemplo, com alguns direitos que, no chamado mundo ocidental, consideramos inegociáveis. O Islã pode?
Depois daquele trecho que destaco, Obama condenou o extremismo islâmico e os atentados de 11 de Setembro, mas pronunciou uma só vez a palavra “terrorismo” (na verdade, “terroristas”), como se ela ofendesse os ouvidos da audiência. O que não deixa de ser um sinal de rendição. Ou bem aquelas pessoas que ouviam também repudiam o “mau Islã” — e, pois, não há óbice em dizer a palavra — ou bem não repudiam tanto assim, e aquela conversa é absolutamente inútil. Mais adiante, mandou ver nas glórias do Islã — não sem antes lembrar do pai islâmico e de sua infância na Indonésia:
“Como estudante de história, reconheço a dívida que a civilização tem com o Islâ. Foi o Islã, em lugares como a Universidade Al-Azhar, que levou a luz do conhecimento ao longo de muitos séculos, pavimentando o caminho do Renascimento e do Iluminismo na Europa. Foi a inovação nas comunidades islâmicas que desenvolveu a álgebra, a bússola e outras ferramentas de navegação; nosso domínio da escrita e a imprensa; a compreensão de como se desenvolvem as doenças e como podem ser combatidas. A cultura islâmica nos deu arcos majestosos e torres elevadas; poesia atemporal e música inesquecível; caligrafia elegante e lugares para pacífica contemplação. E, ao longo da história, o Islã demonstrou, por meio de palavras e atos, as possibilidades da tolerância religiosa e da igualdade racial”.
Muito bem! Obama, ou quem quer que tenha feito o discurso, estudou direitinho a Enciclopédia Britânica. Qual é o problema de um discurso como esse? Ele assimila como verdadeira a crítica falaciosa que se faz ao Ocidente — “é contra o Islã” — e jura de pés juntos que não é. Para tanto, presta o seu tributo: vejam lá, a religião foi vital, lembra Obama, para o… Renascimento!!! Logo ali, como se sabe. O ponto definitivamente não é esse. Afirmar que o Islã é isso ou aquilo seria como afirmar as virtudes do Cristianismo, o que, diga-se, nenhum líder árabe — ou, mais amplamente, islâmico — faria em terras ocidentais (sem contar o fato de que o cristianismo é ILEGAL em boa parte os países que seguem o Corão…). Ora, é óbvio que ninguém está em guerra com o Islã. O que parece, às vezes, é que o Islã é que está em guerra consigo mesmo, contra aquelas “modernidades” da globalização. E o Ocidente não pode responder por isso, não.
“Tolerância religiosa e igualdade racial”? Pois é… De que Islã Obama está falando? Os nazistas — e não estou fazendo comparação entre nazis e islâmicos; apelo ao extremo para evidenciar o erro — se diziam cristãos. E era inútil demonstrar que sua prática não correspondia ao, vá lá, livro-texto. O Islã da bússola é o de Osama Bin Laden ou, se quiserem, o de qualquer outro país islâmico, Egito incluído? Tenham paciência, né? Por que os países árabes se negam, por exemplo, a conceder cidadania aos palestinos, ainda que eles a queiram, tratando-os como refugiados e praticamente confinando-os nos campos? Ora, o Islã da álgebra e da filosofia não está em questão. Infelizmente, ele não serve de referência hoje a nenhum dos países islâmicos. Não será o Ocidente — ou um líder ocidental — a ensinar àqueles países qual é a vertente virtuosa de sua religião.
Esse é um discurso histórico, claro, como todos os de Obama, mas já nasce como ruína. Não tem futuro.
Questões contemporâneas
E daria, sinceramente, para esmiuçar suas incongruências e erros trecho a trecho. Mas levaria mais de uma noite. Por isso, opero aqui uma mudança na trajetória para tratar, no fim das contas, do que interessa: a questão israelo-palestina. Afinal, a grande mudança em relação a seu antecessor, o Jorjibúxi, estaria justamente aí. Antes e chegar a essa questão, Obama justificou a guerra no Afeganistão, afirmando que seu país não teve escolha, e relativizou os motivos da guerra no Iraque — nesse caso, sim, disse, uma escolha. Mas lembrou que os iraquianos estão melhores sem a tirania de Saddam Hussein. Então truco.
Agora a questão central. Obama estava lá para pôr um peso em cada prato da balança. Vamos ver:
“Os fortes laços da América com Israel são bastante conhecidos. Esse elo é inquebrável. Está baseado em laços culturais e históricos e no reconhecimento de que a aspiração por uma pátria judia está fundada numa história trágica, que não pode ser negada.
O povo judeu foi perseguido em todo o mundo por séculos, e o anti-semitismo na Europa culminou num Holocausto inédito. Amanhã, vou visitar Buchenwald, um dos campos onde judeus eram escravizados, torturados, fuzilados e mortos com gás pelo Terceiro Reich. Seis milhões de judeus foram mortos, mais do que toda a população judia de Israel hoje. Negar aqueles fatos não faz sentido, é ignorante e odioso. Ameaçar Israel com a destruição ou repetir estereótipos vis sobre os judeus é profundamente errado e serve apenas para evocar nos israelenses a mais dolorosa das memórias, criando obstáculos à paz que merece a população dessa região”.
