Quem somos

Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brazil
Olá! Somos um grupo de amigos preocupados com os rumos tomados pela nossa insólita Nação que, após anos de alienação intelectual e política que tolheu de muitos a visão do perigo, caminha a passos largos rumo a um socialismo rastaquera, nos moldes da ilha caribenha de Fidel, ou ainda pior. Deus nos ajude e ilumine nesta singela tentativa de, através deste espaço, divulgar a verdade e alertar os que estão a dormir sem sequer sonhar com o perigo que os rodeia. Sejam bem vindos! Amigos da Verdade

sábado, 31 de maio de 2008

DIOGO MAINARDI: GOVERNO LULA CONTRATA MULHER DE MEDINA, TERRORISTA DAS FARC.

No blog do Reinaldo Azevedo

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Em recente entrevista a Diogo Schelp, em Montevidéu, durante reunião do Foro de São Paulo, Valter Pomar, da direção do PT e secretário-geral da entidade, tentou negar os vínculos das Farc com o Foro. Depois ele mandou expulsar o jornalista de uma das reuniões. Em nome da democracia, é claro. Outro membro destacado do Foro, Marco Aurélio Top Top Garcia, reclamou da mídia reacionária. Compreendo... E Diogo, agora o Mainardi, não desiste. Leiam trechos da sua coluna na VEJA desta semana. Volto em seguida:

*A mulher de Olivério Medina, o representante das Farc no Brasil, foi contratada pelo governo Lula. Agora só falta arranjar um emprego para a mulher de Fernandinho Beira-Mar, outro criminoso ligado às Farc.Em 29 de dezembro de 2006, Angela Maria Slongo foi nomeada pelo ministro da Pesca, Altemir Gregolin, para o cargo de oficial de gabinete II, com um salário de DAS 102.2. Angela Maria Slongo é mulher de Francisco Antonio Cadena Collazos, também conhecido como Olivério Medina, ou Padre Medina, ou Camilo López, ou El Cura Camilo. Quando Angela Maria Slongo foi nomeada pelo Palácio do Planalto – sim, o Ministério da Pesca é ligado diretamente ao gabinete do presidente da República –, Olivério Medina estava preso em Brasília, a pedido da Colômbia, seu país de origem, onde era acusado de atos terroristas e assassinatos.(...)Publicamente, Lula tenta se afastar da companhia das Farc. Às escondidas, seu governo dá cada vez mais sinais de irmandade com o grupo terrorista, como nesse caso da mulher de Olivério Medina. Nos computadores de Raúl Reyes, o terrorista morto pelos soldados colombianos, foi encontrada uma mensagem de Olivério Medina em que ele dizia poder contar com o apoio da "cúpula do governo" brasileiro, em particular com o ministro Celso Amorim.(...)Sempre que alguém morre no Brasil por um crime relacionado ao tráfico de drogas, pode-se dizer que há um dedo das Farc. O grupo terrorista está perdendo terreno na floresta colombiana. Mas chegou ao poder nos morros brasileiros e na Esplanada dos Ministérios. Assinante lê mais aqui

Voltei - No dia 12 de maio, publiquei aqui o post que segue. Não se engane: sempre que você achar que um petista já foi longe demais, ele ainda vai surpreendê-lo. Medina, à diferença do que considerou a Justiça brasileira, não é um refugiado. Ele é um chefão das Farc, conforme sabe o governo colombiano. Mais: os arquivos que estão nos computadores de Raul Reyes, o terrorista pançudo, indicam que o marido da professorinha é um chefão da organização criminosa. Eles também revelam que conseguir o status de refugiado faz parte da tática da guerrilha. Ainda segundo os computadores, Medina contava com a ajuda de Celso Amorim. Segue o post do dia 12.

AS FARC NO BRASIL E OLIVÉRIO MEDINA, UM CHEFE
As Farc — sim, o grupo terrorista Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia — atuam no Brasil, segundo farto material publicado no jornal colombiano El Tiempo. Ali se evidencia que os narcoguerrilheiros têm contato com nada menos de 400 grupos espalhados por sete países da América Latina, com algumas ramificações na Europa e Estados Unidos. O Peru e o Brasil servem para o recrutamento de simpatizantes e negócios com armas e cocaína; o Equador abriga o braço financeiro da organização e dá refugio a terroristas; a Venezuela, a Costa Rica e o México lavam os narcodólares.
A principal estratégia dos terroristas é enviar ao exterior representantes que ganham o status de refugiados políticos. El Tiempo dá nomes de alguns membros do grupo em vários países, e, claro, no Brasil. Sobre o Bananão, está lá: “(...) o contato das Farc, Francisco Antonio Caderna Collazos, o ‘Camilo’ — casado com uma professora brasileira e encarregado de trocar cocaína por armas e do recrutamento de simpatizantes —, não pôde ser extraditado para a Colômbia porque goza do status de refugiado desde 2006”.

Quem é esse? Ora, é o notório padre Olivério Medina, lembram? Aquele que participou, certa feita, de uma reunião com petistas em Brasília e que chegou a prometer, segundo um agente da Abin, doar US$ 5 milhões para a campanha de Lula à Presidência, em 2002. A VEJA contou a história numa reportagem, cuja íntegra está aqui: “Documentos guardados dos arquivos da Abin contam tudo. O principal foi datado de 25 de abril de 2002, está catalogado com o número 0095/3100 e recebeu a classificação de ‘secreto’. Em apenas uma folha e dividido em três parágrafos, esse documento informa que, no dia 13 de abril de 2002, um grupo de esquerdistas solidários com as Farc promoveu uma reunião político-festiva numa chácara nos arredores de Brasília. Na reunião, que teve a presença de cerca de trinta pessoas, durou mais de seis horas e acabou com um animado forró, o padre Olivério Medina, que atua como uma espécie de embaixador das Farc no Brasil, fez um anúncio pecuniário. Disse aos presentes que sua organização guerrilheira estava fazendo uma doação de 5 milhões de dólares para a campanha eleitoral de candidatos petistas de sua predileção.”
Evidentemente, os tontons-maCUTs se encarregaram de acusar uma “conspiração”. Collazos — também conhecido por Camilo e Medina —, que padre não é, foi adotado pelos esquerdopatas locais e tratado como uma vítima do governo legal da Colômbia. E, agora, está livre para agir.A principal fachada das Farc, hoje, é a CCB — ou Coordinadora Continental Bolivariana. Olivério Medina, segundo o jornal, é peça graúda. Ele integrava o comando da CCB em companhia de Raúl Reyes, o terrorista pançudo morto no Equador, e de Orlay Jurado Palomino, ou “Hermes”, que está na Venezuela. Com a morte do chefe, eles buscam ampliar a rede de contatos da CCB: o atual esforço é para instalar-se nos EUA por intermédio de uma ONG e de uma entidade ambientalista. Para ler a íntegra, clique aqui

Os petralhas, as Farc, o Foro de São Paulo e a imprensa

No blog do Reinaldo Azevedo

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Como petralha é chato! Além de burro. Pior: sempre opina antes de ler, seguindo a cartilha do mestre — cartilha oral, é claro.
A Folha de hoje traz uma matéria afirmando que o PT vetou a participação das Farc numa das reuniões do Foro de São Paulo. E os babacas afirmam que ignorei a notícia. Uma pinóia! Está no clipping. E comentada. Ocorre que minha leitura é outra. Data vênia, de Foro de São Paulo, eu entendo. Vejam lá o post das 4h45.A principal fonte da matéria é um professor colombiano que, informam os fatos, é, quando menos, um interlocutor das Farc, que o procuraram duas vezes ao menos. Comigo, por exemplo, elas não falaram. Mais: o valente pertence a uma entidade que diz defender os “direitos humanos”, mas elabora um parecer em que pede direitos de refugiado político para um terrorista e assassino.O Foro foi solenemente ignorado pela imprensa brasileira durante anos. Havia mesmo quem jurasse que ele não existia. Agora, começou a entrar na pauta — mas filtrado, como não poderia deixar de ser, pelo petismo e pelo esquerdismo. Tentam transformar o grupo numa espécie de centro acadêmico que toma o chá das cinco.O intuito é demonstrar que o PT e as Farc estão, na prática, rompidos. Deve ser por isso que o governo brasileiro contratou ninguém menos do que a mulher de Olivério Medina, um dos chefões do terror, “exilado” no Brasil.Esse “exílio” é uma piada macabra — uma das grandes pisadas no tomate do Supremo Tribunal Federal. Já se viu antes exilado político de democracias? A Colômbia, na parte não tomada pela guerrilha, é uma democracia. Mais: documentos das Farc demonstram que a estratégia do grupo consiste justamente em conquistar para seus representantes a condição de “refugiados”. Na pele de “perseguidos políticos”, os meliantes se encarregam do tráfico de drogas, de armas e do recrutamento de "soldados" para a sua luta.

VENEZUELA - Lei prevê punição de quem não colaborar com serviço secreto

Nada de novo na implementação do sistema... Quem leu "1984" de George Orwell sabe muito bem como isso funciona. Logo os venezuelanos estarão sendo enviados para desaparecer dentro dos porões do "Ministério do Amor"...

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FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS

O presidente Hugo Chávez promulgou nesta semana uma lei que obriga cidadãos comuns, estrangeiros na Venezuela e membros do Judiciário a cooperar com os serviços de inteligência do Estado, sob a ameaça de até seis anos de prisão.
De acordo com a Lei do Sistema Nacional de Inteligência e Contra-Inteligência, são consideradas "órgãos de apoio" "as pessoas naturais e jurídicas, de direito público e privado, nacionais ou estrangeiras, (...), quando seja solicitada sua cooperação para a obtenção de informação ou de apoio técnico".
O descumprimento será sancionado por uma lei de 2002, que prevê até seis anos de prisão para quem se negar "a atender os requerimentos feitos por organismos do Estado nos assuntos relacionados com a defesa da nação".
Para a ONG Controle Cidadão, a lei cria uma "espionagem social" semelhante ao sistema cubano e é uma ameaça à imprensa.
O ministro do Interior (Justiça), Ramón Rodríguez Chacín, disse que o objetivo da lei é "neutralizar" ações contra o Estado, entre elas "a ingerência dos EUA nos assuntos internos do país".

Ministro

Chávez decidiu ontem manter o ministro da Comunicação, Andrés Izarra, que havia posto seu cargo à disposição depois da reação negativa à decisão da TV estatal, controlada por sua pasta, de cobrar pela retransmissão de suas imagens por redes privadas. Na véspera, o governo já havia recuado e mantido a cessão gratuita das imagens.

Brasil será sócio nº 1 de Cuba, diz Amorim

Na Folha de SP - 31/5/2008

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FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A HAVANA

O Brasil quer ser o "sócio número um" na "nova fase" da vida de Cuba. A mensagem foi trazida pelo chanceler brasileiro, Celso Amorim, que viajou a Havana com uma comissão de empresários. Ele assinou ontem um acordo para avançar a cooperação técnica para o plantio de soja na ilha, uma das raras experiências de parceria com estrangeiros em agricultura, alçada ao patamar de área estratégica pelo novo líder cubano, Raúl Castro."Este é um momento novo, renovado de Cuba. O Brasil não quer ser o sócio número dois, quer ser o sócio número um no progresso da ilha", disse o chanceler, ao lado do colega cubano, Felipe Pérez Roque.
O principal parceiro e aliado de Cuba é há alguns anos a Venezuela de Hugo Chávez, o que reveste o recado brasileiro também de sentido político (embora Amorim tenha dito que a liderança brasileira se dará "sem excluir" outros países). O Brasil é o número dois no ranking de intercâmbio comercial de Cuba com a América Latina (US$ 412 milhões em 2007), mas só o oitavo no mundo.
A missão brasileira chegou a Cuba anteontem para aprofundar os acordos fechados na visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à ilha -definida por Amorim como "de trabalho e de afeto". Segundo o ministro, Lula acompanha "pessoalmente" a parceria bilateral.
Se não tem os mais de US$ 2 bilhões anuais do comércio Venezuela-Cuba, que se traduz na troca de muito petróleo barato por serviços médicos cubanos e lastro ideológico, a proposta do Brasil é oferecer cooperação técnica, ajudar na "segurança alimentar" da ilha e negociar investimentos em infra-estrutura. Como os combustíveis, os últimos dois também são gargalos da economia cubana.
O único acordo assinado foi um instrumento jurídico para aprofundar a parceria técnica, por meio da Embrapa, para semear até 40 mil hectares de soja em Cuba. A parceria não envolve aquisição de terras.
Para conhecedores da ilha, a posse de terras por estrangeiros é veto consagrado pelo regime castrista, mas o investimento estrangeiro já acontece em vários setores desde os anos 90."As pessoas têm uma visão errada da economia de Cuba. O investimento estrangeiro está nas mais importantes áreas da economia. No turismo, na geração de energia, na exploração de petróleo", disse o ministro de Comércio Exterior cubano, Raúl de La Nuez.

