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domingo, 25 de maio de 2008

O fantasma das Farc ronda o encontro da esquerda latina em Montevidéu

Por Diogo Schelp, jornalista da Veja, na cbertura da reunião do Foro de São Paulo em Montevidéu


As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) estão presentes no Foro de São Paulo. Não, não há nenhum terrorista com uma credencial onde se lê “Farc-EP” andando pelos corredores do Edifício do Mercosul, em Montevidéu, onde ocorre o encontro. Mas a cada vez que algum dos participantes toma a palavra nos debates e toca no assunto Colômbia, percebe-se a presença das Farc – na forma de argumentos que tentam justificar sua existência e na incapacidade de condenar com firmeza os crimes cometidos pelo grupo.
Representantes das Farc já participaram em várias edições do Foro de São Paulo. Há muitos anos se sabe que o grupo tem ligações com o narcotráfico, vale-se de métodos desumanos de recrutamento e mantém centenas de pessoas seqüestradas. Há poucos meses, no entanto, os detalhes desses crimes e a maneira atroz como os seqüestrados são tratados vieram à tona e ficou impossível para quem apoiava as Farc negar os seus crimes. Nesse contexto, seria de esperar que o Foro de São Paulo se manifestasse de maneira contundente e inequívoca contra o grupo que já fez parte de suas fileiras. Não é o que está acontecendo. No plenário que ocorreu no sábado, dia 24, à tarde, por exemplo, um representante do PRD (o partido de Lopez Obrador, ex-candidato presidencial no México) fez um discurso em que disse: “Queremos que as Farc sejam reconhecidas como força beligerante, para que possam ter participação política no processo colombiano.” É exatamente o que as Farc querem e é exatamente o que o presidente venezuelano Hugo Chávez tem defendido desde que ficou evidente seu vínculo com o grupo.

Crítica – A única crítica contra as Farc, até agora, foi feita por Carlos Gaviria, ex-candidato à presidência da Colômbia pelo Pólo Democrático Alternativo. Mas Gaviria restringiu-se a dizer que discorda dos métodos dos grupos armados colombianos e em nenhum momento citou as Farc nominalmente. Ao final, relativizou os crimes dos terroristas dando a entender que eles têm motivação social. Eis alguns trechos do discurso:
“Temos uma dificuldade, que é a luta armada. Para nós, consiste em um desgaste de energia permanente cada vez que temos que manifestar que não concordamos com a luta armada. De que é preciso buscar a conformação de uma sociedade democrática pela via do debate público, pela via eleitoral. Eu sempre acreditei que essa é a única via para conseguir as reformas substanciais que nossas sociedades necessitam. Há alguns anos, éramos taxados de utópicos por isso. Eu, que tenho feito uso de uma ética incompatível com o uso da força e de uma filosofia política que se orienta dessa mesma forma, tenho que estar permanentemente fazendo esse tipo de manifestação. Que desgaste tão inútil de energia! Agora mesmo, aqui, um jornalista me perguntava se eu deploro os crimes cometidos pela guerrilha ou pela insurgência na Colômbia. Incomoda-me que me façam essa pergunta. Toda a minha vida estive comprometido com a defesa dos direitos humanos, e o Pólo também está.”
“A luta insurgente, com seus atos rechaçados por toda a sociedade, tem contribuído para dar mais estabilidade ao regime [de Uribe].”
“Hoje, eu acho que os utópicos são os que acham que na América Latina pode triunfar um movimento armado. De maneira que não unicamente por razões de ética de filosofia política, como também por questão de viabilidade, esta via está descartada para nós.”
“Mas o que faz o governo? Todos os dias, nega que haja um conflito armado na Colômbia. Claro que tem que negá-la, porque se assume, a pergunta seguinte é: e quais são os fatores que geraram esse conflito? Entre esses fatores, é preciso enumerar a pobreza, a distribuição desigual da riqueza, a exclusão, e o governo não quer saber nada disso. Então nega a existência de um conflito armado, contra toda a evidência. Temos que identificar qual é o nosso verdadeiro adversário e não gastar energia destroçando-nos entre nós mesmos.”

Mentiras – Segundo explicou a VEJA María Belela Herrera, uma ativa participante do foro que até recentemente ocupava o cargo de vice-chanceler no governo do presidente uruguaio Tabaré Vazquez, as Farc não comparecem ao encontro esquerdista desde sua última edição brasileira, em 2005. Antes disso, os terroristas não só participavam dos encontros do Foro de São Paulo, como faziam intervenções freqüentes nos debates – em geral para contar mentiras, como dizer que não têm ligação com o narcotráfico.
No encontro em Montevidéu, por exemplo, está à venda um livro chamado “Debates e propostas da esquerda para o século XXI” que contém o conteúdo das principais discussões ocorridas no sétimo e no oitavo encontros do foro. Está lá, por exemplo, o conteúdo de uma oficina com o tema “O narcotráfico na América Latina e no Caribe”, em que os representantes das Farc conseguiram que fosse incluído, no documento final do debate, um texto de Raúl Reyes, do Secretariado do Estado Maior Central das Farc. Sim, trata-se do mesmo Reyes que foi morto por uma operação do exército colombiano, este ano.
Eis um trecho de seu texto: “É necessário repetir que as Farc-EP não compartilha, não negocia, não tem relação com o narcotráfico, que rechaçamos por princípio e por ética, porque é incompatível com a democracia e a convivência cidadã”, etc. Em outra oficina, com o tema de “Negociação e processos de paz na América Latina”, há um resumo do discurso feito por um dos terroristas. Eis um trecho curto: “Por último tomou a palavra Marco Leon Calarcá, representante das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (Farc-EP), que afirmou que não pode existir uma verdadeira paz se forem mantidas as condições de miséria e injustiça que sofre o povo colombiano.” Guarda uma certa semelhança com parte do discurso feito no atual encontro por Gavíria.

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