Como se vê, Obama exalta os judeus que sofreram. No passado.
E era a hora de pôr peso no outro prato. E ele lembrou também o sofrimento do povo palestino, espalhado nos campos de Gaza, Cisjordânia e terras vizinhas. Criticou os que atacam Israel, mas também censurou a expansão das colônias na Cisjordânia. E, bem, aí fez o que me parece realmente do arco da velha: abriu uma espécie de diálogo, retórico ao menos, com o… Hamas! Hamas que os próprios EUA consideram terroristas. Isso, de fato, é inédito. A questão é saber se é bom. Leiam.
“Agora é a hora de os palestinos se concentrarem no que podem construir. A Autoridade Palestina precisa desenvolver sua capacidade de governar, com instituições que sirvam às necessidades do povo. O Hamas de fato tem apoio entre alguns palestinos, mas ele também tem responsabilidades. Para desempenhar o papel que lhe cabe nas aspirações palestinas e para unificar o povo, o Hamas precisa pôr fim à violência, reconhecer acordos anteriores e reconhecer o direito que Israel tem de existir.”
E agora o pito em Israel:
“Ao mesmo tempo, os israelenses precisam reconhecer que, assim como não se pode negar seu direito de existir, não se pode negá-lo também aos plaestinos. Os Estados Unidos não aceitam como legítima a continuidade dos assentamentos [na Cisjordânia]. Eles violam acordos anteriores e minam os esforços para alcançar a paz. É tempo de parar com esses assentamentos”.
Aí a vaca foi para o brejo
No afã de igualar os desiguais, quem sai perdendo é a razão. Não, este escriba não considera a continuidade dos assentamentos uma boa política. De jeito nenhum! Mas é uma estupidez suprema — além de contraproducente e inútil — sugerir que a eles estão para os israelenses como a violência está para o Hamas. Quem criou tal correspondência foi Barack Obama, não fui eu. Se ele estivesse certo, bastaria que, amanhã, o governo Israelense determinasse a suspensão dos ditos-cujos, e o Hamas, em contrapartida, pararia de jogar foguetes em Israel. Mas isso não aconteceria. Ainda que os assentamentos sejam condenáveis e só extremem o que já é ruim, eles não são o correspondente oposto dos atos terroristas dos palestinos.
Mas, para Obama, cada coisa é um peso em cada lado da balança. Assim, a despeito desse seu discurso grandiloqüente, estupidamente chamado de histórico, dá para antecipar: nada vai acontecer. E nada vai acontecer enquanto as facções palestinas não renunciarem à violência. É patético que o presidente americano peça ao Hamas que reconheça Israel. Nas considerações iniciais de seu estatuto (ÍNTEGRA DO ESTATUTO na seção “Documentos”) lê-se:
“Israel existirá e continuará existindo até que o Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer a todos aqueles que existiram anteriormente a ele.”
É só isso? O Hamas aceita a presença de judeus por ali? De novo, apelo a sua carta:
“Assim, com todo o nosso apreço pela Organização para a Libertação da Palestina, e o que ela posa vir a se tornar, e sem desprezar o seu papel no conflito árabe-israelense, não podemos eliminar a identidade islâmica da Palestina, que é parte da nossa fé, e quem negligencia essa fé está perdido. “Quem rejeita a religião de Abrahão é alguém que ficou um tolo”. (Alcorão 2-130).
O Hamas seria só um movimento nacionalista, localista, descolado do terrorismo islâmico? O Hamas responde com seu estatuto:
“Exigimos que os países árabes em torno de Israel abram as suas fronteiras aos árabes e muçulmanos combatentes da Jihad, a fim de cumprirem sua parte, juntando suas forças às forças dos seus irmãos – a Fraternidade Muçulmana na Palestina. Dos demais países árabes e muçulmanos, exigimos que, no mínimo, facilitem a passagem através de seus territórios dos combatentes da Jihad.”
Há ao menos chance de esse discurso de Obama sensibilizar as lideranças políticas de Israel? Não! Zero! Nenhuma! E eu diria que não se trata apenas dos radicais da direita e outras figuras satanizadas mundo afora. Qualquer israelense sabe que igualar o terrorismo e a pregação da destruição de Israel à expansão de assentamentos é contribuir com aqueles que querem… o fim de Israel. Se Obama não quer, tem de mudar o discurso.
Ademais, essa fala que põe um peso em cada balança fornece aos radicais a certeza de que, enfim, estão ganhando a guerra de propaganda.
Há uma questão lógica inegável: o que levou Obama fazer esse discurso não foi a disposição dos árabes para negociar, mas o terrorismo. Não por acaso, se vocês fizerem uma pesquisa nos jornais mundo afora, os radicais criticaram a fala do presidente dos EUA. Ora, são espertos: no dia em que não estiverem mais no lugar das vítimas, acusando o Ocidente, terão perdido poder. É preciso atacar os Baracks Obamas da vida para que possam ser mimados por eles.
Sim, foi um discurso, a seu modo, histórico.
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