Na mão de militares

O projeto da soja foi entregue às mãos da alta cúpula militar e é também acompanhado "pessoalmente" por Raúl Castro, como frisou o chanceler Pérez Roque em conversa com Amorim, diante dos jornalistas.
Da cerimônia de assinatura, participaram os dois responsáveis pela iniciativa, o general-de-divisão, Ruben Martínez Puente, diretor da União Agropecuária, espécie de braço militar para projetos agropecuários, e o coronel Abel Izquierdo, chefe da Direção Econômica das Forças Armadas.
Desde 2006, Raúl Castro anunciou ênfase na produção agropecuária, com uma série de medidas para ampliar a produtividade. E não parece um acaso que o projeto com o Brasil fique sob comando dos militares.
Raúl foi chefe das Forças Armadas desde 1959 e, na profunda crise dos anos 90, foram os militares que assumiram, e comandam até hoje, setores estratégicos da ilha como o turismo, a principal fonte de divisas.
Da missão brasileira, participaram representantes de cerca de 40 empresas, entre elas a construtora Camargo Correa e a Volvo -capital brasileiro já está na ilha em uma parceria para a produção de tabaco e na importação de máquinas agrícolas, principalmente. Também vieram representantes do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Segundo Amorim, o Brasil já tem acordo para crédito de US$ 150 milhões para a importação de alimentos. A Apex, agência brasileira de apoio à exportação, vai abrir escritório em Havana.

quinta-feira, 29 de maio de 2008

Lulinha: Nós pagamos as contas dele tambem

Do Blog de Reinal de Azevedo de 29/5/2008

Governo pagou internet de filho de Lula, diz deputado

Por Andreza Matais, na Folha. Volto depois:
O sub-relator da CPI dos Cartões Corporativos, deputado Índio da Costa (DEM-RJ), acusou ontem a Presidência da República de pagar conta de internet de um filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O registro aparece entre as despesas da Casa Civil que foram encaminhados à CPI e indica pagamento ao provedor Universo Online Ltda. O boleto está em nome de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha.
O deputado incluiu o gasto de R$ 112,11, no dia 2 de setembro de 2003, no sub-relatório que apresentou ontem à CPI e o considerou como "emblemático" dos erros, desvios e irregularidades do governo no uso do cartão corporativo.
Na prestação de contas da Casa Civil, o "agente suprido" Waldir Richter Medeiros não menciona o gasto específico. Diz apenas que foram feitos saques, no período de 20 de agosto de 2003 a 18 de setembro do mesmo ano, "para a realização de pequenas despesas".

Comento
Pô, pessoal, tá na cara que a internet do filho de Lula é um assunto de segurança nacional, né? Sim, é pouco dinheiro, uma porcaria mesmo. Isso só acende a curiosidade, numa pessoa que lida com a lógica, sobre os gastos que não conhecemos.

A indagação lógica é a seguinte: se a gente paga uma despesa pessoal do filho do presidente de ridículos R$ 112,11, o que faz supor que o próprio Lula pague as despesas pessoais do rapaz (e as suas próprias) muito acima desse valor? Ou será que a família Lula da Silva só mostra esse lado, digamos, muquirana quando se trata de pouco dinheiro?

terça-feira, 27 de maio de 2008

Veja: O PT só gosta de elogio

Do Newsletter de Polibio Braga, de 27/5/2008

O que Rosário e Manuela foram fazer na reunião do Foro de São Paulo ?

A mídia gaúcha não acompanhou nem de longe a reunião que o Foro de São Paulo realizou de quinta-feira a domingo em Montevidéu. Ali estiveram alguns gaúchos de peso, mas para os interesses políticos paroquiais, as presenças que mais chamaram a atenção foram as das deputadas Maria do Rosário, do PT, e Manuela D’Ávila, do PC do B, embora também tenha dado as caras por lá o assessor para assuntos internacionais de Lula, o gaúcho Marco Aurélio Top Top Garcia, que repetiu suas velhas diatribes neotrotskistas contra a imprensa. Aliás, o repórter da revista Veja que foi cobrir as reuniões, acabou sendo expulso de pelo menos um dos locais de discussões, embora colegas seus do México e da Argentina tenham permanecido nele. O PT do Brasil pediu a expulsão de Veja.

. O Foro de São Paulo foi criado por organizações de esquerda latinoamericanas para desenvolver uma estratégia comum de ações, objetivando a implantação do socialismo no continente. O Foro já avisou mil vezes que não tem compromissos com o mercado (liberdade econômica) e nem com a chamada democracia representativa (liberdade política), porque um e outro são considerados “excrecências burguesas egoístas”. Esta reunião de Montevidéu foi comandada pelo PT do Brasil

segunda-feira, 26 de maio de 2008

1964, 1968, 2008 e uma fala de Franklin Martins

No blog do Reinaldo Azevedo

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A revista dominical do Correio Braziliense fez neste domingo matéria especial sobre o 1968, o ano que não acaba nunca... de encher o nosso saco! Ah, sim, crianças: a minha paciência com isso é bem pequenininha. Até porque só pode se encantar com a essência daquele movimento — que ganhou forma mais aparentemente universal na França — quem não leu as Memórias, de Raymond Aron. Em trechos contundentes, ele narra a estupidez obscurantista daqueles “jovens revolucionários”. O salto tecnológico a que o mundo assistiu nos últimos 40 anos — especialmente do fim dos anos 70 para cá — têm relação direta com o espírito anti-68. Vale dizer: foi fruto da revolução econômica que os caudatários daquele libertarismo chamam de “neoliberal”. Ronald Reagan foi muito mais importante para a humanidade — e para a causa da liberdade —do que Jean-Paul Sartre e sua cara “de terreno baldio” (segundo o próprio em suas memórias precoces). Mas vá tentar dizer isso...
Adiante. Um dos entrevistados na reportagem especial foi Franklin Martins, ex-militante do MR-8 e um dos seqüestradores do embaixador americano Charles Burke Elbrick, trocado, em 1969, por 13 presos políticos. Num dado momento, afirma o agora ministro da Comunicação Social: “É melhor ser herdeiro de 68 do que de 64. Ter uma ditadura é muito pior do que ser herdeiro de um movimento que atingiu ou não resultados. O erro é querer reduzir 1968 a uma coisa só.”
Concordo ou desanco? Desanco, mas concordo com uma parte: “O erro é querer reduzir 1968 a uma coisa só”. Isso é verdade. Havia certamente aqueles que queriam o fim da ditadura e a democracia. Não é o caso de Franklin Martins. Membro do MR-8, grupo que aderiu ao terrorismo, ele estava entre aqueles — a exemplo de Dilma Rousseff e Carlos Minc — que lutavam para instituir uma ditadura no Brasil. Repito aqui o que escrevi no dia 29 de agosto do ano passado: “A democracia no Brasil não morreu em 1964 porque a direita deu um golpe. Morreu porque não havia quem a defendesse, de lado nenhum. Um governante responsável não teria promovido, ele próprio, a subversão, como fez João Goulart, incentivado pelos nacionalistas bocós e pelos bolcheviques tupiniquis, que imaginavam que ele pudesse ser o seu Kerensky. Não podia. Era ainda mais idiota.”
A fala de Franklin Martins remete à velha mitologia de que “a turma de 1968”, inclsuive os que recorreram ao terrorismo, queriam um país democrático, daí ele considerar que é “melhor ser herdeiro de 68 do que de 64”. Depende! Membro que era do MR-8, Franklin, então, era um stalinista. Digamos que os “herdeiros de 64” carregassem 424 mortos nas costas. Os de 68 levam os 35 milhões de Stálin. Mas essa é uma conta macabra, né? Franklin poderia se orgulhar, então, de, em 1968, ter sido um democrata, enquanto o pessoal que fez 1964 optou pela ditadura. Foi?
Faz mais de um ano, instituí aqui um prêmio para quem localizasse um texto, um que fosse, dos grandes teóricos de esquerda ou das organizações esquerdistas brasileiras pré e pós-68 que defendesse a democracia. É evidente que nunca ninguém apresentou coisa nenhuma. E nem vai. Quem chegou mais perto, só no fim dos anos 70, foi o gramsciano Carlos Nelson Coutinho, segundo quem a democracia era uma questão fundamental para a construção do... socialismo!!! “Socialismo com democracia” é coisa mais complicada do que a quadratura do círculo. Será que apenas o Brasil operaria esse milagre? É... Só a gente teve Pelé...
Essa questão tem alguma relevância hoje em dia? Tem, sim. Segundo matéria há tempos publicada pelo Estadão e jamais desmentida, no marco zero do dossiê, está uma reunião da qual participaram os ex-“meiaoito” Franklin e Dilma Rousseff. Assim como eles acharam, no passado, que a conjuntura e a ideologia justificavam ações terroristas, acham, no presente, que sua suposta superioridade moral os autoriza a adotar procedimentos que enxovalham o estado de direito. Afinal, eles têm uma causa, não é?
E foi o mito da “resistência” que levou Dilma, em cujo gabinete se fez um dossiê que desmoraliza a democracia, a fazer o famoso discurso no Senado em resposta ao senador Agripino Maia. Afinal, esse pessoal acha preferível ser herdeiro intelectual de uma ditadura que matou muitos milhões a ser herdeiro de um outra que matou poucas centenas.Para uma pessoa de caráter, basta uma única morte para que soem os sinos.

domingo, 25 de maio de 2008

Garcia ataca imprensa no Foro

Por Diogo Schelp, jornalista da Veja, na cobertura do encontro do Foro de São Paulo em Montevidéu

Marco Aurélio Garcia, assessor do presidente Lula, já disse certa vez que gosta de ir a Buenos Aires "porque lá se pode ler os jornais". O desconforto de Garcia com a liberdade de expressão veio à tona novamente ontem, no Foro de São Paulo, no Uruguai. Disse Garcia no início de seu discurso: "O triunfo da esquerda foi insuportável para uma direita que hoje sequer consegue conviver com instituições democráticas que tanto defendiam em seus discursos, mas que na prática não respeitam. Esta é a situação da direita e de seus pasquins, alguns dos quais inclusive estão aqui, porque esta é uma reunião democrática e até os pasquins de extrema direita têm a possibilidade de estar presentes".
Neste sábado, Garcia disse também que o governo brasileiro quer que os outros países da América Latina participem da exploração das novas reservas de petróleo anunciadas pela Petrobras nos últimos meses. A tarefa, segundo Garcia, exigirá investimento de 600 bilhões de dólares. Ele disse que os novos recursos energéticos não devem beneficiar apenas aos brasileiros, mas a toda a região.

O fantasma das Farc ronda o encontro da esquerda latina em Montevidéu

Por Diogo Schelp, jornalista da Veja, na cbertura da reunião do Foro de São Paulo em Montevidéu


As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estão presentes no Foro de São Paulo. Não, não há nenhum terrorista com uma credencial onde se lê “Farc-EP” andando pelos corredores do Edifício do Mercosul, em Montevidéu, onde ocorre o encontro. Mas a cada vez que algum dos participantes toma a palavra nos debates e toca no assunto Colômbia, percebe-se a presença das Farc – na forma de argumentos que tentam justificar sua existência e na incapacidade de condenar com firmeza os crimes cometidos pelo grupo.
Representantes das Farc já participaram em várias edições do Foro de São Paulo. Há muitos anos se sabe que o grupo tem ligações com o narcotráfico, vale-se de métodos desumanos de recrutamento e mantém centenas de pessoas seqüestradas. Há poucos meses, no entanto, os detalhes desses crimes e a maneira atroz como os seqüestrados são tratados vieram à tona e ficou impossível para quem apoiava as Farc negar os seus crimes. Nesse contexto, seria de esperar que o Foro de São Paulo se manifestasse de maneira contundente e inequívoca contra o grupo que já fez parte de suas fileiras. Não é o que está acontecendo. No plenário que ocorreu no sábado, dia 24, à tarde, por exemplo, um representante do PRD (o partido de Lopez Obrador, ex-candidato presidencial no México) fez um discurso em que disse: “Queremos que as Farc sejam reconhecidas como força beligerante, para que possam ter participação política no processo colombiano.” É exatamente o que as Farc querem e é exatamente o que o presidente venezuelano Hugo Chávez tem defendido desde que ficou evidente seu vínculo com o grupo.

