Do Blog do Noblat de 12/5/2008
Mais uma lambança em tempo real
Você abre os jornais ou acessa sites de notícias e está lá contado com a maior naturalidade do mundo: o governo negocia com José Aparecido Nunes Ferreira, chefe da Secretaria de Controle Interno da Casa Civil, os termos do futuro depoimento dele à Polícia Federal e à CPI do Cartão Corporativo.
Aparecido vazou o dossiê sobre despesas do governo Fernando Henrique Cardoso para André Fernandes, seu amigo e assessor do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). Receia o governo que Aparecido revela informações que possam comprometer a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil.
Que informações poderiam ser essas? Por exemplo: que Dilma mandou montar o dossiê. Ou que ele ouviu de Erenice Guerra, Secretária-Executiva da Casa Civil, que recebera ordem de Dilma para confeccionar o dossiê. Se cooperar com o governo, Aparecido escapará de sanções administrativas.
Quer dizer: acompanhamos quase em tempo real uma operação do governo para ocultar ou distorcer a verdade a respeito de um dossiê destinado a chantagear a oposição e fazê-la baixar a bola dentro da CPI que investiga eventuais abusos cometidos por portadores de cartão corporativo.
Está em curso outro chantagem: cobra-se silêncio do funcionário que vazou o dossiê em troca da não punição dele em algum processo administrativo.
E aí? Que tal? Tudo bem? É assim mesmo que procede um governo que se apresenta como sério, cioso de suas obrigações?
Confesso que leio e escrevo sobre tudo isso com um profundo enfado. Não quero perder a capacidade de me indignar com o que julgo errado. Mas pelo menos há 26 anos, desde que passei a acompanhar a política de perto, escrevo mais ou menos sobre as mesmas coisas. E só faço me repetir.
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