O governador de São Paulo, o tucano José Serra, tem mantido uma boa interlocução com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos últimos meses, não se viu crítica de Serra a Lula. Quando faz reparos, Serra ataca decisões do governo petista, mas nunca a pessoa do presidente.
Serra está certo. Como Aécio Neves, governador de Minas e seu rival pela candidatura tucana à Presidência, ele enxergou que não adianta dar murro em ponta de faca. Lula é um presidente popular e tende a sair do cargo, na virada de 2010 para 2011, com força política talvez maior do que possui hoje.
Em conversas reservadas, o governador paulista tem uma grande crítica a Lula. Avalia que o presidente não conduz bem a economia. Para Serra, o Banco Central de Lula criará uma crise econômica futura ao manter uma política monetária rigorosa.
O tucano considera que essa crise poderá explodir ainda no mandato de Lula, mas pensa que o mais provável é que ela aconteça no governo do sucessor do petista. Ou seja, vire uma herança negativa de Lula.
Como o tucano lidera hoje todas as pesquisas sobre a sucessão presidencial, é humano ele temer que a eventual bomba venha a explodir no seu colo.
Esse temor explica a dura crítica que Serra fez na quinta-feira (17/04) à recente decisão do Banco Central de elevar a taxa básica de juros, a Selic, de 11,25% para 11,75% ao ano. Serra acha que a subida de 0,5 ponto percentual, que surpreendeu o mercado, tende a valorizar o real ainda mais em relação ao dólar.
O efeito dessa rigorosa política monetária, acredita o tucano, será fragilizar setores exportadores e gerar um buraco nas contas de nosso comércio exterior.
Mais: a decisão vai encarecer o custo de rolagem da dívida pública brasileira. Com juros mais altos, o tesouro terá de desembolsar ainda mais para pagar seus credores.
Na avaliação do tucano, a política do Banco Central poderá matar ou desidratar o atual ciclo de crescimento da economia na casa dos 5% ao ano.
Algumas frases de Serra sobre a decisão do BC:
"O aumento dos juros tende a agravar a situação da conta corrente, no balanço de pagamentos, porque valoriza ainda mais o real em relação ao dólar, o que encarece as exportações e barateia as importações."
"Haverá uma marcha negativa para a nossa economia no futuro."
"Quando estamos na administração pública, devemos ter uma espécie de estrabismo no seguinte sentido: um olho no presente e outro no futuro. Não dá só para olhar o presente."
"[Os juros mais altos] vão encarecer ainda mais o serviço da dívida pública."
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Outra visão
Quem conversou com o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci Filho colheu um diagnóstico diferente sobre a decisão do BC. O seguinte: o Banco Central agiu certo ao dar uma porretada de 0,5 ponto percentual e sinalizar que dará mais uma ou duas dessa magnitude. Assim, ataca logo o risco de alta da inflação e torna mais curto o período do ajuste do que ficar elevando 0,25 ponto percentual a cada 45 dias.
O câmbio preocupa, mas não haveria o que fazer no atual regime de flutuação livre da moeda. De vez em quando, o Banco Central "suja" um pouco essa flutuação livre ao comprar montanhas de dólares, mas o efeito para desvalorizar o real tem sido mínimo.
Kennedy Alencar, 40, é colunista da Folha Online e repórter especial da Folha em Brasília. Escreve para Pensata às sextas e para a coluna Brasília Online, sobre os bastidores da política federal, aos domingos. Também é comentarista do telejornal "RedeTVNews", no ar de segunda a sábado às 21h10. E-mail: kalencar@folhasp.com.br
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domingo, 20 de abril de 2008
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