Crítica – A única crítica contra as Farc, até agora, foi feita por Carlos Gaviria, ex-candidato à presidência da Colômbia pelo Pólo Democrático Alternativo. Mas Gaviria restringiu-se a dizer que discorda dos métodos dos grupos armados colombianos e em nenhum momento citou as Farc nominalmente. Ao final, relativizou os crimes dos terroristas dando a entender que eles têm motivação social. Eis alguns trechos do discurso:
“Temos uma dificuldade, que é a luta armada. Para nós, consiste em um desgaste de energia permanente cada vez que temos que manifestar que não concordamos com a luta armada. De que é preciso buscar a conformação de uma sociedade democrática pela via do debate público, pela via eleitoral. Eu sempre acreditei que essa é a única via para conseguir as reformas substanciais que nossas sociedades necessitam. Há alguns anos, éramos taxados de utópicos por isso. Eu, que tenho feito uso de uma ética incompatível com o uso da força e de uma filosofia política que se orienta dessa mesma forma, tenho que estar permanentemente fazendo esse tipo de manifestação. Que desgaste tão inútil de energia! Agora mesmo, aqui, um jornalista me perguntava se eu deploro os crimes cometidos pela guerrilha ou pela insurgência na Colômbia. Incomoda-me que me façam essa pergunta. Toda a minha vida estive comprometido com a defesa dos direitos humanos, e o Pólo também está.”
“A luta insurgente, com seus atos rechaçados por toda a sociedade, tem contribuído para dar mais estabilidade ao regime [de Uribe].”
“Hoje, eu acho que os utópicos são os que acham que na América Latina pode triunfar um movimento armado. De maneira que não unicamente por razões de ética de filosofia política, como também por questão de viabilidade, esta via está descartada para nós.”
“Mas o que faz o governo? Todos os dias, nega que haja um conflito armado na Colômbia. Claro que tem que negá-la, porque se assume, a pergunta seguinte é: e quais são os fatores que geraram esse conflito? Entre esses fatores, é preciso enumerar a pobreza, a distribuição desigual da riqueza, a exclusão, e o governo não quer saber nada disso. Então nega a existência de um conflito armado, contra toda a evidência. Temos que identificar qual é o nosso verdadeiro adversário e não gastar energia destroçando-nos entre nós mesmos.”

Mentiras – Segundo explicou a VEJA María Belela Herrera, uma ativa participante do foro que até recentemente ocupava o cargo de vice-chanceler no governo do presidente uruguaio Tabaré Vazquez, as Farc não comparecem ao encontro esquerdista desde sua última edição brasileira, em 2005. Antes disso, os terroristas não só participavam dos encontros do Foro de São Paulo, como faziam intervenções freqüentes nos debates – em geral para contar mentiras, como dizer que não têm ligação com o narcotráfico.
No encontro em Montevidéu, por exemplo, está à venda um livro chamado “Debates e propostas da esquerda para o século XXI” que contém o conteúdo das principais discussões ocorridas no sétimo e no oitavo encontros do foro. Está lá, por exemplo, o conteúdo de uma oficina com o tema “O narcotráfico na América Latina e no Caribe”, em que os representantes das Farc conseguiram que fosse incluído, no documento final do debate, um texto de Raúl Reyes, do Secretariado do Estado Maior Central das Farc. Sim, trata-se do mesmo Reyes que foi morto por uma operação do exército colombiano, este ano.
Eis um trecho de seu texto: “É necessário repetir que as Farc-EP não compartilha, não negocia, não tem relação com o narcotráfico, que rechaçamos por princípio e por ética, porque é incompatível com a democracia e a convivência cidadã”, etc. Em outra oficina, com o tema de “Negociação e processos de paz na América Latina”, há um resumo do discurso feito por um dos terroristas. Eis um trecho curto: “Por último tomou a palavra Marco Leon Calarcá, representante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP), que afirmou que não pode existir uma verdadeira paz se forem mantidas as condições de miséria e injustiça que sofre o povo colombiano.” Guarda uma certa semelhança com parte do discurso feito no atual encontro por Gavíria.

Ortega lamenta a morte de terrorista das Farc

Diego Schelp, jornalista da Veja, direto da reunião do Foro de São Paulo em Montevidéu

O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, apresentou neste domingo no Uruguai suas condolências pela morte do chefe das Farc, o grupo narcoterrorista que tem mais de sete centenas de pessoas aprisionadas na selva colombiana. Ortega teve a honra de encerrar, com seu discurso, o Foro de São Paulo, um encontro de organizações de esquerda latino-americanas liderado pelo PT. E dedicou sua fala totalmente a Manuel Marulanda, o Tirofijo.
A platéia aplaudiu constantemente e com ânimo os elogios feitos pelo nicaragüense ao chefe terrorista, cuja morte foi anunciada no sábado pelo governo colombiano. As declarações do presidente sandinista e a reação dos participantes do evento não deixaram dúvidas de que as Farc, ainda que desta vez não estiveram presentes, seguem tendo amplo apoio dentro do Foro de São Paulo. Alguns trechos do discurso de Ortega:
“Recebemos hoje a notícia do falecimento do comandante Manuel Marulanda Vélez, das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia. Tudo indica que a notícia é verdadeira. Há um comunicado das Farc confirmando esta notícia. Eu quero expressar minhas condolências e minha solidariedade para com as Farc e para com a família do comandante Marulanda. Um lutador extraordinário que vem batalhando desde muitos anos. Um guerrilheiro com a luta, agora interrompida, mais longa da história da América Latina e do Caribe. Uma luta que tem suas origens, suas raízes, nas profundas desigualdades que vive o povo irmão colombiano.”
Terroristas? – “Que autoridade pode ter o regime colombiano, os ianques e os europeus para classificar quem é terrorista e quem não é terrorista? Nós sim, podemos classificar quem são os terroristas. Terrorista são o governo ianque e os governos europeus, que praticam um terrorismo não apenas quando fazem uso da força militar contra o nosso povo, como estão fazendo agora no Iraque, no Afeganistão ou em ameaças a outros povos. Estão praticando um terrorismo de maneira sistemática, assassinando milhões de seres humanos no planeta com suas políticas econômicas. Eles seguem explorando nossos povos e se irritando quando nos atrevemos a falar, e nos mandam calar.”
“A Colômbia se tornou, na América Latina, o governo mais desestabilizador da região. Por quê? Porque há um movimento revolucionário de diferentes organizações – as Farc, o ELN e outras -- e formado por populares que tentam lançar-se no plano político e que corriam o risco de serem assassinados. Como foram assassinados milhares de colombianos que entregaram as armas, no passado.”
‘Homem humilde’ – “Há alguns anos, quando o governo colombiano estava negociando um acordo com as Farc, eu fiquei conversando com o Marulanda. Era um homem humilde, o Marulanda, que falava com humildade. E me sinto honrado de ter-lhe dado, em nome de nosso povo, a ordem “Sandino”. Manuel Marulanda Vélez, um valente, um lutador. E naquele momento, vejam vocês, o guerrilheiro colombiano não era considerado terrorista.”
“O ataque colombiano ao território equatoriano foi um ato de terrorismo de estado. Raúl Reyes era o companheiro que vinha adquirindo, e já havia adquirido, a maior experiência e capacidade para buscar o entendimento e os contatos em todo o campo internacional. Ele era recebido por todos lados. Quem o recebia eram homens e mulheres de boa vontade que queriam a paz na Colômbia. Não eram apenas os revolucionários que o recebiam.”
“Digo aos amigos das Farc que temos de continuar batalhando pela paz na Colômbia. Nossa meta é ir rompendo com as amarras que as reformas neoliberais impuseram ao nosso povo.”
“O povo unido, jamais será vencido. Viva o Foro de São Paulo!”
“Viva!”, gritou a platéia.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Lula diz que Unasul cria sonho maior que o de Bolívar

Na Reuters

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Por Isabel Versiani
BRASÍLIA (Reuters) - Ao saudar a criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o novo organismo realiza um sonho maior que o de Simon Bolívar, o herói da independência latino-americana e defensor da integração entre os países da região.
"Está acontecendo uma coisa extraordinária", comemorou Lula. "Nós criamos mais do que Bolívar quando bradou a criação da Grande Colômbia, criamos a grande nação sul-americana."
A Grande Colômbia foi uma federação de Estados, que congregou os atuais territórios da Colômbia, Venezuela, Panamá e Equador e foi presidida por Bolívar após as guerras de libertação no século 19.
O entusiasmo de Lula não arrefeceu nem diante das limitações econômicas para promover a integração do continente. Ao lado dos presidentes da Bolívia, Evo Morales, e do Chile, Michelle Bachelet, Lula admitiu que a Unasul não tem os recursos que a União Européia teve para reduzir as assimetrias entre os países, mas apostou na disposição dos vizinhos sul-americanos.
"Não temos o dinheiro, mas certamente nossa vontade política, a crença que nós temos na integração, vai permitir que façamos esse processo em menos tempo do que qualquer outro", disse Lula.
O presidente brasileiro se disse de "alma lavada" com a assinatura do tratado de criação da Unasul.
"Seria impossível imaginar há quatro anos que chegaríamos a esse ponto", disse Lula, referindo-se ao primeiro debate para a formação da Unasul, em 2004, em Cuzco, no Peru.
Lula destacou a necessidade de a integração sul-americana superar divergências pontuais e ressaltou que os países da região criam muita dificuldade quando algo dá errado.
Segundo ele, na União Européia, quando os Estados Unidos atacaram o Iraque, Inglaterra e Espanha foram a favor, e Alemanha e Espanha contra, e não houve ruptura da organização.
TABULEIRO DO PODER
Mais cedo, Lula afirmara que com a criação da Unasul, a América do Sul ganhava estatura de ator global e um novo papel geopolítico.
"Uma América do Sul unida mexerá com o tabuleiro de poder no mundo", disse ele no discurso de abertura da reunião de cúpula da Unasul.
Lula defendeu que a Unasul seja construída como parte dos projetos de desenvolvimento de cada país, mas em benefício de todos.
"Nossa América do Sul não será mais um mero conceito geográfico. A partir de hoje é uma realidade política, econômica e social, com funcionalidade própria", afirmou.
Responsável pela abertura da cúpula, pelo papel de anfitrião, Lula disse que os olhos do mundo se voltarão para a América do Sul pela falta de alimentos e que o continente saberá responder sem abrir mão de sua soberania.
Lula disse que quando a escassez de alimentos ameaça a paz social em várias partes do mundo, muitos vêm buscar propostas "em nossa região".
"Temos consciência de nossas responsabilidade globais, mas não abrimos mão de exercê-las de forma totalmente soberana", disse Lula.
"Não nos deixaremos iludir pelos argumentos daqueles que por interesses protecionistas, por motivação geopolítica, se sentem incomodados com o crescimento da nossa indústria, da nossa agricultura, com a realização de nosso potencial energético", acrescentou.

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Não compartilho da opinião do Reinaldo Azevedo, de que a criação deste elefante branco latinoamericano seja sem importância. É verdade que o Mercosul, um arranjo político-econômico muito mais simples e com menos atores envolvidos, até hoje padece de desarticulação e ineficiência. Mas ali mesmo já estava plantada a sementinha do mal, o olho da serpente que agora viceja neste novo passo das esquerdas latinoamericanas em direção ao objetivo bem especificado nas atas do Foro e nos discursos de Lula, qual seja, o de reconstruir na América Latina o que se perdeu na Europa: a URSS, com a simples troca do "S" por um "AL" na sigla.

