Esther Borrell
Caracas, 1 ago (EFE).- O presidente venezuelano, Hugo Chávez, levou seu processo de nacionalização ao setor bancário ao anunciar sua intenção de comprar o Banco da Venezuela, filial do espanhol Santander, em uma operação que já está em andamento.
Menos de 24 horas depois desse anúncio, o Grupo Santander confirmou que mantém negociações com o Governo venezuelano para vender essa filial, uma das três principais entidades bancárias da Venezuela.
Nas filiais do banco em Caracas, havia comentários entre os clientes e certa preocupação com as conseqüências que o processo de nacionalização possa trazer para suas contas, segundo constatou a Agência Efe.
Alguns manifestaram sua desconfiança em relação ao manejo estatal, coincidindo com declarações de analistas que sustentam que os cidadãos venezuelanos "não têm uma boa opinião sobre a gestão econômica" do Governo de Chávez "em seu conjunto".
Segundo o ex-gerente do Banco Central da Venezuela (BCV), Domingo Maza Zavala, existe a percepção de que o Governo não está manejando adequadamente a indústria petrolífera estatal, nem os serviços de telefonia e de eletricidade, que foram nacionalizados no ano passado.
Outra incerteza dos analistas e cidadãos é em relação às futuras intenções do Governo em relação a todo o setor bancário e financeiro.
A nacionalização do Banco da Venezuela, entidade que fontes do mercado avaliam em US$ 1,2 bilhão a US$ 1,9 bilhão, pode ser "um fato isolado" ou "o início de uma política financeira" para estender o poder do Estado ao sistema bancário, disse Zavala, em declarações à imprensa local.
Já o Banco Central da Venezuela emitiu hoje um comunicado para destacar que o sistema financeiro "opera de maneira satisfatória e com solidez".
O anúncio da nacionalização do Banco da Venezuela, feito pelo próprio Chávez na quinta-feira em reunião com associações católicas retransmitida em cadeia nacional, gerou surpresa em um primeiro momento e se transformou rapidamente na principal notícia de todos os meios de comunicação do país.
O presidente venezuelano declarou sua intenção de nacionalizar o banco e convidou seu proprietário, o Grupo Santander, a negociar.
"Eles queriam vender o banco para um banqueiro venezuelano, que pediu permissão e autorização, porque assim consta nas leis, e eu como chefe de Estado digo não", comentou Chávez.
Umas horas depois, em outro discurso, Chávez assegurou que o processo "não será conflituoso" e antecipou que representantes de seu Governo já haviam discutido com o Grupo Santander.
"É uma boa novidade. A Venezuela terá de novo o controle do Banco da Venezuela, banco para o povo (...), banco socialista", acrescentou, antes da Presidência emitir um comunicado em que assinalava a "solidez" do banco e "a qualidade de seu pessoal".
"Nosso Governo está convidando os representantes do Grupo Santander a abrir as negociações que conduzam ao objetivo já anunciado", afirma o comunicado, antes de destacar que se atuará "com apego aos procedimentos" e com o "devido respeito aos atuais acionistas" do banco.
O Governo espanhol, por outro lado, descartou hoje intervir perante a eventual venda e nacionalização do banco e a vice-presidente do Executivo, María Teresa Fernández de la Vega, disse que a operação está sendo realizada "através do diálogo e da negociação".
O Santander adquiriu o controle do Banco da Venezuela, o mais antigo do país, em dezembro de 1996, ao comprar 80% das ações da entidade em um leilão por US$ 301,1 milhões.
Posteriormente adquiriu mais 13% das ações, enquanto o restante foi distribuído entre pessoas físicas.
Em 30 de junho do ano passado, a filial contava com 285 escritórios e três milhões de clientes e, segundo dados dos sindicatos do Santander na Espanha, nela trabalham 4.565 empregados.
Além disso, obteve um lucro líquido de 109 milhões de euros até junho, valor 29% maior que o registrado no mesmo período de 2007. EFE
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