A escória do mundo

Olavo de Carvalho
Diário do Comércio (editorial), 20 de maio de 2008

“Cuanto más alto sube, baja al suelo.” (Frei Luís de León)
Vou resumir aqui umas verdades óbvias e bem provadas, que uma desprezível convenção politicamente correta proíbe como indecentes.
Todo comunista, sem exceção, é cúmplice de genocídio, é um criminoso, um celerado, tanto mais desprovido de consciência moral quanto mais imbuído da ilusão satânica da sua própria santidade.
Nenhum comunista merece consideração, nenhum comunista é pessoa decente, nenhum comunista é digno de crédito.
São todos, junto com os nazistas e os terroristas islâmicos, a escória da espécie humana. Devemos respeitar seu direito à vida e à liberdade, como respeitamos o dos cães e das lagartixas, mas não devemos lhes conceder nada mais que isso. E seu direito à vida cessa no instante em que atentam contra a vida alheia.
Nos anos 60 e 70, a guerrilha brasileira não foi nenhuma epopéia libertária, foi uma extensão local da ditadura cubana que, àquela altura, já tinha fuzilado pelo menos dezessete mil pessoas e mantinha nos cárceres cem mil prisioneiros políticos simultaneamente, número cinqüenta vezes maior que o dos terroristas que passaram pela cadeia durante o nosso regime militar, distribuidos ao longo de duas décadas, nenhum por mais de dois anos – e isto num país de população quinze vezes maior que a de Cuba. Nossos terroristas recebiam dinheiro, armas e orientação do regime mais repressivo e assassino que já houve na América Latina, e ainda tinham o cinismo de apregoar que lutavam pela liberdade.
Agora que estão no poder, enchem-se de verbas públicas e justificam a comedeira alegando que o Estado lhes deve reparações. O dinheiro do Estado é do povo brasileiro e o povo brasileiro não lhes deve nada. Eles é que devem aos filhos e netos daqueles que suas bombas aleijaram e seus tiros mataram.
Perguntem aos cidadãos, nas ruas: “O senhor, a senhora, acham que têm uma dívida a pagar aos terroristas, pelo simples fato de que a violência deles foi vencida pela violência policial? O senhor, a senhora, acham justo que o Estado lhes arranque impostos para enriquecer aqueles que se acham vítimas injustiçadas porque o governo matou trezentos deles enquanto eles só conseguiram, coitadinhos, matar a metade disso?”
Façam uma consulta, façam um plebiscito. A nação inteira responderá com o mais eloqüente NÃO já ouvido no território nacional.
É claro que os crimes que esses bandidos cometeram não justificam nenhuma barbaridade que se tenha feito contra eles na cadeia. Mas justifica que estivessem na cadeia, embora tenham ficado lá menos tempo do que mereciam. E justifica que, surpreendidos em flagrante delito e respondendo à bala, fossem abatidos à bala.
Mas eles não acham isso. Acham que foi um crime intolerável o Estado ter armado uma tocaia para matar o chefe deles, Carlos Marighela, confessadamente responsável por atentados que já tinham feito várias dezenas de vítimas inocentes; mas que, ao contrário, foi um ato de elevadíssima justiça a tocaia que montaram para assassinar diante da mulher e do filho pequeno um oficial americano a quem acusavam, sem a mínima prova até hoje, de “dar aulas de tortura”.
Durante a ditadura, muitos direitistas e conservadores arriscaram vida, bens e reputação para defender comunistas, para abrigá-los em suas casas, para enviá-los ao exterior antes que a polícia os pegasse. Não há, em toda a história do último século, no Brasil ou no mundo, exemplo de comunista que algum dia fizesse o mesmo por um direitista.
Sim, os comunistas são diferentes da humanidade normal. São diferentes porque se acham diferentes. São inferiores porque se acham superiores. São a escória porque se acham, como dizia Che Guevara, “o primeiro escalão da espécie humana”.
Eles têm, no seu próprio entender, o monopólio do direito de matar. Quando espalham bombas em lugares onde elas inevitavelmente atingirão pessoas inocentes, acham que cumprem um dever sagrado. Quando você atira no comunista armado antes que ele o mate, você é um monstro fascista.
Por isso é que acham muito natural receber indenizações em vez de pagá-las às vítimas de seus crimes.
Quem pode esperar um debate político razoável com pessoas de mentalidade tão deformada, tão manifestamente sociopática?
Um comunista honesto, um comunista honrado, um comunista bom, um comunista que por princípio diga a verdade contra o Partido, um comunista que sobreponha aos interesses da sua maldita revolução o direito de seus adversários à vida e à liberdade, um comunista sem ódio insano no coração e ambições megalômanas na cabeça, é uma roda triangular, um elefante com asas, uma pedra que fala, um leão que pia em vez de rugir e só come alface. Não existiu jamais, não existe hoje, não existirá nunca.

Os homens certos no lugar certo

Olavo de Carvalho
Inconfidência (Belo Horizonte), 19 de maio de 2008

Chamar o sr. Tarso Genro de terrorista e mentiroso, como o fez o deputado Jair Bolsonaro no memorável dia 15 de maio, é uma simples questão de rigor histórico.
Quanto ao primeiro desses qualificativos, o ministro, que participou ativamente de uma organização dedicada a atentados e homicídios – sob a desculpa de lutar contra uma ditadura que ele chamava de assassina mas colocando-se a serviço de outra ditadura incomparavelmente mais assassina –, continua alardeando sua fidelidade ao marxismo, doutrina explicitamente terrorista. Por definição, o porta-voz de uma doutrina terrorista é terrorista, mesmo depois que a idade e as circunstâncias o dispensaram da parte mais grosseira e suja do serviço.
Se o sr. Genro afirma que as práticas terroristas já não se justificam no presente quadro, é manifesto que tem em vista a mera questão da oportunidade tática, excluindo in limine qualquer condenação moral ao terrorismo em si; e é igualmente claro que mesmo sua restrição tática só se aplica ao Brasil, não a outros países da América Latina, de vez que até o momento nem ele, nem o governo que ele representa, nem o partido que os colocou no poder abjuraram jamais da declaração de apoio aos métodos terroristas das Farc, assinada em 2002 no Foro de São Paulo pelo sr. Lula da Silva, declaração que, para cúmulo de cinismo, rotulava de “terrorista”, isto sim, o combate movido contra a narcoguerrilha pelo Exército da Colômbia.
A qualificação de “ex-terrorista”, que a mídia adotou para embelezar a folha corrida de indivíduos como o sr. Genro, é artificiosa e descabida como o seria a de “ex-assassino”. Uma organização terrorista, por definição, não se compõe só dos paus-mandados que colocam bombas em locais onde elas inevitavelmente matarão transeuntes inocentes; nem só dos pistoleiros que armam tocaias para balear gente pelas costas; nem só dos heróicos assaltantes que, de metralhadora em punho, fazem tremer pálidas funcionárias de bancos. Uma organização terrorista é uma hierarquia camuflada e sutil que sobe desde esses bas-fonds até os altos postos da administração, da mídia e da diplomacia, de onde se estende sobre ela o manto protetor das meias-palavras e das desconversas, exatamente como os agentes políticos do Foro de São Paulo em Brasília fazem com as Farc, o MIR chileno e outras gangues de assassinos, seqüestradores e narcotraficantes. Se um soldado é dispensado da batalha, mas removido para posto administrativo, ele não foi para a reserva: está na ativa. Não é um ex-soldado, é um soldado. Se um terrorista já não tem de dar tiros e soltar bombas, mas continua mesclado à rede política que dá proteção ao terrorismo, não é um ex-terrorista: é um terrorista. Servindo ao governo do Foro de São Paulo, o sr. Genro é uma das peças fundamentais da mais imensa máquina terrorista que já existiu no continente. E é claro que por dentro ele se orgulha disso, desprezando e odiando aqueles que vêem aí algum motivo de desonra. Quando ele foi obrigado a ouvir calado as palavras verazes do deputado Bolsonaro, foi de cabeça baixa, mas não de vergonha, e sim de raiva, que ele se submeteu a esse humilhante ritual democrático do qual, como membro ilustre da Nomenklatura , estaria dispensado em Cuba ou na Coréia do Norte. E a raiva mal contida explodiu logo no dia seguinte, fazendo desabar sobre a pessoa do coronel Brilhante Ustra todo o insaciável desejo de vingança, todo o ressentimento insano que os terroristas de Brasília têm contra os militares que preferiram continuar servindo ao Brasil em vez de alistar-se nas tropas revolucionárias de Cuba.
Quanto ao qualificativo de mentiroso, qual outro caberia ao representante de um governo que, tentando ceder um Estado inteiro da Federação aos poderes internacionais, o faz não somente contornando como um ladrão furtivo a autoridade soberana do Congresso, mas usando como pretexto “científico” para a doação um laudo antropológico falso, assinado com nomes de pessoas que nem mesmo sabiam da sua existência?
O pronunciamento do deputado Bolsonaro só pecou por incompletude, que a brevidade explica. Primeiro, não é só o ministro Genro que é terrorista e mentiroso. O governo Lula está repleto deles. Segundo, esses indivíduos não são só terroristas e mentirosos: são traidores do Brasil, mercadores da soberania nacional. Subiram ao poder para doar Roraima aos globalistas, a Petrobrás à Bolívia, Itaipu ao Paraguai, as favelas do Rio às Farc e, por toda parte, terras produtivas à Via Campesina. Nenhum brasileiro lhes deve respeito. O simples fato de alguém como o general Heleno, o deputado Bolsonaro ou até um zé-ninguém como eu lhes dirigir a palavra já é honra que não merecem. Não digo que o lugar deles seja a cadeia, onde há delinqüentes recuperáveis. Nem o cemitério, onde repousam defuntos virtuosos. Nem o lixo, que pode ser reciclado. Não, não há no mundo um espaço apropriado para eles. Talvez somente o inferno os abrigasse. Foi por isso que criaram o Foro de São Paulo. Cada um deles é agora o homem certo no lugar certo.

Chávez e as afinidades

No blog do Reinaldo Azevedo

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Leia o que vai abaixo, por Ligia Formenti, no Estadão Online. Volto depois:

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou hoje, em Brasília, que a criação da União Sul-Americana de Nações (Unasul) pode propiciar a unidade econômica entre os países sul-americanos. Segundo Chávez, essa união econômica é um dos principais objetivos a serem buscados pela Unasul. Ele ressaltou também as desavenças com os Estados Unidos e a Colômbia. "É o presidente mais impopular da história do mundo. Não o querem nem mesmo em sua casa", afirmou.
Chávez ainda criticou a proposta norte-americana de reativar a 4ª Frota de Intervenção dos EUA na América Latina, que navegará nos Oceanos Atlântico e Pacífico. "É a velha tática de ameaçar para dissuadir." A 4ª Frota de Intervenção dos EUA foi criada em 1943 para combater os submarinos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
Segundo o presidente da Venezuela, com a criação da Unasul, um exército dos países foi formado e quem sai derrotado é o "império norte-americano". Na opinião de Chávez, a Colômbia não teria tecnologia suficiente para ter cometido o ataque em março, em território equatoriano, contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que resultou na morte do número dois da organização, Raul Reyes. Para o presidente, o ataque exigiu uma precisão cirúrgica que, segundo ele, a Colômbia não condições de fazer. Chávez afirmou que os EUA são o principal país interessado na deterioração das relações entre as nações latino-americanas.

Voltei

Não vou comentar essa bobajada de Unasul, não. E por razões óbvias: se o Mercosul, que junta “menas” nações (como diria Apedeutakoba), não deu em nada, imaginem ampliando o grupo de países... Próximo ponto. Abaixo, vocês leram que Diogo Schelp, editor de VEJA, foi expulso de um seminário do Foro de São Paulo. Que seminário era esse? Leiam um trecho narrado pelo próprio Schelp: “A reportagem assistia à oficina ‘Andino Amazônica’ – em que Ricardo Patiño, ministro de Coordenação Política do Equador, explicava que o ataque que matou o terrorista colombiano Raúl Reyes em território equatoriano havia sido feito com aviões americanos, e não colombianos”. E agora voltemos à tese de Chávez: “Na opinião de Chávez, a Colômbia não teria tecnologia suficiente para ter cometido o ataque em março, em território equatoriano, contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), que resultou na morte do número dois da organização, Raul Reyes.”
Viram só? É a mesma tese. É essa gente que o Babalorixá quer reunir naquele tal Conselho de Segurança... É piada.

A democracia “deles”

Do blog do Reinaldo Azevedo

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Um dos grandes mitos que assombram a cultura política brasileira é o de que as esquerdas que aderiram à luta armada e ao terrorismo queriam apenas o fim da ditadura e a democracia. Daí nasce a suposição do seu heroísmo — e, na maioria dos casos, é por isso que se pagam régias indenizações e pensões aos egressos daquele tempo ou a seus familiares. Raros são os casos em que a reparação decorre de alguma violência realmente praticada pela ditadura. Seu amor à democracia, como aqui já se evidenciou tantas vezes, é uma grotesca mentira. Queriam ditadura. No caso, uma ditadura comunista. E seus remanescentes, caudatários ou herdeiros continuam a querer a mesma coisa. E, como fica evidente a cada dia, não renunciaram à mentira como método e à violência como um instrumento de fazer política. A entrevista concedida por Valter Pomar a Diogo Schelp, editor de Internacional de VEJA, e a expulsão do jornalista de um dos debates do Foro de São Paulo evidenciam isso com clareza.
Pomar afirma em sua entrevista que não existe uma filiação ao foro, que ninguém é “membro” do grupo e sugere que as Farc, se inscritas, não seriam aceitas. Conversa mole. Os terroristas deixaram de comparecer à reunião porque sua vinculação com o narcotráfico se tornou de tal modo evidente, que nem mesmo a fachada ideológica de sua luta podia ser sustentada. Mas o grupo é um dos fundadores do foro, e a maioria dos seus integrantes é simpática à guerrilha. O próprio Pomar afirma que os “guerrilheiros” não podem aparecer porque “a guerra não permite”.
Anotem aí: em breve, o foro vai se transformar numa ONG internacional, pronta a receber recursos dos países ricos — a Fundação Ford, por exemplo, talvez não veja mal nenhum em financiar os valentes. Outra estratégia típica dessa gente é vestir a pele de cordeiro de organização humanitária. Ademais, ainda que as Farc não fizessem parte do Foro, o que é mentira, são poucos os grupamentos lá representados que têm compromisso mínimo com a democracia.

Expulsão

Quanto à expulsão de Diogo Schelp de uma dos debates, obra, tudo indica, do próprio Pomar — entrevistado pelo jornalista —, dizer o quê? Evidencia-se, assim, a democracia que eles querem. Segundo relata Schelp, ele foi o único profissional de imprensa a ser submetido a tal constrangimento. Pomar é um crítico do grupo que detém o poder no PT. Porque ele gostaria de melhorar o partido? Não. No petismo, a voz divergente consegue ser pior do que o establishment.

VEJA é expulsa de reunião do Foro

Por Diogo Schelp, de Montevidéu
A reportagem de VEJA foi "convidada a se retirar" de uma das reuniões do Foro de São Paulo, nesta sexta, em Montevidéu. Tratava-se de uma das quatro oficinas com temáticas regionais que aconteciam simultaneamente na parte da manhã. A reportagem assistia à oficina "Andino Amazônica" – em que Ricardo Patiño, ministro de Coordenação Política do Equador, explicava que o ataque que matou o terrorista colombiano Raúl Reyes em território equatoriano havia sido feito com aviões americanos, e não colombianos, como divulgado –, quando um segurança abordou o jornalista e pediu que se retirasse do local.
Curiosamente, a abordagem aconteceu poucos segundos depois de Valter Pomar, secretário de relações internacionais do PT e secretário-geral do Foro de São Paulo, avistar o jornalista de VEJA na platéia. Em seguida, ele saiu da sala, provavelmente para avisar ao segurança. A justificativa é que a imprensa não poderia participar daquela oficina.
A regra, pelo visto, só valia para VEJA: nos corredores do Foro, a reportagem conversou depois com quatro jornalistas uruguaios e um mexicano e todos garantiram que entravam e saíam livremente das reuniões, sem serem importunados. Em algumas salas, equipes de TV da Telesur e de um canal local registravam os debates livremente. Os seguranças foram orientados a manter a reportagem de VEJA longe das salas em que ocorriam as oficinas. O Foro de São Paulo vai até domingo, dia 25, e reúne cerca de 500 representantes de organizações e partidos de esquerda da América Latina.

Foro de São Paulo é tolerante com as Farc

Veja On Line - Por Diogo Schelp, de Montevidéu

Se não fosse por dois fatores, o Foro de São Paulo, um encontro anual de esquerdistas latino-americanos, seria apenas mais uma oportunidade para debater sobre medidas que jamais sairão do papel e para perpetuar a desgastada retórica de que a culpa pela pobreza latino-americana é dos Estados Unidos e do neoliberalismo. O primeiro fator que faz do Foro de São Paulo merecedor de atenção é que muitas das organizações políticas que dele fazem parte estão no poder -- ou formam a base de apoio do governo -- em mais de uma dezena de países da América Latina. O segundo é que o Foro tornou-se o centro de uma contradição que divide e remói a esquerda latino-americana: a incapacidade de se posicionar de maneira firme contra as violações de direitos humanos cometidas pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), um grupo que esteve presente em boa parte dos dezoito anos de existência do Foro.
Equilibrando esses dois estigmas, começou nesta quinta-feira um novo encontro do Foro de São Paulo, desta vez em Montevidéu, no Uruguai (o último foi em El Salvador). O evento termina no domingo, dia 25. Em um hotel de frente para o Rio de la Plata, cerca de 30 pessoas, representantes de alguns dos principais partidos de esquerda da região, fizeram uma reunião do chamado Grupo de Trabalho – espécie de cúpula diretiva do Foro de São Paulo. A discussão foi presidida por Valter Pomar, secretário de relações internacionais do Partido dos Trabalhadores brasileiro e secretário-executivo do Foro de São Paulo. Como a entidade não tem uma estrutura hierárquica com presidente e diretores, isso faz de Pomar uma espécie de comandante-en-jefe do Foro. Logo após a reunião, que aconteceu a portas fechadas e durou pouco mais de três horas, Pomar concedeu uma entrevista à reportagem de VEJA no bar do hotel, enquanto se deliciava com as bolachinhas que acompanhavam sua xícara de café com leite.

VEJA -- É verdadeira a notícia de que as Farc e o Exército de Libertação Nacional (ELN) serão impedidos de ser membros do Foro de São Paulo, a partir deste encontro em Montevidéu?

Pomar -- Não existe uma filiação ao Foro. Nenhum desses grupos, portanto, pode ser chamado de membro do Foro. Basta se inscrever e vir participar. Assim como você se inscreveu e está aqui.

Eu estou aqui como jornalista, é diferente.

Seja como for, você não vai ver ninguém das Farc aqui porque a inscrição de qualquer grupo que queira participar do Foro é submetida à aprovação dos partidos que fazem parte do Grupo de Trabalho. Se o PP [Partido Progressista] brasileiro resolvesse se inscrever, por exemplo, certamente não seria aceito porque o PT barraria. Se as Farc quisessem se inscrever, o que aconteceria? O PDA [Polo Democratico Alternativo, do ex-candidato à presidência Carlos Gaviria], da Colômbia faria o quê? O que você acha que faria?

Não sei.

Não permitiria, claro.

Quando as Farc deixaram de participar do Foro?

As guerrilhas colombianas -- não apenas as Farc, veja bem, porque há outros grupos -- há muitos anos deixaram de vir, até porque a situação da guerra não lhes permite. Na década de 90 havia uma situação de negociação das Farc com o governo e naquele período a presença delas em eventos na região era pública e notória.

O texto de convocação do Foro em Montevidéu fala em combate à corrupção e ao narcotráfico. Trata-se de um mensagem velada às Farc de que não são bem-vindas?

Não, não é nenhuma mensagem velada. Este tema está no texto porque nos preocupa. O narcotráfico é um problema para a região e, portanto, também o é para a esquerda. Eu vejo a Colômbia da seguinte forma: o problema lá não são as Farc em si, é a guerra. Trata-se de um conflito que tem como atores o estado colombiano, os paramilitares e a guerrilha. Classificar as Farc de terrorista significa tratá-las como um grupo criminoso, e ninguém negocia com criminosos. Só que para solucionar a guerra na Colômbia, é preciso negociar. Não é a solução que o atual governo colombiano quer, que é matar a todos. A guerra colombiana tem 40 anos e os grupos guerrilheiros estão nesse contexto histórico. Não concordo com seus métodos, mas não se trata de uma guerrilha artificial. Ela tem causas sociais e políticas.

As Farc tem como meta derrubar pelas armas um governo democraticamente eleito. No texto de convocação do Foro há claramente a defesa da via eleitoral para chegar ao poder. Trata-se de uma tentativa de o Foro se posicionar a respeito da questão das Farc, com seus métodos de seqüestro, tortura e mortes?

Essa posição acompanha o Foro desde sua fundação. Nós tentamos deixar claro que a via eleitoral é o caminho. Mas a realidade colombiana é complexa. Os interessados em manter a guerra como está são a direita colombiana, que tem ligações com os paramilitares e o narcotráfico, e os Estados Unidos, que assim tem uma justificativa para sua presença militar na região. É preciso negociar.

Uma vez que não se deve classificar as Farc como criminosas e que é legítimo negociar com seus membros, nada impede que o grupo tenha ligações com outras organizações da região. Nesse sentido, o PT mantém algum tipo de relação com as Farc?

O PT, como instituição, não tem nenhum relação com as Farc. Se algum membro do PT, como pessoa, tem alguma relação, é por sua conta e risco. Eu não sei de ninguém que tenha contato com as Farc, nem de ouvir falar. Quando prenderam aquele padre, o Olivério Medina, houve alguns membros do partido que assinaram uma petição para que ele não fosse extraditado, mas ali é outro caso, tratava-se de uma questão de direitos humanos.

quarta-feira, 21 de maio de 2008

Tarso "Lero-Lero"Genro

Do Blog do Noblat de 21/5/2008
Por que não cantas um tango?

"O Ministério da Justiça sempre teve a função moderadora na política republicana. Naquela cadeira já tiveram assento negociadores de grande habilidade e alguns destacados juristas. Desta vez encontra-se vazia nos dois sentidos. O ministro Tarso Genro possui pouca instrução legal e tem se revelado um político cheio de rancor, capaz de expressivas trapalhadas. A última delas foi a proposta de punir os delitos praticados durante o regime militar sob inspiração da legislação brasileira. Que legislação?

A mesma Lei de Anistia que serve para distribuir dividendos milionários para opositores do período de exceção é rasgada para se praticar o revanchismo. O ministro supõe operar acerto de contas com a história, quando está burlando um pacto político que permitiu o retorno definitivo da democracia. A sociedade brasileira não tem interesse em revisionismos e não há motivação para uma alta autoridade reabrir feridas que cicatrizaram.






segunda-feira, 19 de maio de 2008

PT: Sei, vão dizer que é mentira!

Do Blog do Noblat, de 19/5/2008

Caso Dossiê contra FHC - Ele também não sabia

Nega a defesa de José Aparecido Nunes Pires, ex-chefe da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil, que ele tenha remetido "de forma consciente" o dossiê sobre despesas sigilosas do governo Fernando Henrique Cardoso para André Fernandes, assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Deve ter sido por engano, descuido ou distração, pois. Nada demais.

Relembre mentiras e desculpas canhestras recentes que se tornaram famosas:

* "Eu não pedi dinheiro nenhum. Eu peguei o dinheiro e guardei”.

(Maurício Marinho, ex-chefe de departamento dos Correios, filmado recebendo de um empresário propina de R$ 3 mil.)

* "Minha assessora esteve no Brasília Shopping para ir ao neurologista”.

(Ex-deputado Paulo Rocha, do PT paraense, ao justificar saques de R$ 620 mil das contas do publicitário Marcos Valério, um dos cérebros do mensalão, feitos por uma assessora dele na agência do Banco Rural no Brasília Shopping. Na época, Rocha renunciou ao mandato para escapar da cassação. Foi reeleito.)

* "Tenho certeza absoluta de que não existe esse cheque, a não ser que ele seja um artista muito grande e que tenha produzido esse cheque".

(Severino Cavalcanti, ex-presidente da Câmara dos Deputados, dois dias antes de aparecer o cheque no valor de R$ 7,5 mil com o qual o empresário Sebastião Buani pagou o cartão de crédito dele. Severino renunciou ao mandato. Tentou se reeleger e não conseguiu. Lula disse recentemente que ele foi uma vítima das elites.)

* "Tinha tomado umas caninhas. Minha capacidade de discernimento estava baixa”.

(Vladimir Poleto, ex-assessor de Palocci, ao negar entrevista que deu à VEJA sobre dólares cubanos escoltados por ele e entregues a Delúbio Soares para a campanha de Lula.)

* "Não o conheço. Estive com ele duas vezes e o cumprimentei sem saber quem era”.

(Antonio Palocci sobre Vladimir Poleto, que dirigiu mais de uma vez o carro que o levou à alegre mansão alugada em Brasília pela turma da República de Ribeirão - ex-assessores de Paloocci na prefeitura daquela cidade.)

* "Sobre essa entrevista, eu não sei mais onde está a verdade. Não sei o que é verdade no que falei. Não sei mais de onde tirei isso".

(Sílvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, a respeito da entrevista gravada de oito horas que concedeu ao jornal O Globo.)

* "Ao que eu saiba, não sei".

(Vladimir Poletto, ex-assessor do ex-ministro Antônio Palocci, em depoimento na CPI dos Correios.)

* "Eu não sabia, fui traído".

(Lula, sobre o mensalão)

MST: Sei, vão dizer que é mentira!

Do Blog Alerta Geral de 19/5/2008

Movimento Social Terrorista

No último dia 8 de abril, a Brigada Militar do Rio Grande do Sul encontrou provas objetivas de que o Movimento dos Sem Terra utiliza técnicas militares e de guerrilha em suas invasões e ocupações.

Tudo foi revelado em um lote de quatro cadernos descobertos na diligência na fazenda “São Paulo 2” assentada na localidade gaúcha de São Gabriel, ocupada por cerca de 800 militantes do MST.

A Brigada Militar encaminhou o material ao Ministério Público.

Grupo armado

Nos cadernos do MST, o grupo que cuida da organização da militância é chamado de “Brigada de Organicidade”.

Na terra invadida, revelam os cadernos, o MST organiza vigilância semelhante à de um quartel.

Os “guardas” são distribuídos em turnos, incluindo crianças com mais de 14 anos.

Cuidando da Polícia

Os cadernos ensinam a lidar com a polícia.

Fazem menção a “pedras”, “trincheiras” e “bombas”. Anota coisas assim: "Resistência do cenário: mais pedras, ferros nas trincheiras, alguns pontos estratégicos... cavalo apavora...”Ou assim: “Zinco como escudo. Bombas... tem um pessoal que é preparado. Manter a linha [...]. Retorno do Pelotão 13: fazer trincheira lá atrás. Se protejam atrás, porque o pelotão que tome cuidado, atiram foguete..."

Cuidando da imprensa

Os textos orientam os invasores sobre o que deve ser dito à imprensa:

Estamos num latifúndio que não tem apoiadores!”

Orienta-os também acerca das respostas que devem apor nos formulários de cadastro do Incra, a fim de ter direito a receber cestas básicas do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Nos acampamentos existe o 1º Pelotão do Grupo Gestor, encarregado da distribuição dos gêneros alimentícios.

Pérolas do texto

Eis algumas das orientações dos cadernos do MST:

“[...] Não precisa se intimidar... Tem de dizer que não tem bem familiar, não tem renda porque não trabalha. Quem não tem documento, dizer que a Brigada roubou. Se tem passagem na Polícia? Não. Se já era agricultor? Sim. O que fazia há cinco anos atrás? Nada, por isso estou aqui... Tempo de acampamento? Dizer que tem mais de um ano... E assim por diante".

domingo, 18 de maio de 2008

O PT, o Foro de São Paulo e nós, os palhaços

Do Blog de Reinaldo de Azevedo de 18/5/2008

Lula e o Foro de São Paulo: eleições e terrorismo

Clóvis Rossi relata na Folha deste domingo que Lula, no Peru, onde participou de um seminário, referiu-se ao Foro de São Paulo. Leia trecho da reportagem. Retomo em seguida:

Por fim, o presidente brasileiro falou do Foro de São Paulo, conglomerado de organizações de esquerda criado pelo PT em 1990. Disse que "esse foro foi educando a esquerda a disputar eleições e ganhá-las de forma democrática", em vez de recorrer à luta armada.
Não citou, no entanto, o fato de que as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) fazem parte do foro e não foram ainda educadas para disputar eleições, tanto que mantêm a luta armada e, pior, tornaram-se o pivô de uma crise triangular entre os governos da Colômbia, do Equador e da Venezuela.
Lula elogiou ainda o crescimento do país do presidente Alan García (o maior da América do Sul, na faixa dos 9%), em uma frase que provocou sorrisos maliciosos em parte dos espectadores: "A gente vê na rua o crescimento do Peru".


Comento
Entre os dias 22 e 25 deste mês, acontece no Uruguai o 14º Encontro do Foro de São Paulo. Integram a organização, entre outros, o MAS (Movimento ao Socialismo), do presidente da Bolívia, Evo Morales; o Pátria Livre, do presidente eleito do Paraguai, Fernando Lugo, e o Partido Socialista Unido da Venezuela, de Hugo Chávez. O Alianza País, de Rafael Correa, do Equador, vai mandar representantes e deve ser admitido no grupo. Não custa lembrar que Evo já deu uma tungada no Brasil, tomando a Petrobras, sob os auspícios de Chávez, e que Lugo está prestes a fazer o mesmo, obrigando os brasileiros a pagar mais por aquilo que lhes pertence de direito: energia. Será que é uma surpresa para Lula? Tudo indica que não. Como já deixaram claro o próprio Apedeuta, Celso Amorim (Relações Exteriores) e Marco Aurélio Top Top Garcia, o assessor para assuntos internacionais, o Brasil reconhece a legitimidade do pleito dos mais pobres. É claro que é conversa mole. Na prática, o lulismo usa dinheiro que não lhe pertence para fortalecer a posição dos esquerdistas do continente, seus aliados ideológicos.

Na reunião do Uruguai, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), grupo cujas credenciais terroristas, a esta altura, não precisam ser mais apresentadas, estarão presentes. Como sabemos, Lula ainda não conseguiu, como é mesmo?, converter o grupo à democracia. Não há mais máscara possível para as Farc: dedicam-se à produção e ao tráfico de cocaína, recorrendo — quanta ousadia! — até a submarinos para fazer o produto chegar aos Estados Unidos, conforme informa a VEJA na mais recente edição (ver post de ontem). E, no entanto, o PT dividirá alegremente a mesa com bandidos que mantêm um campo de concentração na selva, onde estão mais de 700 prisioneiros.

Há mais. O Foro se reúne, desta feita, depois de a Interpol ter provado que os arquivos dos computadores de Raúl Reyes — o terrorista pançudo morto pelo Exército da democracia colombiana — são verdadeiros. E, por verdadeiros, resta, então, evidente que os governos de Chávez e Correa colaboram com o terrorismo. O bandoleiro que governa a Venezuela planejava enviar US$ 250 milhões aos narcotraficantes. Nada distingue o coronel dos líderes do chamado “Eixo do Mal”, que colaboram com o terrorismo no mundo.

Aqui e ali se diz que os petistas — e, portanto, o governo brasileiro — mantêm prudente distância das Farc. Conversa mole! O governo Lula jamais condenou de forma inequívoca a guerrilha. Na mal chamada “invasão” do território equatoriano pelas forças colombianas, que resultou na morte de Reyes, o Brasil foi enfático no repúdio à ação colombiana, sem relevar o fato de que o Equador, afinal, abrigava os bandoleiros. E, revelam os computadores, com arquivos autênticos, tratava-se mesmo de colaboração ativa com os terroristas — categoria em que o Brasil não inclui as Farc. Indagado pelo jornal francês Le Figaro se a organização é terrorista ou força beligerante, Marco Aurélio teve a cara-de-pau de afirmar que não é nem uma coisa nem outra. Segundo ele, o Brasil é “neutro” nessa questão.

Neutralidade diante dos seqüestros? Neutralidade diante da execução de civis? Neutralidade diante do narcotráfico? Vivesse este valente na Europa no fim da década de 30, talvez defendesse que o melhor seria tentar convencer aquele austríaco esquisitão a aderir à democracia — certamente consideraria que confrontá-lo poderia não ser uma boa solução...

A fala de Lula é indecente e bem mais perigosa do que parece. O Foro de São Paulo, que a imprensa brasileira, com raras exceções, insiste em ignorar — Lula, volta e meia, fala dele com orgulho; justiça se lhe faça, ele não esconde nada... —, é a entidade que confere articulação e inteligência (a possível) à esquerda da América Latina. Os vários movimentos que ele congrega têm pouca coisa em comum quanto à sua origem. Mas isso não tem grande importância. O que conta é a convergência de agendas. E cada um dos governos comprometidos com o Foro vai até onde lhes permitem os limites institucionais, mas sempre dispostos a afrontá-los e a transgredi-los.

E por que classifico de “perigosa” a fala de Lula? Porque eleições, por si mesmas, não esgotam o compromisso com a democracia. Lideranças como Chávez, Corrêa e Morales não recuam, como vemos, nem diante do risco de uma guerra civil. Nos três países, o regime democrático foi só o rito de passagem para governos autoritários. No Brasil, o desapareço pelas instituições é mais sutil e aparentemente ameno. Mas não é difícil encontrar políticas públicas que pretendem opor brasileiros a brasileiros, em claro desrespeito aos princípios básicos da Constituição.

A fala de Lula deve ser lida como uma declaração cínica: os esquerdistas reunidos pelo Foro, que ele criou em companhia de Fidel Castro — isso é história, não opinião —, concluíram que a luta armada, de fato, não é mais uma boa estratégia. As eleições são armas mais eficientes. Uma vez no poder, usam a democracia para solapar as bases da... democracia!

Entre os dias 22 e 25 deste mês, o PT, em suma, volta a se reunir com terroristas — as Farc — e com representantes de dois governos que apóiam o terrorismo: Venezuela e Equador. E, mais uma vez, na prática, o governo do Brasil estará dizendo que se trata de democratas interessados numa suposta união da América Latina. É possível que representantes do peronismo de Cristina Kirchner compareçam. Cristina, a presidente da Argentina, é aquela que recebeu uma mala com US$ 800 mil enviados por Chávez e que mobiliza bandoleiros para atacar adversários e a imprensa do país.

Esses governos, como ficará claro pela enésima vez, obedecem a uma coordenação: o Foro de São Paulo. E, no Foro, Lula é estrela de primeira grandeza.

Ah, claro, vai ver escrevo isso tudo porque, dizem, sou de direita. Talvez a esquerda tenha uma boa explicação humanista para o PT dividir a mesa com terroristas e seus financiadores e apoidores.


A bola fora do PT

Do Blog do Noblat de 17/5/2008

Deu em O Globo

Marina exonerou o governo

De Elio Gaspari:

O drible pareceu fácil. Lula criou um plano de desenvolvimento da Amazônia e entregou-o ao ministro Roberto Mangabeira Unger, que transita do nada ao futuro. Fez isso porque supunha que bastava chamar a ministra Marina de "mãe do PAS" e o ego da senhora estaria amaciado. Nosso Guia se esqueceu da tenacidade das pessoas alfabetizadas aos 16 anos ou que, como Marinete, sua irmã, foram empregadas domésticas. A "metamorfose ambulante" enganou-se. Dando a impressão de que o colonialismo pernóstico do jornal inglês "The Independent" tem alguma razão: "[A Amazônia] é importante demais para ser deixada aos brasileiros".

Não tendo perdido o juízo, a ministra preferiu perder o pescoço. Feito o estrago, as patrulhas do Planalto espalharam que Marina Silva foi indelicada, pois foi-se embora sem pedir demissão. Faz tempo que Madame Natasha ensina: "Só em português que se pede demissão"

Nos outros idiomas, demissão se dá. Marina Silva exonerou o governo e nisso não houve indelicadeza.

Num sinal dos deuses, dona Marina fechou a conta no mesmo dia em que o ex-ministro de Minas e Energia, Silas Rondeau, foi denunciado pelo Ministério Público por gestão fraudulenta, corrupção passiva e formação de quadrilha. Seria exagero concordar com o professor Mangabeira quando ele disse que "o governo Lula é o mais corrupto da nossa história", mas Rondeau é o sétimo ministro de Lula levado à barra dos tribunais pelos procuradores da República. Seu gabinete ultrapassou a taxa de 10% de maganos acusados de malfeitorias. (O ministério de Lula já teve 65 titulares.)

Estão nos tribunais Antonio Palocci, José Dirceu, Luiz Gushiken, Humberto Costa, Benedita da Silva e o doutor Silas. Walfrido Mares Guia está denunciado por conta de práticas anteriores ao atual governo. Essa é a turma que saiu porque não podia ficar. Marina Silva é de outro plantel, o dos que foram embora porque não quiseram permanecer.





sábado, 17 de maio de 2008

O Estado "Hood Robin"

Um extenso tratado de economia política que, longe de ser uma verdade absoluta, principalmente por elencar problemas sem identificar a causa intrínseca dos mesmos - a estratégia estatizante gramsciana - e requentar o discurso dialético de pobres versus ricos, resume bem as mazelas da intervenção estatal na economia de qualquer país a título de correção de desigualdades. Com certeza os defeitos do texto têm relação estreita com o fato de o autor defender em seu blog a intelectualidade de Mangabeira Unger, o titular da Sealopra, o ministro que foi sem nunca ter sido...

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Entre os liberais democratas é pacífico o entendimento de que o aparelho estatal deve limitar sua atuação às chamadas funções clássicas: garantia do Estado do Direito, da proteção dos direitos individuais previstos na ordem constitucional e da defesa da integridade do território nacional. No âmbito das políticas públicas, caberia ao Estado liberal apenas formular e implementar as políticas externa, comercial, monetária e fiscal; além de atuar diretamente na proteção da integridade dos cidadãos e de suas propriedades, oferecendo-lhes segurança pública e jurídica.Estes mesmos liberais por vezes reconhecem ao Estado um papel subsidiário de atuação no domínio econômico: o da correção das chamadas “falhas de mercado”. Como destacam Gordon Tullock, Arthur Seldon e Gordon Brady em seu excelente livro sobre teoria da escolha pública “Government Failure: A Primer in Public Chioce (Cato Institute, 2002)”, o equilíbrio ideal entre mercado e Estado é matéria controversa. Ainda que a ação estatal seja tolerada como elemento corretivo das falhas decorrentes das escolhas individuais e coletivas (assimetria de informação, racionalidade limitada, mercados incompletos, rigidez de preços, moral hazard , comportamentos free-rider e oportunismo, dentre outras), devem ressalvar-se os casos onde se verifique a ocorrência de “falhas de governo” (rent-seeking, captura, centralismo, dentre muitas outras); e sejam estas ainda mais danosas que as primeiras. De fato, a compatibilização adequada entre a eficiência alocativa das forças de mercado na criação de riqueza e a pretensa promoção da justiça social através de políticas públicas re-distributivas operadas pelo aparato público-estatal é o desafio fundamental de qualquer estratégia nacional de desenvolvimento. Grosso modo, é a calibragem destes dois sistemas de escolha pública que dá forma ao pacto social tácito que cada sociedade realiza em torno da consecução do seu bem-estar coletivo e do bem-estar individual de seus cidadãos, permitindo-nos classificá-las em modelos diversos de organização política, social, econômica: socialismo, social-democracia, democracia-liberal etc... No caso brasileiro, tal pacto - de orientação marcadamente social-democrata - entende a intervenção estatal como elemento de restauração da equidade nas relações econômicas e sociais. Uma vez que o mecanismo de mercado aloca recursos de maneira eficiente de acordo com o desempenho competitivo dos indivíduos em um determinado marco institucional, caberia ao Estado considerar as imensas diferenças presentes nas condições iniciais de cada ator social e agir em favor dos retardatários, de modo a equalizá-las. Em suma, o objetivo primordial da ação do Estado seria o de reduzir as desigualdades de oportunidades no início da corrida e promover uma distribuição mais eqüitativa da renda ao longo do percurso quando o livre funcionamento do mecanismo de mercado resultasse em desigualdade de resultados muito pronunciada na linha de chegada. É possível oferecer críticas a este entendimento: o mercado não produz qualquer desigualdade de resultados, mas revela desigualdade nas condições iniciais ao alocar rendas de acordo com tais diferenças. Todavia, proponho que nos afastemos deste debate para perguntar-nos: o Governo tem considerado este seu “objetivo primordial” quando do desenho e implementação das políticas públicas ? No Brasil, as políticas sociais contribuem para a redução da desigualdade ? Ou, ao menos, pretendem reduzi-la ? A resposta a esta pergunta é especialmente importante no caso brasileiro por duas razões: (a) tão mais ampla seja captura da renda das famílias pelo Estado, tão maior será sua responsabilidade alocadora, e tão mais sujeita à discricionariedade estatal estará o dispêndio público; e (b) o impacto dos fluxos de renda do Governo é sobre a desigualdade é consideravelmente maior quando da realização da despesa pública do que no recolhimento diferenciado dos tributos. Uma breve análise do padrão de destinação do gasto público no Brasil autoriza uma afirmativa categórica: o Estado brasileiro é um ator social que atua no sentido de aprofundar a desigualdade, porque gasta mais com quem não precisa e recolhe mais impostos de quem não tem renda. A chave do problema não é o cobertor curto. O Estado brasileiro despende quase 25% do PIB (entre gastos correntes e investimento) com temas sociais, mas gasta mal e investe pior ainda. A quase totalidade destes desembolsos tem curso forçado. Desde 1987, estão sujeitos à vinculação orçamentária que pretende garantir fontes permanentes de recursos. Ainda assim, os indicadores de impacto de oferta e de resultados do lado dos “usos” não demonstraram melhoria relevante desde então. As razões deste desempenho sofrível derivam de decisões alocativas equivocadas: priorização deficiente e (des)focalização, além da presença de problemas de desvio de finalidade. No que diz respeito à hierarquização de prioridades e à focalização, há uma completa “miopia” no atendimento aos que realmente necessitam: crianças e jovens em situação de risco social, trabalhadores informais, estudantes do ensino público e micro-empreendedores. Ainda que seja possível identificar políticas específicas que pretendam equalizar condições iniciais através da transferência direta condicionada de renda (por exemplo, o programa Bolsa Família) ou da oferta de oportunidades de inclusão (como nos programas Primeiro Emprego e Luz para Todos), o marco institucional que orienta o gasto público no Brasil o faz em favor dos que menos precisam. Mal necessário, o Estado “Robin Hood” social-democrata se converte, às avessas de seu propósito, em Estado “Hood Robin”. Desnecessário, oligárquico e concentrador da renda. O ânimo deste artigo é evidenciar como tal padrão se instala e se perpetua, desde o desenho das políticas tributária, fiscal e creditícia. E amplifica-se em função do déficit fiscal crescente do Governo.

Impostos: tirando dos pobres para gastar com os ricos

É lugar comum afirmar que a carga tributária brasileira atingiu índices insustentáveis para um país em desenvolvimento como Brasil. Com razão, depois da taxa de juros, os impostos de nacionalidade brasileira mas de tipo sueco são apontados como os principais vilões do baixo crescimento de nossa economia nas últimas décadas. Sua envergadura pode ser atestada pelos sucessivos recordes de arrecadação tributária obtidos, ano a ano, desde 2001. Contudo, pouca luz é lançada sobre os efeitos distributivos do sistema tributário brasileiro. Ao contrário do que se supõe a arrecadação apresenta forte regressividade ao longo das diversas classes de renda, especialmente na base da pirâmide social. Isto ocorre porque mais pobres estão sujeitos aos efeitos de um sistema fortemente baseado em impostos indiretos que incidem sobre a cesta de consumo de um segmento com utilidade marginal da renda comparativamente mais elevada e propensão marginal a consumir sensivelmente maior que a dos segmentos de média e alta renda. De forma mais simples: os mais pobres comprometem proporção maior de sua renda com consumo. E o Estado tributa-lhes tal consumo em proporção maior do que o faz com o consumo dos mais ricos. Os números são eloqüentes. Desde 1997, a carga tributária total sobre o consumo cresceu 89%, já descontados os efeitos cumulativos do IPCA. Dez anos depois, carga tributária do tipo indireto expressa como proporção da renda familiar é 3 vezes maior na base (em torno de 47%, para a faixa de renda entre 1-2SM) do que no topo (aproximadamente 16%, para faixas de renda acima de 10 SM). É preciso reconhecer que a informalidade das fontes de renda nas faixas mais talvez produza um efeito de subestimação dos ingressos totais das primeiras e, por conseguinte, superestime a parcela destinada ao consumo pelo segmento, dando cores mais fortes a uma “divergência distributiva” que talvez não seja tão pronunciada quanto revelam os números. Por outro lado, a tributação sobre o consumo é do tipo indireto e, portanto, não declaratória, não passível de evasão, elisão, planejamento, inadimplemento ou mesmo sonegação, expedientes de “vazamento” da renda total auferida nas faixas mais altas comumente empregados na relação com o Fisco. Ao fim e ao cabo, resulta que a tributação é mais efetiva sobre aqueles que tem menos. A mesma regressividade tributária experimentada pelos mais pobres reproduz-se junto à classe média, que contribui ao sistema especialmente através da tributação da renda proveniente do salário. Trata-se do chamado “efeito de gravame”. Ao recolhimento de impostos sobre a renda junto à fonte pagadora somam-se as despesas realizadas pelas famílias na contratação de serviços privados de saúde, educação e segurança incorridas em função da péssima qualidade dos serviços públicos prestados pelo Estado fiscalista, que os cobra universalmente sob a forma de impostos. Ao gravar os remediados, negando-lhes o provimento adequando das contrapartidas tributárias, o sistema tributário produz, ao nível microeconômico, sensível redução da renda familiar disponível para fins de poupança, dificultando a ascensão social dos filhos da classe média em direção aos estratos mais altos da pirâmide social. E contribui, de modo agregado, para a redução da renda total disponível para financiamento dos investimentos sociais requeridos pelos estratos mais baixos.

Educação: ensino de graça para quem pode pagar

No que diz respeito à educação, a alocação prioritária de recursos no ensino superior em detrimento do ensino fundamental reduze o potencial de superação das desigualdades nas condições iniciais de aprendizado e escolaridade, contribuindo para que a competição futura no mercado resulte em desigualdade de renda ainda mais pronunciada. Novamente, os números falam por si. No Estado de São Paulo, cada aluno do sistema estadual de ensino superior (formado pela USP, UNESP e Unicamp) recebe R$ 38.000 anuais, enquanto o gasto per capita do ensino fundamental nas escolas municipais do Estado é de R$ 2.400. Trata-se de uma desigualdade que nos marca desde sempre: o franqueamento gratuito das universidades públicas às elites e à classe média em detrimento de investimentos robustos no ensino público fundamental – que tem como clientes preferenciais os filhos da pobreza. Mais à frente, tal padrão repete-se quando um jovem proveniente da classe média alta e um jovem egresso das camadas mais pobres da população ingressam no sistema de ensino superior. Novamente, a inversão de prioridades dar-se-á em função de um desenho institucional equivocado, cuja reforma é sistematicamente obstacularizada pela classe média, cujos filhos – inocentes, reconheça-se – beneficiam-se da anomalia. O sistema de (des)incentivos desenhado às avessas preserva assim seu efeito perverso: o acesso é competitivo – todavia sem que as desigualdades anteriores entre provenientes do ensino público e do privado sejam consideradas. As tentativas de promover equidade de modo extemporâneo – às portas do sistema de ensino público superior – via de regra desviam-se para questões étnicas que não guardam qualquer correlação com as diferenças de aprendizado adquiridas no ensino médio. O resultado é conhecido: os clientes do sistema são os filhos da classe média. Do desenho institucional equivocado resulta uma brutal seleção adversa. o financiamento do sistema recai exclusivamente sobre o Estado e – pior – é gratuito para seus beneficiários. As famílias dos clientes tradicionais do sistema ficam dispensadas de formar poupança prévia para financiamento da educação universitária de seus rebentos. As famílias mais pobres utilizam a renda corrente – em geral, complementada com o trabalho dos próprios estudantes – para custear estudos no sistema superior privado. Produz-se uma vez mais transferência de renda na direção inversa: os mais pobres pagam, os mais ricos não. No caso de carreiras que projetam rendimentos futuros mais elevados (Engenharia, Medicina, Economia e similares), a oferta de cursos gratuitos é preponderamente matutina ou vespertina – impossibilitando a matrícula de jovens provenientes das camadas mais pobres, mesmo que tenham obtido sucesso no funil competitivo de acesso ao sistema superior público. Via de regra, estes jovens necessitam trabalhar durante o dia para financiar estudos noturnos. Como se não bastassem seus efeitos adversos sobre a distribuição adequada das habilidades básicas para competição no mercado, este desenho institucional “de pernas para ar” lega aos filhos saídos da pobreza uma nova desigualdade de condições iniciais, agora às portas do mercado de trabalho. Sistema que – impessoal e inocente – alocará rendas de acordo com a utilidade das capacidades adquiridas pelos ofertantes no estágio formativo anterior.

Previdência: segurança para os que já tem

O sistema previdenciário é outro mecanismo de aprofundamento da desigualdade brasileira e funda-se em sua dualidade. De um lado, o regime geral de previdência do INSS combina repartição simples, informalidade crescente, envelhecimento populacional e elevação da expectativa de vida garantindo aposentadoria somente até o teto de contribuição de 10 SM a trabalhadores com baixa escolaridade média, elevada volatilidade de renda e passíveis de demissão. De outro, o regime único de previdência dos servidores públicos presenteia seus eleitos com capitalização integral e formalidade perfeita garantindo aposentadoria integral pelo pico salarial a trabalhadores detentores de alta escolaridade média, progressão exponencial da renda por tempo de serviço e estabilidade no emprego. Resultado: os 1 milhão de inativos do setor público apropriam 42% dos recursos desembolsados, recebendo benefícios previdenciários em média 12 vezes maiores do que os pagos pelo aos trabalhadores do setor privado. Respondem ainda por 68% do déficit do sistema com um todo. Mesmo entre os servidores públicos inativos, produzem-se imensas desigualdades entre as diversas faixas de contribuição e interpoderes: servidores inativos do Legislativo e do Judiciário recebem, em média, 4 (quatro) vezes mais que seus pares do Poder Executivo. Pensões e benefícios previdenciários são a evidencia mais viva de padrão preocupante do gasto social brasileiro: quando forçada a uma escolha intergeracional entre destinatários do dispêndio público, a escolha pública tende a privilegiar cidadãos de idade mais avançada, transferindo renda das faixas etárias mais baixas (crianças e adolescentes, sem direito a voto) às mais altas (adultos e idosos, com direito a voto). Como em todo canto, o sistema político brasileiro produz uma escolha pública em favor das minorias sociais que se fazem em maiorias políticas pela eficiente representação de seus interesses no jogo político. Não se trata de uma jabuticaba política, mas social: o pacto intergeracional que deveria corrigir resultados derivados da assimetria de poderes de agência no campo político, promover a proteção do direito da criança e do adolescente e garantindo a representação de seus interesses em Lei, não se impõe. Falha na tarefa de priorizá-los com alvo preferencial do gasto público em educação e saúde. Produz-se o discurso, a letra da Lei, mas permanece ausente o recurso.

Crédito Direcionado: dinheiro para quem não precisa

Em qualquer país, o mercado de crédito é um poderoso mecanismo de viabilização de oportunidades de investimento e consumo. Ao transferir recursos disponíveis de poupadores líquidos a investidores e consumidores ávidos por recursos correntes e escassos, este mercado cumpre importante papel por meio do multiplicador bancário, fazendo avançar as fronteiras das possibilidades de produção de uma economia (quer pelo aumento de escala, quer pelo aumento da produtividade) ou aquecendo, ainda que somente no curto prazo, a demanda efetiva. Desde 2003, o Brasil vêm experimentando uma forte ampliação do crédito, quer seja destinado ao consumo, quer seja destinado à produção. No primeiro caso, destacam-se o crédito popular e as modalidades consignadas para consumo ou para o financiamento imobiliário. No segundo, destaca-se o crédito produtivo direcionado, em especial aquele alocado através das agências e bancos estatais de desenvolvimento, tais como o BNDES. Desnecessário dizer que o mercado de crédito livre (não-direcionado) tem seu funcionamento regular inibido pela ação governamental. Ao incorrer em déficit primário, o Governo captura boa parte da poupança disponível oferecendo condições privilegiadas aos rentistas: garantia de recompra de um risco soberano remunerado à taxa SELIC, bem acima das taxas de retorno oferecidas por outros ativos de mesmo risco e liquidez. A forte ação price maker do Governo no mercado do crédito priva milhões de potenciais empreendedores de dinheiro farto e barato, puxando para cima o spread bancário e empurrando empreendedores com baixa aversão ao risco para o caro, curto e escasso crédito bancário. Fosse este o único problema presente, a redução paulatina da taxa de juros real ofertada pelo Governo na rolagem da dívida pública liberaria bilhões de reais a serem capturados pelo “espírito selvagem” dos empreendedores nacionais, ávidos por aplicá-los em novos investimentos produtivos. Todavia, as disfunções espalham-se também pelo crédito produtivo direcionado e pelo crédito consignado para consumo. Ainda que se reconheça sua propriedade de estabilizar o fluxo de fundos do mercado de crédito como um todo, a porção “direcionada” do crédito produtivo sofre problemas graves de focalização. Seu principal veículo – o BNDES – enfrenta dificuldades persistentes na colocação de crédito produtivo junto às pequenas e médias empresas, em função do desenho do esquema de garantias de seus programas e do desinteresse dos agentes repassadores.O crédito direcionado pelo BNDES é, sem dúvida, subsidiado. Ainda que as taxas ativas praticadas pelo Banco estejam, em média, 5% a.a acima do seu custo médio de captação – o Banco remunera os depósitos do FAT em 6% a.a – suas operações ativas têm custo menor para o mutuário que o custo de rolagem da dívida pública pelo Tesouro, que tem no BNDES uma de suas subsidiárias integrais. Assim, o BNDES subsidia discricionariamente seus mutuários. Por sua vez, é subsidiado pelo Tesouro. Que, por sua vez, é subsidiado pelo contribuinte. Caso os recursos direcionados pelo Banco alcançassem seus tomadores preferenciais – quais sejam, os pequenos e médios empreendedores – o subsídio estaria justificado e a desfocalização superada. Ocorre que a ausência de mecanismos alternativos de garantias produz uma “seleção adversa” de empresas já em estágio produtivo e financeiro avançado, em geral atuantes nos setores industriais mais tradicionais, com capacidade de endividamento externo. Tais empresas formam um grupo de 15 mil tomadores capazes de oferecer 130% de garantia real para as operações de crédito subsidiado realizadas diretamente com o BNDES ou através de seus agentes. Recorrentemente, grandes grupos nacionais vêem seus limites de crédito “esticados” através de alguma engenharia contábil, de modo a permitir ao Banco ampliar seus limites de exposição ao risco corporativo e setorial. Ao apontar seus recursos para os conglomerados industriais brasileiros e insistir no recebimento de garantias reais do tipo tradicional na ampla maioria de suas operações, o BNDES deixa órfãos uma ampla parcela da economia formal emergente, especialmente os setores mais dinâmicos da economia nacional: o segmento de comércio e de serviços. Faz avançar sem dar-se conta a uma política tipo “Dinners Club”: “precisar não precisa”. E também colabora para o aprofundamento da desigualdade.

Crédito Popular: a mão que dá, também tira...

O falso amanhecer do crédito consignado destinado ao consumo popular é ainda menos ensolarado. Até junho de 2007, a contratação total de crédito popular alcançou a faixa dos 17 bilhões de reais, com aumento no nível de endividamento geral de R$ 3,5 bilhões em apenas 1 ano. Dados de finais de 2006 dão conta de que, grosso modo, o nível de inadimplência nos empréstimos com desconto em folha para a baixa renda alcançaram o valor de R$ 16,00 para cada R$ 100,00 emprestados, um nível histórico elevadíssimo para este segmento de renda. A destinação dos empréstimos é ainda mais eloqüente quanto ao grave comprometimento das rendas correntes da população de baixa renda: em média, 52% do total dos novos empréstimos destinam-se ao pagamento de dívidas antigas, 21% alocam-se em empréstimos a familiares, e 29% são gastos com consumo corrente (compra de produtos pessoais e reforma dos domicílios). Avançando para cima na pirâmide social até a classe média, o comprometimento da renda corrente é semelhante. O percentual da renda disponível para poupança pós-consumo saltou de 11% em 1987, para tímidos 4% em 2003. O leitor perguntará de que forma tal comprometimento de renda das camadas mais pobres relaciona-se como o aprofundamento da desigualdade de renda entre as diversas faixas. A dinâmica é simples. Para a classe média, o crédito consignado dos aposentados, servidores e trabalhadores da ativa tornou-se um complemento da renda familiar, utilizado preponderantemente para refinanciamento de dívidas antigas e para o consumo corrente e, por esta razão cursado no sistema bancário. O incremento da renda disponível para segmentos com alta propensão marginal a consumir – quer via aumento do crédito, quer através de programas de transferência direita e condicionada de renda – resulta em aumento da parcela e do valor nominal da renda familiar destinada ao consumo. Tal incremento recebe ainda o incentivo da tendência persistente de queda dos preços dos alimentos e da valorização cambial. Ocorre que o adicional de renda destinada ao consumo é “dragado” por um sistema de impostos viesado na tributação indireta sobre a cesta de consumo dos mais pobres, “repatriando” a renda transferida via benefícios sociais ou via crédito aos cofres do Estado na forma de impostos. Como se viu, este enxugamento colabora para uma ausência crônica de poupança incremental das famílias, que estaria disponível – de modo agregado – para financiar investimentos produtivos. Sem investimentos não há empregos. Sem empregos, os filhos da classe média decadente tornam-se ainda mais dependentes do crédito consignado de seus pais e avós. O ciclo vicioso se fecha, produzindo como resultado inequívoco o progressivo empobrecimento da classe média e dos menos pobres entre os pobres.

Déficit Fiscal: aprofundando a desigualdade em favor dos mais ricos

Como se não bastasse o padrão do gasto público revelar-se antipobre, o Governo incorre recorrentemente em déficit, emitindo dívida pública para fechar a conta. De janeiro a junho de junho de 2007, o total dos gastos com pagamento dos juros da dívida pública alcançou o incrível montante de 80 bilhões de reais, valor dez vezes maior que o orçamento total destinado ao principal programa social do Governo, o Bolsa Família. Ao operar cronicamente no vermelho, o Governo eleva o preço de reserva (prêmio de juros) requerido pelos agentes de mercado dispostos a financiar a rolagem da dívida pública, elevando o custo de oportunidade dos poupadores em transferir recursos para investimentos produtivos com taxas de retorno mais baixas. Por outro lado, esteriliza suas rendas no pagamento do serviço da dívida, reduzindo sua capacidade de investimento social, além de transferir rendas em favor de rentistas que em nada contribuem para elevação da produtividade total e para o crescimento de longo prazo. Ao fazer-se refém de si mesmo, O Governo “gastão” produz um tipo ainda mais trágico de crowding out, uma vez que tolhe sua própria capacidade de preencher o espaço deixado pelo investimento privado. A perda da capacidade estatal de investimento em infra-estrutura inviabiliza a ação do Estado em projetos onde a escala de operação encontra-se abaixo da mínima escala eficiente que despertaria o interesse de concessionários privados. Este tipo de situação ocorre especialmente no atendimento às populações mais pobres das periferias das grandes cidades e no interior. Sem alternativa, as populações marginalizadas procuram obter o provimento de tais serviços através de expedientes informais e ilegais, em geral mais custosos que os regulares. Instala-se o crowding-out promotor de desigualdade.

O grande desafio: para além do tamanho e dos limites de atuação do Estado

Geração após geração, o processo de alocação de recursos escassos operado através da discricionariedade estatal teimou em desenhar políticas, programas e incentivos incapazes de fazê-los chegar aos beneficiários corretos. Via de regra, resultou no franqueamento dos aparelhos públicos em favor de elites políticas, econômicas e corporações. É tarefa urgente romper com este padrão. A sabedoria popular reconhece que “o diabo não é esperto porque é diabo, mas porque é velho. E seu estratagema principal é convencer aos crédulos que ele não existe”. O grande desafio dos liberais democratas não reside na batalha em torno da velha discussão acerca dos limites do Estado, porque há muitos crédulos que acreditam que o Estado máximo, não existe. Nossa verdadeira missão civilizatória nos trópicos é revelar que o Estado brasileiro – porque capturado pelas elites que o controlam e por incapaz de escapar a esta captura face ao seu gigantismo – tem por natureza agir sempre em favor dos que dele não precisam.

Silvério Zebral Filho
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